Screams

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15 de Julho de 1997

O banheiro era um bom lugar para se esconder, a água era segura e acolhedora, e Draco se deixou escorregar para baixo dela, até que cobrisse o seu rosto. De olhos selados, a pele mais alva que o normal e com um hematoma roxo escuro em sua bochecha, a cena vista de cima era desesperadora.

Trágica. 

Ele reproduzia em sua cabeça palavras que exalavam socorro, com pena de si mesmo e de sua deploração, querendo convencer-se de que era possível sair daquela posição.

"Levanta, você consegue, você consegue".

Ele não conseguia. Seu cérebro parecia desconexo de seu corpo. 

"Levanta! Porra, levanta!" 

Em um rompante ele se ergueu, derramando água e com a respiração acelerada. Esses anseios de simplesmente desaparecer o acompanhava desde que a ouviu pela última vez. 

. . . 

Havia algo no ar naquela manhã. 

À medida em que Draco descia os degraus para a sala principal da Malfoy Manor, a sensação crescia, era quase palpável, quase visível. Ele atravessou o cômodo incomodado, os pelos de sua nuca se arrepiaram  quando a risada escandalosa de Rodolphus ecoou em seus ouvidos, vinda da sala da copa - que era aonde ele ia. Nos últimos dias apenas os Comensais de liderança permaneceram em sua residência, os melhores em lamber o saco do Lord das Trevas, ocupando assim, a posição de "favoritos" do mesmo. Posição essa que seus pais perderam e que ele mal chegou a alcançar. Sua missão agora era motivo de chacota, uma piada além de apenas um revés, ainda que Dumbledore não respirasse mais. 

O mérito era do seguidor mais confiável de Voldemort, seu padrinho, o honroso Severus Snape!

A credibilidade de sua família deixou de ser uma possibilidade, era real e cruel. Draco lidava com os deboches da melhor maneira possível: extravasando-se no álcool e respondendo seus acusadores com o seu sarcasmo mais ácido. Foi assim que conseguiu o roxo em seu rosto. 

— Bom dia, querido — Sua mãe o recepcionou em voz baixa, assim que passou pela soleira da copa.  

— Bom dia — Ele respondeu simplesmente, correndo os olhos pelo lugar como quem analisa.

Sentados à mesa estavam, Rodolphus, ao seu lado Dolohov e o sexto marido da Sra. Zabini, Darwin Brown - o único daquele cômodo para o qual Draco ainda dava algum crédito em consideração ao melhor amigo, que se afeiçoou ao bruxo ao ponto de chamá-lo de pai -,  à cabeceira da mesa estava Lucius, que não se dispôs sequer a olhá-lo. 

— Veio para o café? — Sua mãe indagou, fazendo com que ele guiasse seus olhos para ela novamente. 

— Era, mas acabei de mudar de ideia. 

— Draco…

Draco suspirou. 

— Posso pedir para que um dos elfos prepare aquelas panquecas com creme de abóbora — Narcisa acariciou o cabelo de seu primogênito com um tímido sorriso, como se ali só houvessem os dois — ou se quiser, eu mesma preparo, como quando era pequeno, querido. 

Uma risada baixa e anasalada de escárnio soou, fazendo com que o rapaz corasse sem qualquer domínio  sobre a vergonha que o apossou. Não por sua mãe ou sua incomum demonstração pública de carinho, mas por não poder reagir dando uns bons socos. 

— Está aí a razão do moleque ser um frouxo, você mima ele demais. — À voz de seu pai era acre, assim como sua expressão, e seus olhos absurdamente semelhantes aos do mais novo, caíram sobre Draco como uma sentença de desprezo. 

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