38|jogo sujo

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"É engraçado eu não suportar ficar perto de algumas pessoas nem por alguns segundos,mas querer ficar o resto da vida com a cabeça encostada em seu ombro"
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Confesso ter dormido muito mal nesta noite, levei horas para pregar o olho porque não conseguia parar de chorar e pensar em como reverter essa situação. Yeon me ligou ontem, mas não consegui dizer muito. Tentei segurar o choro durante a ligação, disse que estava tudo bem e que ele não precisava se preocupar porque eu estava bem, mas tudo não passava de uma mentira. Meus pensamentos estavam gritando alto, me deixando maluco.

Vez ou outra me lembrava do que aconteceu mais cedo, de como Yeonjun me beijou, de como eu queria beijá-lo mais, mas instantaneamente me sentia mal porque precisarei fazer algo que vai partir seu coração. O que eu menos quero é machucá-lo novamente. Já agi com muita frieza com ele há tempos atrás e não quero fazer isso novamente, não quero que ele chore, não quero que ele sofra de forma alguma. Yeonjun disse que queria estar comigo, que queria me ajudar, mas nesse momento nada poderá resolver a situação. A sensação de não poder fazer nada é horrível, odeio me sentir tão fraco e incapaz de proteger quem eu amo.

Perto do horário marcado para o almoço comecei a me arrumar. Apesar de não querer e não ter interesse algum em me reunir com pessoas que provavelmente são semelhantes ao meu pai, todos complacentes por puro interesse, que só precisam obedecer e compactuar com todos os seus pecados para conseguir alcançar níveis mais altos. Pela janela pude ver carros de luxo parando em nossa porta e saírem homens de terno e suas mulheres em trajes elegantes. Não levou muito tempo para que Dália viesse ao meu quarto depois que os executivos chegaram

—Está se sentindo mal? — perguntou quando me viu sentado no divã. Apenas neguei com a cabeça. Na realidade o que me consome é o medo e a ânsia para me ver livre de tudo isso.

— Deixe-me colocar sua gravata — Pegou-a, se aproximando. Me levantei para que ela pudesse colocá-la — Vai ficar tudo bem..— deu o nó com um sorriso delicado no rosto, tentando me deixar mais tranquilo

Me olhei no espelho e por um instante senti todo o meu corpo se contorcer. Me arrepiei por inteiro quando percebi o quão parecido fico com meu pai ao vestir trajes como este.
Isso me enoja.
Me dá calafrios pensar em ser parecido com ele de alguma forma.

—Ele ameaçou machucar Yeonjun se eu não fizer o que ele quer…— disse, como um pensamento alto, sentindo a voz ficar presa na garganta. Mal consigo falar sem chorar mais. Dália me olhou espantada, prestando muita atenção  em minhas palavras — Ele vai tirar de mim o que me é mais importante — lágrimas começaram a descer lentamente

—Sinto muito, querido — secou meu rosto com o polegar, segurando meu rosto — Ele te machucou ontem de novo? — neguei

—Eu não aguento mais passar por tudo isso — o choro aumentou, ao passo que sinto meu peito apertar só de lembrar daquelas palavras

'' Eu faço, mas minhas mãos continuam limpas ''
Isso me deixa tão assustado. Ele é capaz de qualquer coisa e eu jamais me perdoaria se algo ruim acontecesse com Yeonjun por culpa minha, por não ter feito nada para protegê-lo.

—Tudo bem, não guarde mais essa dor só pra você — me consolou, fazendo-me chorar ainda mais

—Dália, eu gosto muito dele. Eu gosto muito do Yeonjun…— me sentei no divã novamente, levando a mão ao peito porque dói, dói muito. Ela não disse mais nada, apenas acariciou minhas costas enquanto eu chorava feito criança. A olhei pedindo um abraço silenciosamente e mesmo sem palavras ela entendeu a mensagem pois não demorou muito para me segurar em seus braços. Me sinto um pouco mais tranquilo por ter ela comigo. De seus olhos emanam uma energia acolhedora, como se pudesse garantir que tudo ficará bem, mesmo na pior situação possível.

Ghost (Yeongyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora