23|Floresta do medo

148 32 47
                                    

''É possível vivenciar um inferno em uma madrugada triste'' - Pedro Miranda

Desta vez voltei para casa sozinho. É estranha a sensação de caminhar sem Yeonjun ao meu lado, querendo ou não me acostumei com a ideia de ter sua companhia todos os dias. Não conversamos hoje, no máximo trocamos olhares. Senti a tristeza em seus olhos e odeio ser o motivo.

Mais uma vez sai da tortura da escola para entrar na solidão da minha própria casa. Respiro fundo todas as vezes que encosto nesta maçaneta tentando espantar para longe o medo que me domina.

Corri para tomar um banho mais demorado e relaxar um pouco enquanto ainda estou sozinho em casa. Saí do banheiro secando os cabelos com uma toalha descendo até a cozinha. Ultimamente não tenho sentido tanta vontade de comer, mas ainda assim tento nutrir meu corpo. Depois de ouvir um sermão de Yeonjun aprendi a fazer pelo menos uma refeição ao dia, mesmo quando não estou bem.

Estava prestes a subir as escadas quando escuto o barulho da porta de entrada batendo, olho pra trás e me assustei ao ver meu pai cambaleando enquanto pendura o casaco. Droga, está muito bêbado.

—Seu moleque idiota — caminhou com dificuldade para manter-se de pé, se aproximando de mim — Idiota de..merda — proferiu fazendo-me torcer o nariz com o cheiro forte de álcool. Uma das coisas que mais odeio. Ele se apoiou no corrimão ficando a apenas alguns passos de mim — Por que não para de atrapalhar minha vida? — segurou a gola da minha camiseta com força

Desvencilhei-me de suas mãos — Você está bêbado de novo.. me larga

Sua mão entrou em contato com meu rosto com um tapa rápido, mas ardido
— Mesmo bêbado consigo pensar mais que você! — gritou

Suspirei, já cansado do mesmo loop diário. Estou a ponto de explodir.

—Que merda é essa? — Tirou o celular do bolso e mostrou-me — É isso que anda fazendo na escola, cretino? — Se recompôs, sua voz voltando ao normal aos poucos.

Droga, ele descobriu.

As fofocas sobre mim e Yeonjun chegaram a ele, não pensei que isso aconteceria. Há um dia ele descobriu sobre a briga com Benjamin, mas agora a situação é pior ainda.

—Eu estou ferrado por sua culpa! — Gritou ainda mais alto passando as mãos pelos cabelos grisalhos — Levei anos para construir minha reputação para ver tudo acabar em questão de minutos porque meu querido filho só me dá problema! Como acha que fica o nome da família depois que todos viram estas publicações? Como acha que eu fico? Agora todos os investidores acham que se não sou capaz de controlar meu próprio filho, não sou bom o suficiente para dirigir minha própria empresa — a cada pausa que dá para respirar empurra-me com o dedo, fazendo-me inclinar cada vez mais no corrimão. Enoja-me o fato que os investidores são capazes de usar o ''suposto filho gay'' como desculpa para reclamar sobre a direção da empresa.

—Nome da família? — ri tão cínico quanto ele — A que você destruiu há tempos? — meu rosto ardeu com um tapa assim que proferi essas palavras, mas ainda preciso dizer o que penso — Sua reputação de merda nunca foi real, uma pena que esteja sendo arruinada pelos motivos errados. Todos deveriam saber o babaca que você esconde por trás dessa roupinha engoma...

—CALA A BOCA! — me interrompeu. Seu hálito quente sopra em meu rosto, tenho vontade de vomitar com o cheiro forte que ele exala — Quem acha que é?

—Sou seu filho querido — cuspi as palavras com ódio. Ele apertou meu braço com força, descontando a raiva calcando a carne com as pontas dos dedos. Resmunguei com o atrito, está doendo muito.

Tenho vontade de dizer a todos a merda de ser humano que ele realmente é. Vontade de dizer sobre o fato de que todos os secretários pessoais e empresários mais próximos sabem sobre as atitudes de má índole que o chefe tem com o filho,mas não fazem nada e continuam apoiando a empresa, o deixando mais rico, o permitindo ser ainda mais fútil. 

Vi seu rosto ficar vermelho de raiva, seu corpo rígido pronto para partir para cima de mim. De repente ele se afastou indo até a lareira, apoiou as mãos na estante e respirou fundo até realmente explodir. Derrubou os porta retratos e decorações de vidro que estavam ali, enquanto grita com toda sua força até parecer não haver mais ar em seus pulmões. Senti meu corpo se enrijecer pelo medo, minha alma encolher-se dentro da armadura óssea.

Ele me encarou por um longo minuto até virar-se parecendo procurar alguma coisa. Então  ele achou. Se apossou de um taco de golfe que faz parte da decoração e se aproximou de mim como se eu fosse sua caça.

—Pai...não, por favor — sussurrei balançando a cabeça repetidamente, sentindo meu coração bater cada vez mais rápido. Vendo as memórias como flashs, imaginando o que pode acontecer daqui há segundos. Quando minhas pernas finalmente deram-me resposta corri o mais rápido que pude me trancando no quarto. O ouvi esmurrar a porta diversas vezes, talvez tendo arrombá-la a qualquer custo. Nunca fui tão grato por ela ser de uma madeira tão robusta quanto de nogueira. Me encolhi na cama, tapando os ouvidos com as mãos trêmulas para abafar seus gritos incessantes.

Cada grito me lembra de algo que gostaria de esquecer.

Cada batida me trás uma imagem que gostaria de jamais rever.

Cada pulsação rápida de meu coração faz-me desejar que ele pare de uma vez.

A cada minuto que se passa desejo que tudo não passe de um pesadelo.

Desejo apenas ter alguém para me proteger e dizer que tudo ficará bem.

Eu estou novamente aqui, na floresta do medo.

Sendo sufocado pelos pensamentos, engolido pela ansiedade, consumido pela insegurança, preso no emaranhado das memórias. Está cada vez mais difícil de respirar, o ar não entra mais em meus pulmões. Acho que não consigo mais...

..............

Pessoinhas, olhem a mídia lá em cima. Achei a foto perfeita pra simbolizar o que ele sente.

É hj que eu choro pensando nisso aqui. Eu não vou aguentar, vou pular pra parte feliz logo! Juro, foi angustiante escrever esse cap e olha que eu nem coloquei tanto sentimento quanto queria, sei lá *Fugindo

Espero que tenham gostado, obrigado por lerem até aqui! <3

Ghost (Yeongyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora