11|Vai ficar tudo bem

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"A verdade é que ninguém está vindo para salvar você..."

Depois de levar um belo sermão do diretor fui liberado então voltei para casa. Pensei mil vezes em mudar a rota e ir para um lugar qualquer, mas sei que isso só irá piorar minha situação. Provavelmente meu pai já me espera em casa, pronto para ''resolver as coisas do jeito dele''.

Respirei fundo antes de destrancar a porta e assim que entrei em casa vi meu pai sentado no sofá com uma garrafa de bebida posta na mesinha de centro e um copo de whisky em mãos. Ele está furioso e eu posso perceber isso apenas pela sua feição e pelos dedos que não param de tamborilar a poltrona de couro.

—Achei que não voltaria — ele disse dando um ultimo gole e logo se levantando — que história é essa de bater nos alunos mais velhos e gritar com o diretor? Desde quando criou coragem para fazer esse tipo de coisa? — nem eu mesmo sei.

—Desculpa, eu não soube me controlar — abaixei a cabeça evitando olhar em seus olhos, esse olhar poderia me perfurar tão fundo quanto uma faca — Não vai acontecer de novo — Ele riu.

—É bom que não aconteça, mas não posso te deixar sair impune — sua mão segurou meu braço com tanta força que senti meu músculo se contrair — vamos resolver isso lá em cima — meu corpo foi arrastado pelas escadas e eu já sei o que acontecerá a seguir.

Ele abriu a porta do meu quarto com força e me jogou no chão. Bati a cabeça no pé da escrivaninha que o que me fez ficar levemente zonzo. Ele se ajoelhou em minha frente e acertou meu rosto com um tapa que ardeu como nunca.

Ele não disse uma única palavra, mas me olhou com tanto desgosto que me fez ter certeza de que essa noite não será fácil. O cheiro do álcool é tão evidente em seu hálito que me faz querer vomitar, mas eu não posso me levantar daqui. Terei que aguentar tudo, como sempre fiz.

Ele voltou a me bater depois de um longo minuto me encarando e a cada soco ou tapa eu senti meu corpo perder as forças.

—Saiba que ninguém nunca vai ser idiota o suficiente para permanecer ao seu lado, eu também não irei permitir — senti como se essa frase tivesse esmagado todas as esperanças de meu coração. Eu sei que ele realmente cumprirá com sua promessa e isso me assusta muito — Espero que você tenha aprendido uma lição — ele disse finalmente parando e levantando afastando-se de mim — boa noite, filho.

Cínico. Como ele pode ser tão cínico? Como ele ainda tem coragem de me chamar de filho?

Ignorei a ultima frase dele tentando espantar todos os pensamentos de minha mente e me esforcei para levantar. Todo meu corpo doí.

—Canalha — sussurrei indo até o banheiro pegar a caixinha de primeiro socorros que fica escondida.

Fiz alguns curativos e me joguei na cama. Permiti que todas as lágrimas presas escapassem, não posso mais guardar nada disso, está me matando. Me consumindo por completo.

Me arrastei até a ponta da cama esticando o braço alcançando a gaveta da escrivaninha. Caminhei com minha mão pela gaveta até encontrar aquilo. A carta.

Disseram pra me livrar disso, mas eu não consigo. Não posso.

Essa carta faz eu me sentir mais próximo à ela, é como receber um abraço toda vez que eu leio aquela frase.

''[...] eu ainda vou estar com você, te acompanhando independente de onde esteja... ''

—Estou tentando te deixar ir... tentando superar, mas isso é tão difícil de lidar — suspirei secando meu rosto — ainda não me acostumei com a ideia de que não vou poder sentir seus braços me envolvendo num abraço muito menos suas mãos fazendo carinho nas minhas para me acalmar de uma crise ou algo do tipo. Eu só... Sinto sua falta — sem que eu percebesse comecei a chorar, chorar muito e soluçar, mais uma crise se iniciou. A ansiedade tomou conta do meu corpo e eu sou incapaz de controla-la.

Me sentei e abracei minhas pernas com força.

—Vai ficar tudo bem.

..........
Espero que estejam todos furiosos ou chorando (brincadeira gente,amo vcs) 🏃❤️

Ghost (Yeongyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora