Capítulo 44

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Já não tinha mais nenhuma aula nesse dia e estava complicado livrar-me de Luke, no entanto consegui dizendo-lhe que tinha de estar um pouco sozinha. O rapaz não saía de cima de mim e, no entanto, eu sentia-me mal por estar a fazer o que estava a fazer, apesar de sentir que era o melhor para mim.

Às vezes custa, mas temos de ser um pouco egoístas. Não podemos só pensar no bem dos outros, nem pensar que eles são pessoas diferentes do que na realidade são. Temos de ver muito bem as pessoas, muito preto no branco, perceber o que precisamos de perceber quanto ao carácter dos seres humanos e não os florear.

Apesar de não querer estar já a fazer juízos de valor, não conseguia fazer as coisas de outra forma. Por um lado, até saber tudo o que se passava, queria manter-me neutra no assunto, mas eu não conseguia ficar a olhar para Luke da mesma maneira, sabendo que, depois de tudo o que tínhamos passado juntos, ele tinha feito uma coisa tão absurda, algo que ainda por cima já tinha cometido no passado.

Custava-me acreditar que ele tinha voltado ao mesmo, que tinha feito de novo o mesmo, porque afinal se trai é porque nunca sentiu a sério algo pela pessoa, certo? Estou errada ao pensar que trair é a maior estupidez que o ser humano pode cometer? Quando estamos com uma pessoa é porque queremos estar. Não temos contracto, não somos obrigados a estar juntos. É muito difícil para quem trai acabar antes com a pessoa com quem está? Para lhe poupar o sofrimento de se sentir um lixo, se sentir a mais no mundo e sentir que não serve para nada? Porque era isso que eu sentia. Sentia que, depois do que tínhamos passado juntos, nada fazia sentido. Depois de dois anos de amor, dois anos partilhados com ele, mesmo que não me lembrasse de muita coisa, como poderia ser ele capaz de deitar tudo ao lixo desta forma? Se ele já não me queria, se ele já estava virado para outra, porque não acabou logo comigo? Mesmo que custasse, mesmo que fosse algo que lhe doesse porque acredito que seja complicado fazê-lo depois de dois anos, ainda por cima eu estando numa fase complicada. Mas se o problema era esse, teríamos de ter uma conversa os dois, uma conversa muito séria. Mas não agora, pois primeiro precisava de saber as coisas como elas eram.

Estes pensamentos consumiam-me enquanto andava até ao café ao pé do centro comercial escolhido por Sophia. Ia com os fones nos ouvidos a ouvir as músicas dos meus primos, absorvida em todos os meus pensamentos. Ainda bem que gostava de andar a pé, pois aquilo era longe e eu tinha deixado o telemóvel em casa para chamar um táxi. Mas andar fazia-me sentir bem e esquecer o mundo à volta.

Chegando ao café depressa encontrei a loira espampanante que era a Sophia. Ela acenou-me com um ar sério, mas com um sorriso nervoso. Sim, nervoso, não o cínico do costume.

Tentei expressar o menor possível os meus nervos ou simpatia e sentei-me à sua frente.

- Gus, traz-nos dois cafés se faz favor. - a rapariga pediu a um rapaz que trabalhava ali, tendo um avental branco com o nome do café, Morrison's.

- Então é este o teu café? - perguntei, visto que ela era Sophia Morrison.

- Sim, e o Gus é o meu irmão mais velho. Quer dizer... da parte do meu pai.

- Ah, és filha do casamento que o teu pai tem agora? - perguntei por perguntar, apenas para falar de algo antes de partir logo para o assunto.

- Não, o meu pai já vai na quinta mulher. A do Gus foi a segunda e a minha foi a terceira. - Sophia encolheu os ombros.

- Ah... - respondi sem prestar atenção.

- Fui indelicada, desculpa. Queres mais alguma coisa para além do café?

- Ah não, obrigada. Chega-me perfeitamente.

- Está bem então, se quiseres pede ao Gus para trazer... Vamos ao assunto que nos interessa?

Amnesia {portuguese}Onde histórias criam vida. Descubra agora