Capítulo 4

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Esperei apenas cerca de um quarto de hora por ele, já do lado de fora do prédio. Quando chegou, entrei logo dentro do carro com os olhos encharcados de lágrimas. Ele olhou para mim com ar preocupado e puxou-me para o seu colo, abraçando-me.

- Que se passa boneca?

Inspirei fundo imensas vezes antes de conseguir proferir uma frase sem soluçar.

- Querem que eu volte para casa.

- Então amor, mas eu não disse que era para ficares em minha casa. Eu e a minha família iríamos adorar, tal como antes, mas é normal eles quererem-te em casa.

- Não... não estás a perceber.

Olhou para mim e finalmente compreendeu a verdade que não estava a querer ver.

- Não. – exclamou. - Não, não pode ser.

- Pode e é verdade. Eles querem levar-me com eles. Quer dizer, a minha mãe...

- Mas tu não podes ir! Não queres ir, pois não?

- Achas? Eu quero ficar aqui. Eu quero lembrar-me de tudo, não quero começar do zero. A minha mãe diz que devia ir, aliás, ela na verdade obriga-me a ir.

- Obriga-te como? Sempre lhe deu jeito que estivesses aqui! Não podes ir! Nem o médico te vai deixar que isso aconteça, não faz sentido nenhum para a tua recuperação.

- Que se lixe o médico. – choraminguei. – Eu não quero ir embora.

Luke pegou-me no rosto, fazendo-me fitar os seus olhos azuis, marejados de lágrimas.

- Acredita que se me dissessem que o melhor para ti e para a tua recuperação fosse começar tudo de novo, eu deixar-te-ia ir. Mas eu sei que não é, não pode ser. Tu precisas de te lembrar.

- Eu não vou. Nem iria se fosse o melhor, que se lixasse isso. Eu não iria deixar tudo para trás. Eu não te iria deixar a ti para trás.

Luke olhou-me nos olhos durante um longo momento de silêncio, o qual quebrei ao ir para o banco do pendura de novo, limpando os olhos com as costas da mão.

- Leva-me daqui do meio da rua, por favor.

- Para onde queres ir? – perguntou, limpando também as suas lágrimas.

- Sei lá, embora daqui.

- Tive uma ideia. – pôs-me o cinto e conduziu a viagem toda com a mão sobre a minha, tirando apenas para fazer as mudanças.

Levou-me a um parque. Para dizer a verdade, parecia mais uma floresta, com caminhos pedestres de terra batida, com enormes árvores por todo o lado. Saímos do carro sem dizer uma palavra e Luke levou-me por um caminho para o meio das árvores. Era sossegado e ao menos não estava tanto calor debaixo daqueles gigantes verdes.

- O que estamos aqui a fazer? Isto é lindo. – estava maravilhada com tamanha beleza. Sentia-me dentro de um sonho, à espera que me aparecessem fadas à frente ou algo do género de Terabithia, parecendo que fazia parte da própria natureza.

Luke reparou na minha expressão de encantada e sorriu com as mãos nos bolsos.

- Eu sabia que irias gostar de vir aqui, sempre gostaste.

- Já me tinhas trazido aqui? – sentei-me num tronco de árvore caído, que parecia há muito ser utilizado como banco.

- Na verdade, foste tu que me trouxeste aqui pela primeira vez. Adoravas vir aqui escrever, a ouvir o som dos pássaros, e eu gostava de te fazer companhia em silêncio. Ficava horas e horas a ver-te escrever. – sorriu-me e sentou-se a meu lado.

Amnesia {portuguese}Onde histórias criam vida. Descubra agora