''Os olhos tristes mais lindo que já vi'' - Joab Brandão
— Beomgyu! Ei garoto, acorde! — uma voz feminina soou pelos meus ouvidos. Sinto-me atordoado com a claridade assim que abro os olhos. Quando finalmente percebi não estar mais em um sonho, me deparo com Dalia, a governanta. Há tempos não a via, pelo que sei ela se afastou por motivos familiares, então me sinto surpreso por tê-la aqui.
Dalia é alguém em quem posso confiar. Diversas vezes ela me ajudou com os machucados, ou até mesmo a dar algumas escapadas de casa quando estava trancafiado como a rapunzel.
Assim que apoio a mão no chão para me levantar sinto o pulso arder, assusto-me ao perceber o quão machucado estou e por impulso tento esconder os ferimentos, recebendo uma risada sem graça da mais velha.
—Acha que eu já não notei isso? — Indagou — Não deve estar sendo nada fácil — Ela acariciou meus cabelos por um longo minuto, passando-me uma sensação estranha de muito conforto — Eu fiquei sabendo do que aconteceu com sua amiga...sinto muito por isso e sinto também por não ter estado aqui quando as coisas estavam complicadas. Por mais que se sinta sozinho,saiba que eu estou aqui novamente,como nos velhos tempos — Sinto algumas lágrimas se formarem em meus olhos, mas as engulo. Não consigo parar de encará-la e lembrar de minha mãe. É uma comparação estranha já que elas não são nenhum pouco parecidas, porém Dalia sempre me faz lembrar da palavra mãe. Ela sempre traz-me a sensação de aconchego, conforto.
— Não sinta, você não tem culpa de nada disso — parei de encará-la e finalmente consegui me levantar. Olho para o relógio de relance e me assusto com o horário, já que estou completamente atrasado. Corro para o closet procurando uma peça de uniforme, mas assim que vou em direção à porta sou barrado pela mulher.
—Onde pensa que vai sem nem ao menos cuidar desses cortes? Vai manchar sua camiseta branca...Apenas cobrir não é certo — Disse como se já soubesse que sempre escondi os hematomas, e agora cortes, com longos moletons.
A morena me puxou para o divã, fazendo-me sentar e logo indo até o banheiro, voltando com uma pequena caixinha branca em mãos. Ela não disse mais nada, nem olhou em meus olhos, apenas cuidou de tudo como se eu fosse seu filho.
O silêncio me deu tempo para pensar sobre o que aconteceu. Fui consumido pela dor de tal forma que fui capaz de me machucar deste modo. Agora me restam marcas e além disso, a dor, que contrario de que pensei ainda se mantém aqui, presa ao meu peito como uma farpa presa ao dedo de um velho marceneiro.
—Obrigado — disse quando ela terminou, recebendo um sorriso caloroso de volta. Me levantei e desci as escadas apressado, nem ao menos comi, até porque não sinto fome.
Assim que abro a porta me deparo com Yeonjun sentado na calçada, balançando a cabeça enquanto escuta algumas de suas músicas preferidas. Só deduzi isso porque ele dança como um pombo todas as vezes que sua playlist preferida toca.
Respirei fundo, armando meu melhor sorriso para recebê-lo no momento. Depois dos problemas dos últimos dias não quero que ele se preocupe à toa.
—Bom dia, cookie — abriu os braços, logo me colocando em um abraço caloroso
—Bom dia, junnie. Estava com saudades de ver você aqui todo dia de manhã — apoiei o rosto em seu ombro, sorrindo silenciosamente. Eu realmente senti muita falta disso.
Começamos a caminhar o mais rápido que podemos já que estamos atrasados como de costume. Minha cabeça está cheia, tão ativa que quase caí duas vezes. O caminho para a escola parece ter o dobro de buracos agora.
Mesmo que todo o percurso tenha sido silencioso, me sinto confortável por estar com Yeon, mas estranha-me o fato de ele estar calado, talvez ele tenha notado que pelo menos hoje prefiro ficar quieto.
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Ghost (Yeongyu)
FanfictionBeomgyu perdeu a pessoa mais importante para si de uma forma muito repentina. Uma promessa foi quebrada, Sojin não estaria mais lá como disse que estaria. Sua vida parecia estar acabada, os problemas com seu pai ficavam cada dia piores. Não parecia...