25| Não pode fugir para sempre

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''Todos têm um capítulo que não leem em voz alta''

— Beom — yeonjun sussurrou segurando minha mão na sua. Estamos sentados há alguns minutos em um banquinho na praça do parquinho, apenas admirando as crianças correrem e brincarem.

— Sim?

— Quando vai parar de fingir que está bem e que essas malditas marcas foram causadas por acidentes? — foi direto da forma que sempre é, mas desta vez me senti empacado para responder.

Eu sei que Yeonjun tecnicamente sabe a verdade, mas prefiro escondê-la.

Doeria falar sobre isso, já que era apenas Sojin quem sabia de tudo. Pior seria mostrar o quão fraco e impotente sou.

Encarei seus olhos que logo desviaram dos meus. Ele quer saber, mas não quer ser tão evasivo, sei que sim. Também sei que ele quer me ajudar, mas como eu poderia retribuir isso? Como eu poderia retribuir tudo que recebo?

— Não, não faça isso comigo — encarei os pés e retirei minha mão da sua. Não consigo tomar outra atitude a não ser fugir do assunto e das situações que fazem-me sentir impotente.

— Não pode fugir pra sempre — voltou a puxar minha mão para seu colo — Sabe que eu sei, mas por que ainda mente?

Mas eu quero, porque este parece ser o único modo de diminuir o sofrimento em que me encontro.

— Porque odeio o fato de não ser capaz de mudar a merda da minha vida — soltei de uma vez.

— Então me diga tudo que tem guardado aqui dentro, tudo que faz seu coração doer. Você prometeu que faria — apontou o indicador em meu peito, sem tirar os olhos dos meus. Talvez eu seja apenas mais um hipócrita mentiroso, yeon. — me diga, porque quero te ajudar. Gyu — soltou um longo suspiro — eu sei que tem muitas coisas que tem estilhaçado sua alma em pedacinhos, então por favor me deixe ajudar. Só quero ver seus olhinhos brilhando mais vezes, cookie. Eu só quero te ver feliz —
Me deixe ajudar. É uma frase que ele já falou repetidas vezes para mim, mas nunca a levei completamente ao pé da letra, não quero ser um fardo que ele carrega para lá e pra cá.

— Se já sabe, por que quer que eu diga algo? — me encarou, posso sentir a dor no fundo de seus olhos

— Porque por mais que eu queira, não sou telepata! — disse em tom brincalhão, mas sei bem o que quer dizer — Todos esses sentimentos e palavras que você tem guardado estão te corroendo, sei que sim.

— Acontece yeon, que odeio ficar me lamentando e dizendo o quão ruim meu pai é, odeio ficar dizendo que sinto falta de Sojin, dos momentos bons, que sinto falta de mim mesmo. Quero manter tudo o que é explosivo aqui dentro — apontei para o peito — tenho medo de novamente ser como uma bomba atômica, e destruir tudo que está em minha volta. inclusive você, yeonjun — seus olhos começaram a brilhar, cobertos por lágrimas

—Há quanto tempo está escondendo isso? — apontou para um arranhão em meu pulso, que já está quase cicatrizado. Sei que ele não se refere apenas ao machucado em questão

—Desde que minha mãe morreu e isso faz muito tempo... — voltei a encarar o céu. Sei que essa é uma conversa que teríamos um dia, só não pensei que seria tão complicado assim — quando aquilo aconteceu eu só tinha sete anos.

Ele não disse mais nada, talvez porque já tenha ouvido tudo o que precisava. Ele sabe como dói falar de alguém de quem sentimos falta.

Yeonjun também precisa de ajuda, porque querendo ou não há momentos em que sentimos ainda mais a dor da perda.

Nos dias em que nos lembramos repentinamente da pessoa ou de lugares e coisas que fazíamos junto delas.

Tocar, por exemplo, tem sido algo que me faz falta, mas tenho medo de sentir com ainda mais intensidade a dor da perda. Eu tenho cada vez mais medo, porque cada dia mais percebo que nunca mais vou vê-la e que dificilmente minha vida vai mudar.

Ghost (Yeongyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora