"Damn it, Hermione!"

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17 de Março de 1997

O clima era gélido, o vento assobiava nos ouvidos de Draco, que abraçando o próprio corpo descia pelo gramado em direção ao deque que ladeava uma extremidade do Lago Negro, onde vira Hermione lendo da Torre de Astronomia. O clima o deixava ainda mais pálido e seus olhos mais escuros, quase azul. Combinava com o seu sobretudo azul marinho e sua expressão séria. A ocasião pedia seriedade. Como explicaria à Hermione que ele tampouco compreendia seus impulsos? Demorou um pouco para alcançá-la por causa de seu andar vagaroso. Queria adiar o máximo que pudesse qualquer conversa embaraçosa sobre sentimentos que não conhecia e relações complicadas. Todavia, querer e poder eram palavras que não cabiam mais em sua vida. Hermione estava de costas para ele, suas pernas pendiam para fora do deque, seus pés à centímetros da água sombria, ela usava um gorro marrom escuro de pompom e um casaco da mesma cor. Quase a cor de seus olhos quando o clima esfriava. Draco se aproximou em silêncio e sem aviso se acomodou à madeira envelhecida ao lado de Hermione, a qual ergueu os olhos de seu livro para olhá-lo, só apercebendo-se da presença do rapaz naquele segundo.

- Não apavora você, saber que têm sereianos nadando a poucos metros abaixo dos seus pés? - Draco puxou conversa, encarando a água escurecida.

- Apavora você?

- Um pouco ... Há coisas mais "apavorantes" por aqui com o que me preocupar.

- Por exemplo?

- Você, Granger - Draco disse guiando seus olhos para ela, pegando-a desprevenida.

- Eu apavoro você? - Hermione indagou, analisando-o com curiosidade.

- Não exatamente - Draco começou hesitante, sua voz rouca pelas palavras emaranhadas em sua língua, pigarreando ele concluiu: -, mas o que você desperta em mim.

Hermione não pareceu surpresa com a admissão, um suspiro escapou de seus lábios e ela quem teve de desviar os olhos.

- Também me apavora.

Um sussurro, que embora quase inaudível, reverberou em cada célula do corpo de Draco.

- Curioso você dizer isso, eu soube por aí que é destemida, Granger. - Draco disse, deixando um meio sorriso singelo aparecer.

Seus olhos se cruzaram de novo e âmbar em suas íris parecia líquido. Todo o seu organismo pareceu fazer o inverso do que deveria quando às orbes quase douradas de Hermione fixaram-se às suas. Olhou-o como se pudesse enxergar sua alma e - para a surpresa do sonserino - apreciasse o que via. Se encaravam há alguns segundos quando ela devolveu o meio sorriso, um pouco sem graça. Inconscientemente os seus olhos desceram para os lábios de Hermione e ele mordeu o seu próprio. Seus sorrisos esmoreceram e a expressão de ambos passou a ser cobiçosa. Lembrou-se do gosto de sua língua; da sua boca macia movendo-se em uma sincronia ensandecida com a dele; suas mãos pequenas passeando por seu abdômen ... Seu coração acelerou com a expectativa de reproduzir o ocorrido da madrugada. Então um burburinho de vozes o arrancou de seu devaneio e Draco desviou os olhos para a origem do som, deparando-se com alguns alunos da Corvinal descendo para o deque.

- Quer sair daqui? - O Sonserino sugeriu, volvendo seus olhos para Hermione.

Draco se colocou em pé e ofereceu a mão para ela, que mordendo a boca aquiesceu com a cabeça e a pegou, apoiando-se para se levantar. Por alguns segundos quis permanecer com os dedos de Granger emaranhados aos seus, mas as vozes dos alunos que se aproximaram ganharam coerência, e ao menos para ele, seria demasiado embaraçoso andar de mãos dadas por aí. Não por ela, por si próprio. Todas aquelas sensações e vontades eram precoces demais para ele. Sendo assim, optou por recolher sua mão e colocá-la em segurança em seu bolso.

Escolhas Irreversíveis - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora