Capítulo 3

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No caminho, foi-me explicando algumas coisas que achou relevantes saber quanto à sua família e a sua casa, enquanto Liz suspirava por ter sabido que eu iria sair do hospital tão em cima da hora, uma vez que queria poder convidar os seus outros dois filhos, mais velhos que Luke, para irem jantar connosco. Quando chegámos, já sabia todos os nomes que não me podia esquecer quando os voltasse a ver.

Entrámos numa casa grande e acolhedora, mas as únicas coisas que conheci foram as escadas e o corredor para o quarto de Luke. Liz ainda me perguntou se eu queria ir dormir para o quarto de hóspedes, mas não me pareceu fazer sentido, uma vez que Luke nunca tinha saído de perto de mim.

Sentei-me na cama e ele ajudou-me a encostar de maneira confortável, sempre com um sorriso nos lábios. Trouxe-me um tabuleiro com comida feita pelo pai, que me veio cumprimentar e desejar uma boa noite, e sentou-se ao lado a comer também. Falámos durante horas sobre pequenos detalhes da minha vida, principalmente do nosso namoro. Esforçou-se ao máximo para me fazer sentir confortável perto dele, e preocupou-se em contar-me pequenos momentos que nos juntaram, especiais para nós e coisas que me fizessem feliz.

- Já são onze horas, horas da princesa dormir o seu sono de beleza.

Ri-me e fiquei a olhar para o quarto enquanto ele foi vestir um pijama à casa de banho. Vi algumas molduras com fotografias minhas ou de nós dois espalhadas pelos móveis e prateleiras.

- Toma, veste isso. – sorriu-me e estendeu-me uma t-shirt dele super larga. – Estarei lá fora à espera que te vistas.

Saiu do quarto e esperou que me vestisse e lhe dissesse que podia entrar. Quando o fez, já estava deitada e à espera dele. Olhou para mim e sentou-se do outro lado da cama.

- Posso?

- Claro, a cama é tua.

Deitou-se a meu lado com medo de se aproximar e estendeu-me a mão. Entrelacei os nossos dedos e cheguei-me um pouco mais perto, fazendo-o esboçar um enorme sorriso.

- Olha...

- Sim?

- Achas que te posso dar um beijo de boa noite? Sei que desde que acordaste que, bem, ainda não tivemos nenhuma intimidade dessas mas está a ficar difícil para mim e eu quero-te respeitar e...

Não o deixei acabar, beijando-o da forma mais carinhosa que consegui, tentando expressar que, apesar de não me lembrar dele, sabia que queria que acontecesse.

*****

Na manhã seguinte, acordei sozinha no seu quarto, com uma enorme dor de cabeça. Sentia os meus pensamentos turvos, com imagens pouco claras diante dos olhos. Sonhei com um campo com flores, com o corpo de Luke junto ao meu num duche, um gato a dormir a meu lado no sofá, um carro a vir contra um vidro. Gritei ao acordar, a transpirar e a tremer. Agarrei-me com força aos lençóis, tentando em vão parar com aquele sentimento dormente. Pareceu tão real. Como se não fosse um sonho, mas sim uma lembrança.

Passado muito pouco tempo, Luke apareceu vindo da casa de banho, de toalha na mão, a escorrer água.

- O que se passou?! Estás bem?! Dói-te alguma coisa??

Olhei para ele atordoada e puxei-o para um abraço, não ligando ao facto de apenas a minha roupa separar o meu corpo do dele. Comecei a chorar.

- Oi? Então amor? O que é isso? – limpou-me as lágrimas. – Não te quero a chorar.

- Eu... acho que me lembrei de alguma coisa.

Olhou para mim, espantado.

- Lembraste-te do quê?!

Amnesia {portuguese}Onde histórias criam vida. Descubra agora