Capítulo 37

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Minhas mãos tremem enquanto bato a porta do meu escritório atrás de mim, tropeçando até a mesa sem acender as luzes.

Eu me movo para sentar na minha cadeira, mas imediatamente mudo a direção até que estou encarando a linha do horizonte de Seattle da minha janela.

Racionalmente, eu sei que o que vi foi uma mulher se forçando em uma outra mulher.

Racionalmente, eu sei que Gizelly não iniciou o beijo.

Racionalmente, eu sei que se não estivéssemos mantendo nosso relacionamento em segredo, eu teria ido até elas, dado um tapa no belo rostinho de Juliette e exigido uma explicação de Gizelly.

Racionalidade seria muito bom agora. Mas, quando você vê algo assim tão terrível de doer o coração, uma repetição da performance da qual você trabalhou tão duro para se proteger, irracionalidade parece ser a emoção dominante.

Nada machuca tanto quanto o sentimento da traição. Pergunte-me, eu sei.

Minhas costas enrijecem quando a porta do meu escritório abre suavemente, e então fecha com um clique. Eu ouço a tranca se virar e depois o som das minhas cortinas sendo fechadas.

Eu sei que é Gizelly sem nem mesmo olhar. Eu sabia que ela me seguiria. Eu queria que ela fizesse. Eu precisava dela.

- Rafa - Meu nome ecoa dos seus lábios no silêncio que nos cerca.

O que eu esperava ouvir era remorso suave. O que eu esperava ouvir era culpa paralisante. Isso, no entanto, não é o que eu estou ouvindo. O que estou ouvindo é confiança, meu nome dito em exigência.

Eu me viro para encará-la, surpresa pela sua arrogância e curiosa para ver sua expressão. Ela parece calma, calculista e não tão afetada por tudo isso como eu estou.

Eu quase ofego, mas não dou a ela a satisfação.

- Por favor, sente-se - Ela indica para a minha cadeira.

- Não - Eu balanço minha cabeça, endireitando meus ombros em desafio.

- Rafaella - Ela avisa lentamente, fazendo minha pele formigar - Sente-se.

Dessa vez eu fico de boca aberta, mas, por alguma razão, também obedeço.

Minhas pernas levam meu corpo entorpecido para a cadeira, e eu me abaixo nela, mantendo meu olhar sem emoção no dela.

Posso ver seus ombros relaxarem infinitamente pela pequena vitória. Eu quero zombar dela, mas não faço isso. Eu não tenho a energia.

Posso sentir minha mente fechada. Posso sentir minhas paredes subindo em defesa. Eu estive aqui antes, meu corpo reconhece isso.

- Você sabe o que viu - Ela fala lentamente, dando um passo medido na minha direção.

Eu fico olhando para ela fixamente, negando suas palavras.

- Você sabe que viu Juliette vindo até mim - Ela continua, nada incomodada pela minha falta de reação.

Eu a observo exausta enquanto ela se aproxima como uma predadora, rondando em direção à sua presa.

- Você sabe que foi unilateral - Ela dá outro passo para mais perto - Você sabe que não foi recíproco.

Minha mente lentamente fecha cada porta que Gizelly tem trabalhado tão forte para abrir.

Eu pisco, surpresa com o quanto é fácil simplesmente voltar a não sentir nada, fácil e reconfortante, como um cobertor velho.

- O que você estava fazendo com ela no elevador? - Minha voz é estéril de emoção, soando vazia e sem vida no silêncio que nos cerca.

A Proposta (Girafa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora