Capítulo 9

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Depois do médico, fui para casa dormir, e só acordei no dia seguinte à hora que supostamente devia estar a almoçar. Não foi lá grande coisa a consulta, foi mais para o médico conhecer o caso (o que achei grande falta de profissionalismo visto que isso se costuma fazer antes das consultas). Sinceramente achei que nem no futuro estas consultas me poderiam fazer algo, mas teria de confiar nos profissionais mesmo que o seu profissionalismo seja bastante duvidoso. Preferia esperar que a minha cabeça voltasse simplesmente ao normal depois de ter enfrentado o trauma.

Andei à procura de uma mercearia ou mini-mercado por ali e encontrei um mesmo na rua abaixo da minha. Comprei alguns ingredientes e fui para casa fazer uma salada porque, apesar de não comer há muito tempo, não tinha fome absolutamente nenhuma, parecendo que tinha as paredes do estômago coladas. Até para engolir a salada foi a terceira guerra mundial.

Mexia no telemóvel de hora em hora, e nada de sinais de Luke ou Liz. Nada de nada. Parecia que nem existiam. Fiquei na minha cama, sem saber o que fazer, e tive uma ideia. Deitei-me, fechei os olhos, e concentrei-me. Estava a tentar encontrar respostas a todas as minhas dúvidas. Estava a tentar encontrar a minha memória. Quanto mais esforço fazia mais dores de cabeça criava, parecendo que percorria um labirinto e ia sempre contra a parade.

Quando estava prestes a desistir ouvi risos. Risos na minha mente. Uma festa onde Bradley dançava comigo e me rodopiava, cantando-me uma música ao ouvido apesar de ela estar a dar na festa quase nos rebentando os ouvidos. Estar na praia com Luke e repreendê-lo por estar a olhar para as outras raparigas. Puxar Luke para mim e morder-lhe o lábio. Um almoço em família de onde saí a correr e aos gritos, com Luke atrás de mim. A Kelly de pijama na sua cama a atirar-me uma almofada e a rir, fazendo piadas sobre um rapaz qualquer. Estar no cinema com um grupo enorme de pessoas.

Abri os olhos. As dores de cabeça tornavam-se insuportáveis. Fui tomar um comprimido e o meu telemóvel tocou. Desta vez era só uma mensagem:

Não pensava que iria ser tão rápido o nosso reencontro, mas gostava que me viesses buscar a mim e à minha banda ao aeroporto prima. Pega num táxi e vem, eu pago. Podes passar a noite connosco no hotel cinco estrelas e tudo!

Respondi de seguida:

Quando é que é?

A resposta não tardou:

Agora, estamos a tirar as malas!

Pensei duas, três, quatro vezes. Decidi que não tinha nada a perder e, por isso, apanhei o tal táxi para ir ver o meu primo e a sua banda que eu nem sabia qual era. Quando cheguei vi montes de raparigas aos gritos a fazerem uma roda no meio do parque de estacionamento e percebi tudo. Tentei abrir caminho entre elas levando com empurrões e cotoveladas. Estava prestes a gritar a uma rapariga quando um par de mãos me agarraram nos braços e me puxaram para um abraço super apertado.

- Meu anjo, há quanto tempo! - olhei para o meu primo. Um chapéu preto e uma camisa de xadrez foi logo o que me saltou à vista. Mas o sorriso querido dele quando se afastou demonstrou-me um carinho imenso, quase familiar. Abracei-o com força.

- Olá primo.

Ele sorriu imenso e encheu-me a cara de beijinhos.

- Como estás tu? Como tens passado? - parecia que tinha criado um bolha connosco lá dentro, porque as raparigas gritavam histéricas e os amigos estavam... digamos... em sarilhos.

- Ó Brad, anda lá rápido! - diziam eles enquanto acenavam carinhosamente às fãs, mas notando-se que não estavam com muita vontade de ficar ali durante muito tempo.

Amnesia {portuguese}Onde histórias criam vida. Descubra agora