16|Sorvete

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''Você é incrível mesmo carregando feridas que quase ninguém sabe''

Estou sendo arrastado por vários metros. Fico intrigado com os motivos de Yeonjun, até agora não compreendo a verdadeira intenção dele em estar sendo tão gentil comigo. Talvez ele seja só mais um que tem dó pelo que aconteceu, mas por algum motivo que desconheço sinto que não. Naquele dia no parque ele pareceu realmente me entender. Tudo isso me confunde muito porque eu disse que aceitava ser seu amigo, mas agora me pergunto se foi uma boa escolha.

—Como assim enfermeira já foi embora?! Você tem certeza? — sai de meus pensamentos confusos quando ouvi uma pequena discussão entre um funcionário e o loiro que permanece agarrado ao meu pulso.

—Sim garoto, já disse! Ela saiu mais cedo hoje. — um homem de meia idade vestido com um uniforme acinzentado respirou fundo enquanto dizia. 

—Tá, então eu posso entrar só pra limpar o machucado dele? — O garoto apontou pra mim depois voltou seus olhos ao senhor — É rápido, eu prometo! — insistiu até que o zelador concordasse.

Fomos à passos ligeiros até a enfermaria, o homem abriu a porta então Yeonjun me puxou consigo para dentro — Não vou demorar. Depois devolvo a chave, okay? — o de cabelo grisalho apenas assentiu com a cabeça indo embora.

Entramos então ele fechou a porta indo até um pequeno armário de remédios e alguns curativos.

—Por que tá me encarando, ein? — Fiquei quieto durante todo o percurso e só percebi que estava encarando Yeonjun quando ele perguntou. Desviei o olhar me sentindo envergonhado por isso. Ele me olhou por alguns segundos depois se virou novamente procurando algo no móvel branco

—Tá, vamos cuidar logo disso aqui. — ele desviou o olhar também e pediu silenciosamente para que me sentasse na maca então fiz.

E se ele for algum tipo de mafioso disfarçado que quer me sequestrar, mas antes precisa fingir ser meu amigo? Talvez eu faça parte da missão dele. Ou talvez ele pretende me usar para fazer suas tarefas de casa. Ou pior ainda, ele só quer fazer amizade, como qualquer outra pessoa comum. 

Acontece que desde o momento que vi Sojin morrer percebi meu coração se fechando para tudo. Não é algo que eu consiga controlar, o que é muito estranho. Tenho que assumir que sinto medo. Medo de me apegar, medo de perder, medo de me sentir sozinho depois. As vezes parece que me manter isolado sem mais ninguém é melhor que conhecer alguém e ter que me desprender depois.

—Achei! — ele se virou sorridente, como uma criança depois de finalmente encontrar seu brinquedo favorito. Yeonjun puxou uma cadeira e se sentou na minha frente com alguns itens em mãos. — Talvez arda um pouquinho, mas vai passar rápido — me encarou com biquinho nos lábios. 

Ele começou a passar um pequeno pedaço de algodão úmido com antisséptico em meu nariz e um pouco na bochecha, que assim que entrou em contato com minha pele fez-me afastar por instantes, evitando a dor. 

—Não se meche, vou acabar enfiando isso no seu olho!

—Mas ardeu! — resmunguei

—Tá, tá! Fica parado e eu acabo rapidinho — conduziu meus ombros colocando-me mais próximo. Permaneci estático, um tanto quanto incomodado pela proximidade. Sua respiração sopra em meu rosto. Ele parece concentrado no que está fazendo, enquanto eu analiso cada detalhe de seu rosto. 

Na realidade sempre fui muito perceptivo e analista, gosto de gravar os detalhes mais marcantes das pessoas e tenho que dizer que Yeonjun tem muitos. Seu rosto parece ter sido milimetricamente esculpido, seus pequenos olhos são fofos e seus lábios carnudos e bem definidos. Ele em si é muito bonito, não posso negar. 

—Pronto! — se afastou jogando os algodões fora e me analisando por completo — hmm, isso aqui vai ficar marcado se não cuidar — ele passou os dedos pela marca vermelha em meu rosto, virando-o um pouco — acho que aqui tem alguma pomada pra isso — se levantou e voltou a vasculhar o armário, não demorando muita para retomar seu lugar com uma embalagem em mãos. Ele colocou um pouco do fluido sob dois dedos e aplicou em meu rosto. Espalhou o creme gelado por toda extensão do meu queixo até quase os olhos, onde estava avermelhado pelo tapa de mais cedo.

—Obrigado — disse me levantando da maca quando ele terminou, vendo-o fazer o mesmo — pelos cuidados e também por ter me ajudado mais cedo. — terminei um pouco sem graça

—Tudo bem, eu não ia conseguir ver aqueles idiotas batendo em você por motivo nenhum. De qualquer forma, foi meio que culpa minha — passou a mão pelos cabelos, rindo soprano 

—Porque seria culpa sua? — fiquei confuso

—Eu dei um jeito de convencer o diretor a punir eles pelo que fizeram, provavelmente acharam que foi você quem fez isso

—Espera, você o que? Mas como? aquele velho nunca escuta ninguém — e não menti, o diretor nunca escuta ninguém, muito menos os alunos. E ainda mais por se tratar de mim, ele não é do tipo piedoso ou justo, faz o que dá na telha.

—Bem, não é pra me gabar, mas eu sempre fui muito ativo na escola e por isso ele gosta de mim. Pra ser sincero sei que ele só faz essas bondades uma vez no ano, mas quis usa-la mesmo assim

— Então esse é o segredo? — ri — Bem, obrigado então. Estou te devendo várias

—Eu ficaria satisfeito com um sorvete! Se me pagar um, perdoo sua dívida — me fez rir, é engraçado como Yeonjun é direto e bem humorado, gosto disso.

[...]

No final acabei pagando três sorvetes para Yeonjun. Descobri que ele é um apaixonado por choco menta, bem oposto a mim. Também notei o quão descontraído ele é, o assunto nunca morre.

Há cerca de uma semana Yeonjun veio com o papo de ser meu amigo e desde o último ocorrido percebi que ele pode ser uma boa pessoa. 

—Caramba, já está tarde — me assustei assim que vi o relógio marcando 18:40 — preciso ir —levantei-me rápido, imaginando a bronca que posso levar caso meu pai esteja em casa 

Acenei de uma forma exagerada para o mais velho enquanto caminhava o mais rápido possível pelas ruas um tanto quanto movimentadas. Sinto-me mal por não ter agradecido direito, nem me despedido como deveria, mas terei problemas maiores caso chegue mais tarde do que poderia em casa.

.......

é isso gente, atualizei de repente e espero não sumir, mas caso isso aconteça saibam que foi o maldito bloqueio criativo.

Espero que tenham gostado. Novamente não ficou exatamente como eu queria,mas acrescentei coisas que mudam muito o rumo da história,por isso estou organizando os pensamentos aqui kkkkkkkkkkk

Ghost (Yeongyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora