19|Atrasados

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''Controle suas emoções, mas não as prenda. Uma hora tudo explode''

Acordei atrasado, vesti o uniforme como louco, quase colocando os pés de meia um de cada cor e sai sem nem ao menos comer.

Nada muito fora da rotina.

Abri a porta e levei um susto

— O que você tá fazendo aqui, seu doido? — Yeonjun se levantou da escada de entrada

— Bom dia pra você também, cookie — Sorriu um tanto quanto irônico — Eu vim pra irmos juntos pra escola, é bom ir se acostumando — Revirei os olhos como se não gostasse da ideia.

Na verdade, vai ser bom ter companhia para ir até o inferno, mais conhecido como escola. Às vezes alguns garotos me provocam no caminho, apenas para fazer a merda que eles chamam de brincadeirinha matutina.

Depois que quebrei um braços há um ano em uma briga, Sojin me fez prometer que não bateria em mais ninguém. Admito que já quebrei essa regra uma única vez após a morte dela. É estranho porque pareço ter perdido controle de certas coisas desde aquele dia, às vezes nem consigo me reconhecer depois de falar ou tomar algumas atitudes violentas.

— Hmm — engoliu um gole de seu mocha enquanto caminhamos — Quer? — esticou o braço olhando para mim — Tá muito bom

— Eu passo, não gosto de mocha — enruguei o nariz, o que já se tornou uma mania que faço toda vez que vejo, sinto ou escuto algo que me deixa enjoado.

— Como assim você tá recusando um mocha do Liter, é realmente um louco — Riu zombando de mim.

— Yeon, cuidad... — Antes que eu pudesse tirá-lo da direção dos cavaletes de sinalização ele caiu, derrubando seu café sobre si. Molhando não só sua camiseta como os cabelos também. Queria apenas saber como ele foi capaz de tal proeza.

— Ai, merda — resmungou enquanto eu ria, ao invés de ajudá-lo — Beomm — olhou pra mim indignado — para de rir e me ajuda a levantar, fedelho — Estiquei a mão para ele, mas antes que ele pudesse pegar voltei a colocá-la ao lado do corpo

—Hmm, pede com educação — brinquei um pouco, apenas para irritá-lo.

Ele fez biquinho, desta vez bravo, como se quisesse me pegar pelos cabelos e arrastar-me por todo o percurso até a escola. Por via das dúvidas de que sua vontade se torne realidade, estiquei o braço de novo e o ajudei

—Você é tão desastrado — resmunguei segurando o riso

—Haha engraçadinho — sorriu forçado — sujei todo o moletom e meu cabelo tá cheirando a café

—Pelo lado bom, agora você tem um aroma só seu — levei um tapa no braço, ele com certeza amou a piada Ai — choraminguei, os tapas dele não são nada fracos — Okay, temos cerca de vinte minutos...Ou seja, dez minutos para voltar para minha casa e você tomar um banho rápido só pra não ficar cheirando a mucilon e café— não contive e ri, sendo ameaçado por um punho cerrado.

— Mucilon o caramba seu... — o olhei incrédulo, como se meus olhos pudessem dizer ''se falar o que está pensando não vou ajudar''. Ele bufou e abaixou a mão — Nós temos dez minutos certo? Vamos logo então — agarrou meu braço me arrastando de volta para casa

Chegamos em frente a porta, então respirei fundo desejando que meu pai já tenha saído para o trabalho, o que evitaria uma confusão.

Por sorte ele saiu mais cedo então Yeon subiu para tomar um banho rápido.

Separei a maior camiseta que tenho, já que yeonjun é mais alto, e um moletom comum para que ele não morra congelado.

[...]

Nós chegamos muito atrasados então tive que visitar meu querido diretor Park, levar uma bronca e fazer um trabalho que seria em grupo sozinho já que perdi a aula.

O sinal para o almoço finalmente tocou então irei me livrar por pelo menos uma hora dos cochichos ridículos dos alunos da minha sala. Não entendi bem o que estavam dizendo, mas sei que se trata de mim. Além de os olhares terem pairado sobre mim durante três aulas inteiras, ouvi meu nome diversas vezes.

— Finalmente te achei — Yeonjun se sentou de repente ao meu lado na mesa, me assustando

— Ai caramba, que susto — me recompus e ele riu

— E então, levou bronca? — ele perguntou colocando um pedaço de gimpap na boca

— Levei, tudo isso porque meu amigo foi distraído o suficiente para derrubar café até no cabelo — ri, enquanto ele fazia cara feia e engolia a comida, provavelmente xingando até minha ultima geração por zombar dele assim

— Dá próxima vez não te espero então — Revirou os olhos, como sempre faz.

— Mas e então, as aulas foram boas pelo menos?

— Claro, considerando que tive que fazer um puta trabalho sozinho e que os meu adoráveis colegas de classe ficaram cochilando sobre mim o tempo todo, foi tudo ótimo

— Não é possível que você não se divirta vendo nem ao menos uma aula de metafísica ou sei lá — bebeu seu suco — e o que eles estavam falando sobre você? Acho que você deve ser o cara misterioso da sala e todo mundo quer saber o que se passa nessa sua cabecinha de jerico

— Eu acho que daria um ótimo personagem para uma história, né? Bonitão e misterioso — entrei na brincadeira — E não, faz tempo que não sei o que é diversão na escola

— Claro, bonitão você é mesmo — brincou, colocando sua mão em meu braço. Não sei porquê, mas sua fala me fez corar — Pelo jeito vou ter que... — pegou mais comida e colocou na boca — ...que te ensinar a se divertir de novo — engoliu. Eu não menti, realmente faz tempo que não me divirto nem na escola nem fora dela.

Em minha casa só sou acompanhado da solidão e dos meus pensamentos ansiosos e incessantes, é um ciclo que não se acaba.

[...]

Saímos da escola junto a cambada de alunos mal educados e apressados. Gosto do fato de que não preciso mais voltar sozinho para casa, geralmente esse percurso era repleto de silêncio e coisas que prefiro não lembrar.

— Ihh, olha lá o casalzinho — Ouvi alguém rindo bem próximo de nós, então me virei por pura curiosidade. Maldita hora em que olhei para trás. Benjamin está apontando para nós como se fossemos animais de zoológico — Gente, vocês viram que o Yeonjun chegou com o cabelo molhado de manhã? E o moletom que tá usando nem é dele, é do esquisito — apontou os fatos como se tivesse coletado provas muito importantes para um caso policial.

Não disse nada, porque sei que se abrir a boca vou acabar fazendo algo que irei me arrepender depois. Yeonjun, que está de fone, nem ao menos ouviu o que o garoto disse e continuou andando, só reparando que eu parei segundos depois de ficar falando sozinho. Retirou os fones e passou a observar a situação.

— Eles devem ter dormido juntos — Benjamin disse e fingiu vomitar, mas eu quem realmente senti enjoo. Como alguém é capaz de ser tão repugnante e ignorante para dizer coisas assim, sem escrúpulos nenhum? Um pequeno grupinho que estava próximo a ele passou a rir, como se estivessem em um circo.

— Qual a graça? — Me irritei.

—Você é a graça! Você e esse viadinho do Yeonjun — Meu Deus, por favor apague o que ele disse de minha memória para que eu não cometa uma atrocidade.

Ri sem achar graça alguma, tão o bravo quanto da última vez. Cerrei o punho e dei alguns passos para frente, só parando depois de sentir a mão de Yeon me segurando.

Olhei em seus olhos e ele parece tranquilo, mas eu não estou.

Não estou porque não suporto que façam esse tipo de piada, muito menos com pessoas com quem me importo.

Não estou porque não sei se Yeonjun está realmente calmo, ele é capaz de ler meus pensamentos, mas eu não tenho habilidade para fazer a mesma coisa.

—Vamos embora, não dê ouvidos — se aproximou e sussurrou em meu ouvido, soando mais sereno do que deveria. Concordei, lembrando da promessa que fiz, além de que não quero perder a cabeça, pelo menos hoje não.

Ghost (Yeongyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora