7|O adeus definitivo

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''A dor faz as pessoas mudarem..''

Já faz dois dias.

Dois dias desde que ela se foi.

Dois longos e doloridos dias sem ela aqui.

Me pergunto diariamente se é real.

Eu ainda não acredito.

Hoje é o dia do velório. Nunca vi a senhora Kim tão triste. É devastador porque ela é como uma mãe para mim e eu odeio vê-la chorar.

Eu sei que ela nunca foi uma pessoa fácil. Eu sei o quanto estava sendo difícil para Sojin lidar com todo o peso que ela colocara sobre os ombros da filha, mas ela está sofrendo muito com tudo isso.

Também nunca vi a irmã de Sojin chorar tanto. Seu irmão mais novo não foi, a mãe dele preferiu assim, até porque seria doloroso demais para ele vê-la sem vida em um caixão.

Eu não consigo comer, não tenho fome.

Não durmo porque não sinto sono.

Eu não tenho vontade de fazer nada.

Ficamos horas sentados olhando para aquela foto rodeada por flores. Como eu poderia me despedir assim tão depressa?

Um homem vestido com um terno preto e luvas brancas entrou na sala e disse algo que eu não fiz questão de ouvir, estou absorto pelos meus pensamentos de tal forma que me desprendi do mundo real.

—Está na hora de ir­­ — A mãe de Sojin disse apoiando a mão em meu ombro.

Me levantei devagar e a segui, iremos levar o caixão para o cemitério.

A cerimónia foi longa. Várias pessoas decidiram ir visitar a senhora Kim para dizer palavras reconfortantes, então eu fiquei apenas observando tudo até que decidi tomar um ar. Quero ficar sozinho por um tempo.

Coloquei flores em cima do túmulo dela e quando estava prestes a deixar o local ouvi uma voz feminina me chamar

—Beomgyu! — a senhora kim veio até mim em passos arrastados — Preciso te entregar algo — suspirou e tirou um envelope meio amassado do bolso de seu hanbok.

—O que é isso? — Intercalei meu olhar entre o papel em suas mãos e seus olhos

—Eu encontrei no quarto dela e tem seu nome escrito atrás, é pra você —disse simplista e entregou-me o envelope

Eu não reagi, apenas peguei o papel de suas mãos e a vi se afastar e voltar para perto dos familiares.

Era uma carta para mim?

Algo com uma despedida, talvez?

Coloquei no bolso e voltei a caminhar até a parte mais afastada do jardim do cemitério. Apesar de o local em si parecer assustador o jardim é incrivelmente bem cuidado e colorido. Eu apenas me sentei em um banco e coloquei meus fones, preciso pensar sobre muita coisa.

Ghost (Yeongyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora