Slow Process

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30 de Março de 1997

Tensão. 

Quase dois dias sendo consumido pela ansiedade. Era a hora do café da manhã, o Salão Comunal era preenchido por conversas e risadas, pressão demais para Draco, que mal conseguia comer seus ovos mexidos com Dumbledore ali, à mesa dos professores. O que a sua presença queria dizer?! Slughorn havia lhe dado o Hidromel ou não? E se soubessem sobre o veneno? Ou pior, que ele é quem havia armado aquilo? Eram questões que o afligiam sem misericórdia.

— Posso? 

A voz de Hermione o arrancou de seu - provável - colapso mental. Draco ergueu a cabeça, deparando-se com a Granger atrás de si. Queria sorrir para ela como ela sorria para ele mas as circunstâncias não deixaram, apenas esboçou um repuxar de lábios e deu espaço para a cacheada. 

— O que deu em você? — Draco indagou com curiosidade. 

Hermione deu de ombros. 

— Digamos que eu acordei querendo mudar um pouco de cenário. 

— Foi o melhor que conseguiu pensar? — Draco riu.

A maioria dos olhos naquele Salão agora pairavam sobre eles, as conversas diminuíram, e embora as pessoas os vissem pelos corredores, conversando ou dividindo a mesa em algumas aulas, aquela era uma aproximação nova para quem observava. 

Hermione limitou-se a um dar de ombros, e apanhou uma maçã da mesa, mordendo-a logo em seguida. Draco passou a odiar maçãs desde que colocou uma em seu armário  sumidouro e a mesma regressou com uma mordida. Relembrar o episódio lhe deu náuseas. 

— Quer sair daqui? — Draco sugeriu de repente, esforçando-se para engolir o nó em sua garganta. 

Hermione o olhou nos olhos e como se pudesse ver a ansiedade ameaçando-o por trás de suas orbes cinzas e dispersas, levou sua mão a dele, onde enroscou seus dedos e os pressionou aos seus, concordando com a cabeça. Draco se viu exposto. Ninguém nunca havia enxergado o desespero que envolvia suas íris, seu corpo, sua alma; ninguém, absolutamente ninguém, nem mesmo sua mãe! Até que ela o despiu, o acuou, e ainda assim, a sensação que era para ser desconfortável trouxe um pouco de alívio a ele. 

. . .

Era impossível ver o Sol ou sequer saber as horas apenas olhando para o céu. A neblina era densa, o vento cortante, e logo veio a cabeça de Draco que até o fim do dia nevaria. Embora o deixasse melancólico algumas vezes por fazê-lo pensar demais em sua casa - a qual não era mais exatamente sua -, apreciava a neve. 

— Gosta de neve? — Draco se pegou perguntando à Granger, rompendo o silêncio que perdurava há quase uma hora desde que deixaram o salão.

Hermione não quis incomoda-lo com indagações, e ele também não quis incomoda-la com "meios desabafos", uma vez que não poderia revelar a real razão de sua angústia. Dividindo um pequeno espaço embaixo de uma árvore próxima ao Lago Negro e o silêncio confortável de ambas as presenças, não houve necessidade de iniciar uma conversa até aquele exato segundo de reflexão. Queria saber do que ela gostava, queria que ela o distraísse com o seu sutil embaraço - que sempre aparecia quando surgia um assunto que envolvia dizer coisas sobre ela mesma. 

— Gosto mais de chuva — Ela respondeu, brincando com seus próprios dedos. 

— Chuva me lembra infância, era o único momento em que eu podia agir como uma criança normal e correr pra cama da minha mãe com medo dos trovões — Draco concluiu rindo pelo nariz, sem humor algum.  

Lembrava-se bem de como era um covarde desde pequeno e de como sofria por isso. Não era sempre que seu pai deixava que ele dormisse na cama do casal, e sempre esperava a madrugada para ir se enroscar em meio aos braços e o edredom da mãe. O medo passava tão rápido, que parecia bobagem em meio a sonolência e aconchego. Hermione sempre arrancava coisas dele sem a menor intenção, ele só não sabia classificar ainda se era um dom ou uma maldição, uma vez que ela poderia fazê-lo dizer coisas das quais ambos iriam se arrepender  depois. 

Escolhas Irreversíveis - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora