(Play na música.)Capítulo: Yin & Yang.
As janelas do quarto faziam um barulho incômodo devido a força da ventania, que chacoalhava a madeira parcialmente aberta e, por conseguinte, fazia com que as cortinas vermelho e dourado dançassem flutuando no ar.
Apesar dos ruídos, Gulf nada ouvia.
É inquestionável dizer o quão pensativo o príncipe parecia estar nos últimos dias, especialmente com relação a tudo que vinha acontecendo em sua vida pessoal.
Kanawut ainda possuía aquela sensação cortante dentro do peito. Conhecia muito bem o sentimento.
Liberando um suspiro pesado, repousou em seu criado mudo mais uma das três cartas que recebera do duque desde que o rapaz fora para o reino aliado prestar condolências em nome de toda Morpork.
Tinha pouco mais de dois dias desde a última vez em que esteve com Mew Suppasit. Bom, não podemos dizer que ele não sentia a ausência do outro, mas mais do que isso, Kanawut carregava uma preocupação ainda maior em seu peito.
Um punhado delas, para ser honesta.
Talvez, preocupação nem mesmo fosse a palavra correta, dada a forma como se sentia. A grande realidade, é que o mais novo estava severamente se punindo. Gulf parecia... Sorumbático.
E sim, possuir tal sentimento não lhe trazia boas sensações. No fim das contas, aquilo sempre assumia o controle de sua consciência.
Para sua desgraça, era um suplício ser o tipo de pessoa que não consegue simplesmente esquecer das situações as quais teve de passar ao longo da vida. Do que precisou aguentar ou manter em segredo até mesmo do homem qual ama, por medo de ser repreendido. Medo de ser rejeitado.
Ele próprio se rejeitava, por que Mew não o faria? E, por mais que tentasse não sustentar esse sentimento amargo dentro de si, tinha algo no seu subconsciente que o fazia lembrar daquilo, puxando-o de volta para aquele maldito lugar.
A percepção era sempre a mesma, de afundar-se cada vez mais num poço sem fundo, caindo, se afogando dentro daquela água escura e fétida. E tinha aquela maldita mão cadavérica que o puxava para as profundezas, de tal modo que era capaz de sentir a pressão dos dedos esqueléticos pressionando seu tornozelo.
A gaveta ainda estava aberta, Gulf permanecia com a carta entre seus dedos, completamente estático ante o móvel de madeira.
O clima cinza e gélido do lado de fora do palácio nunca lhe fora tão conhecido e... incômodo. O vento assoviava, as folhas das árvores do jardim farfalhavam umas nas outras em uníssono. O som da natureza, naquele momento, parecia tocar numa parte sensível e exposta de sua derme.
Pela primeira vez desde o momento em que entrara no cômodo, seus pêlos eriçaram-se. No entanto, tal reação não fora suficiente para desperta-lo de sua letargia.
Seus olhos estavam abertos, fixos para um ponto qualquer da parede branca cuidadosamente adornada por boiseries dourados. Gulf sentia a ardência atingir suas orbes, entretanto, não piscava. Estava preso dentro de sua própria cabeça.
Tudo era silencioso, mas ao mesmo tempo, muito barulhento. Se qualquer outra pessoa estivesse no mesmo ambiente que ele naquele momento, certamente ouviria o grito de sua alma, pois, sim, havia algo ali dilacerando suas entranhas e, ainda que não conseguisse empurrar sua voz para fora de sua garganta, sua alma gritava.
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SweetHeart - O Príncipe e o Duque| MewGulf
FanfictionSweetheart lhes contará uma história de amor proibido; Gulf Kanawut, o jovem Príncipe de Morpork, vivendo no ano de 1800, tendo suas várias responsabilidades como herdeiro ao trono, guarda um segredo. Mew Suppasit, filho do Duque e futuro herdeiro...