22|Briga

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"Eu penso demais nas coisas. Ás vezes isso ajuda, mas às vezes me sufoca"

Minha cabeça está cheia, parece que posso explodir a qualquer momento.

Ontem foi uma daquelas noites onde meu pai descontou toda sua raiva em mim depois de descobrir o que aconteceu na escola. Tive que escutar ele dizer coisas horríveis sobre minha mãe. Tive que aguentar tudo mais uma vez.

Eu nunca senti tanta falta dela como agora, meu coração doí tanto que sinto vontade de tira-lo do peito. As coisas têm sido tão difíceis e tenho me perguntado todos os dias se vou conseguir suportar tudo.

Quero ficar sozinho. As pessoas deixaram de se aproximar de mim, me olham com pena e eu não sou capaz de entender o que elas pensam.

Às vezes me sinto culpado pelo que aconteceu. Eu poderia ter ficado com ela, eu deveria ter notado, mas eu simplesmente não percebi. A gente parecia estar bem. Ela parecia estar bem. Toda aquela animação escondia a tristeza profunda em que sua alma se encontrava e isso parte meu coração.

Me sentei no fundo das velhas arquibancadas do ginásio e comecei a chorar como uma criança perdida. Eu realmente estou perdido.

Nada parece fazer sentido, estou entrando em colapso. Meu cérebro não é capaz de suportar tantos pensamentos, meu corpo não é capaz de aguentar tanta dor e eu não posso conciliar tudo.

—Cookie? — Yeonjun me encontrou. Tentei me esconder, mas ele parece sempre saber exatamente onde me encontrar — ei, por que tá chorando? — levantou meu rosto, mas me encolhi mais ainda — Beom, o que aconteceu? — vi ele se sentar ao meu lado e então começou a acariciar minha mão. Esse é seu modo de dizer que está comigo, isso sempre me acalma, mas desta vez tenho vontade de sumir para que ele não me ache mais. Sinto que ele foi arrastado para a confusão que é minha vida e eu me odeio por isso. Yeon é tão bom pra mim e me pergunto se mereço tê-lo por perto.

—Vai embora — resmunguei entre os soluços incessantes

—Eu disse que queria ser seu amigo e que te ajudaria, então vou fazer isso. Não vou embora! — ele disse num tom doce, mas firme — Me deixa te ajudar

—Não quero sua ajuda — minha voz soou pelo local vazio e eu quis me bater por ser tão rude. Yeonjun demorou alguns segundo para reagir à minha resposta, mas quando percebi ele já estava envolto a mim em um abraço. Meu choro aumentou ainda mais, soluços desesperados podiam ser ouvidos por todo o ginásio, que por sorte está vazio.
E novamente me vejo envolto por braços calorosos. Yeonjun novamente permanece comigo, independente da situação e isso de alguma forma me corrói.

—Vai ficar tudo bem — Yeonjun acariciou meus cabelos

—Não, nunca fica — levantei o rosto depois de minutos agarrado aos meus joelhos — Só vai embora logo, eu não quero ser seu amigo, eu não quero receber sua ajuda. Para de querer ser bom pra mim...Eu não tenho direito de ser feliz, não mereço sua amizade. Eu só quero acabar com isso de uma vez — meu tom foi aumentando assim como a ansiedade

—O que? — ele se afastou parecendo incrédulo com o que ouviu

—Me deixa sozinho, por favor— sussurrei, mas ele negou com a cabeça.

—Beomgyu, seja sincero. Você nunca me quis por perto? — perguntou ignorando meu pedido.

Não fui capaz de responder. Me encolhi novamente agarrando-me as minhas pernas com tanta força que podia senti-las formigarem

—Eu tentei juro que tentei, mas você tem complicado tanto as coisas beom... — ele arfou com a voz trêmula — Eu to cansado de te ver agindo tão mal consigo mesmo — se levantou — Tudo bem se não quer minha ajuda! Também não posso te obrigar a gostar de mim, então eu vou te dar espaço.

Existe um famoso ditado que diz que só damos valor ás pessoas quando perdemos elas e o vi se concretizar neste exato momento. Eu compliquei as coisas para Yeonjun e o deixei numa situação difícil. Ele só quer me ajudar, mas eu fui babaca o suficiente para magoa-lo novamente. É claro que eu gosto dele e da sua companhia. Foram os abraços dele que me confortaram quando ninguém mais estava comigo, ele foi o único que me ouviu chorar durante os momentos mais difíceis.

—Espera Yeonjun, eu não quis dizer isso... Não é desse jeito — me levantei com certa dificuldade

—Tudo bem. Você não estava preparado para uma nova amizade e eu invadi seu espaço. Desculpa por ter feito isso, não era a intenção.

Lágrimas começaram a cair pelos meus olhos sem que eu percebesse. Machuquei Yeonjun, disse coisas que ele não merecia ouvir.
Ontem vi que mesmo que ele saiba sobre meu monstro interior permanece comigo e porque eu continuo agindo assim? O afastando cada vez mais.

—Não Yeon, não fala isso — me aproximei segurando seu punho, mas ele se afastou — eu não penso assim de verdade...

—Dizem que num momento de estresse acabamos dizendo tudo o que guardamos para nós mesmos e eu... — O vi limpar o rosto e passar as mãos pelos cabelos — Eu não te julgo por nada disso. Você precisa do seu tempo e eu vou respeitar isso, okay? Conversamos depois... — ele finalizou se afastando e indo até a saída

—Por favor não vai, todo mundo sempre vai — as palavras saíram da minha boca num sussurro, mas ainda assim yeonjun escutou. Ele parou por um instante deixando um suspiro pesado escapar de seus lábios logo voltando a caminhar.

Acho que desta vez, fui capaz de estragar tudo.

Está tudo acabado.

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Se eu escrever um capítulo feliz não sou eu, não é possível.
Obrigada por lerem, amo vcs ❤️

Ghost (Yeongyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora