Curves, Curls and Sands

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27 de Fevereiro de 1998

Uma semana se passou, mas não levou embora os pesadelos de Draco. 

Sentado sobre um rochedo, ele observava Hermione de longe, andando vagarosamente pela beira do mar, sozinha, como fazia naquele horário todos os dias desde que chegaram ao Chalé das Conchas. Draco olhou para o lado com uma velocidade exagerada, um costume que adquiriu ao longo dos últimos dias, e avistou a sombra da meia de Harry Potter balançando com o vento, onde ele sepultou Dobby.  

Draco cresceu com Dobby ao seu redor, sempre tentando diverti-lo de algum modo, ainda que para isso precisasse se chocar com a parede ou ceder aos seus caprichos. A morte do Elfo lhe trouxe boas lembranças, embora viessem embaraçadas com o  desconfortável remorso. Ele queria poder culpar os seus pais por seus erros, cada um deles, por ter sido uma criança desagradável e tempestuosa, por cada maldade que saiu de sua boca, pelas dores que infligiu a Dobby por mero prazer, mas, infelizmente não podia. Chorou durante o restante da madrugada quando ele morreu. Suas lágrimas eram tantas e ininterruptas que Molly Weasley se compadeceu de sua vulnerabilidade, encerrando a discussão que se desencadeou no Chalé assim que ele atravessou a soleira, por último, atrás de Olivaras, o vendedor de varinhas. 

O primeiro a ir para cima dele foi um dos gêmeos, ele não sabia qual exatamente, mas percebeu que o rapaz tinha apenas uma orelha. Hermione se colocou em sua frente, como um escudo cheio de caracóis embaraçados. Os bruxos ali presentes se calaram por alguns segundos, com olhares pasmos, e voltaram a discutir com mais ímpeto logo em seguida, enquanto Draco desmanchava-se em lágrimas. Foi o seu último "contato" - se é que se pode chamar assim - com Hermione desde aquele dia. A primeira tentativa aconteceu durante a manhã do mesmo dia em que chegaram, quando Bill Weasley os guiava pelo segundo andar, mostrando os quartos que eles iriam ocupar. Hermione andava há alguns passos à sua frente, com o rosto encharcado e escorada em Harry Potter, que a envolvia pelo ombro. Draco acelerou o passo e pegou os dedos dela, um pedido silencioso para que conversassem, porém, ela simplesmente desvencilhou os dedos dos dele, sem ao menos olhar para trás, e desde então, ele não teve mais coragem de se aproximar.

Draco suspirou. Ficar ali, olhando para ela era masoquismo, ele sabia, mas não se controlava. Não mais. O Sol começara a se pôr quando ela parou de andar, virada para o mar e de costas para ele, Hermione ergueu o braço para secar  - o que ele supôs ser - uma lágrima com a manga de seu suéter branco. Seus cachos balançavam violentamente com o vento, e o céu, que alguns segundos atrás era de um laranja intenso, agora era uma mescla de roxo e azul. Draco se colocou em pé, com as mãos nos bolsos, e suspirou mais uma vez. Então Hermione caiu de joelhos, dobrando-se em desespero, e ele não pensou duas vezes; desatou a correr pela areia escura. O som do choro de Hermione chegou em seus ouvidos antes que ele chegasse à ela, o que só o fez acelerar mais a corrida, e assim quando a alcançou, ele simplesmente se abaixou, mais devagar do que o necessário por culpa da insegurança, e levou sua mão ao rosto dela, por debaixo dos cachos que a escondia de seus olhos cinzas e assustados. Hermione não ergueu o rosto, continuou soluçando e chorando, e Draco só queria que parasse de doer nela. Sentiu-se culpado mais uma vez, a bile ameaçou vir à medida em que a repulsa por si mesmo crescia, e sem saber o que fazer, ele sentou-se e a puxou para o seu colo, embalando-a como uma criança. Beijou os cachos dela com os olhos marejados e ali permaneceu, com os lábios apoiados em seus cabelos, tentando respirar, tentando se manter inteiro enquanto ela desmoronava em seus braços.

. . .

Não sabia quanto tempo havia passado, mas a maré começava a subir, as ondas vinham cada vez mais próximas as suas pernas, quando ela quebrou o silêncio: 

– Eu não quero ser essa pessoa – Hermione disse em voz baixa, erguendo o rosto para olhar para ele – eu não quero traumas, não quero os pesadelos, nem que essa cicatriz me defina pelo resto da vida ou chorar por ela todas as vezes em que eu me olhar no espelho. Eu não posso viver à mercê dessas coisas, Draco. Não posso…

Escolhas Irreversíveis - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora