Rivals

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14 de Março de 1997

Estúpido.

Imbecil.

Fraco.

Covarde.

Acusações que rondavam sua cabeça progressivamente. Palavras que ele mesmo invocou para vexar-se. Fechava os olhos e regressava àqueles poucos segundos em que teve Hermione tão próxima. Um convite que deveria ser irrecusável, mas que só um parvo como ele deixaria passar. E agora, restava remoer-se por sua ação boçal. Altruísmo ou egoísmo? Beijá-la poderia gerar consequências terríveis para ambos, mas, se realmente pensara em poupar Hermione Granger ou só a si próprio ele ainda não sabia dizer.

Perdeu seis horas de sono pragando-se por seus “e se?”. Primeiro vinha a expectativa, depois a desilusão, e por último a decepção. Era errado deixar sua imaginação à mercê da lembrança dos lábios rosados de Granger, era errado querer, mas ainda assim nada parecia mais errado do que não aplacar sua necessidade de prová-la. 

15 de Março de 1997

Disperso, Draco andava sozinho pelo corredor do sexto andar, à caminho do sétimo, para a Sala Precisa. O período de aulas daquele dia havia sido desgastante. Masoquismo não era para ele, definitivamente, mas ainda assim não deixou de olhá-la cada mísera aula, corredor e lugar em que era obrigado a conviver com a sua presença. Hermione por sua vez não colaborou com o seu - lastimável e quase inexistente - autocontrole; quando flagrava as orbes cinzas sobre si não desviava olhar. 60 segundos exatos! Então, o contato visual passava a ser insustentável. Olhá-la e desejá-la, para ele, era o maior de seus pecados. Alcançou uma escada e subiu alguns degraus, até que com um solavanco a mesma deslocou-se de seu lugar. Encostou-se no corrimão e pensei a cabeça para trás, à espera. Mesmo sem vê-la, Hermione não saía de sua cabeça e seu estômago revirava em recordar-se de seus últimos segundos com ela sob seu refúgio. A escada parou com um baque surdo, arrancando-o de seus devaneios. Draco subiu os degraus que restavam e parou quando chegou no sétimo piso, olhou ao redor, resignado pressionou a ponte do nariz usando o polegar e seu indicador, dando-se conta de que a maldita escada o levara para um lugar do Castelo em que nunca esteve. 

— Droga! — Grunhiu, enervando-se. 

Depois de poucos segundos ponderando se regressava para seu dormitório ou não resolveu seguir para a Sala Precisa. Não deveria ser tão longe. Pondo as mãos no bolso retomou a caminhada, dessa vez em passos mais rápidos, deixando o mau-humor se apossar de si. O corredor pelo qual andava era absolutamente desconhecido, com saídas para esquerda e direita há alguns metros à frente e com algumas salas que pareciam abandonadas há séculos. Iria virar o à esquerda quando o som de alguma coisa pesada caindo ecoou no vazio do corredor. Parou, franzindo o cenho, e olhou por sobre o ombro. Houve mais um ruído seguido de um guincho, e Draco virou-se de vez, apurando os ouvidos em busca de respostas que pudessem originar o som. Deu poucos passos até a sala mais próxima e espiou através das frestas empoeiradas do mógno. Não havia nada além de móveis - provavelmente - cobertos por lençóis. Então, vindo do fundo do corredor ouviu-se um berro abafado. Sem pensar duas vezes ele avançou por onde viera, apreensivo, com o corpo arrepiado, sem saber a razão. Estava quase chegando à escada novamente quando ouviu alguém chorando e logo em seguida a voz odiosa carregada de escárnio de McLaggen sobrepondo-se: 

— Ninguém irá ouvir você. 

Draco puxou sua varinha do cós da calça e caminhou devagar até a madeira que trancava a sala de onde veio o choramingo e a voz. Encostou a orelha no mogno e pôde distinguir o som de algo se rasgando, acompanhado por um gemido exasperado. 

Escolhas Irreversíveis - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora