Capítulo 5 - Reflexões e decisões

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2569 palavras

"E, de qualquer forma, às cegas, às tontas, tenho feito o que acredito, do jeito talvez torto que sei fazer." Caio Fernando Abreu

Música do capítulo: Pensando em você - Paulinho moska

Após voltar para o trabalho, Sunan não conseguiu se concentrar de fato. Estava absorto em pensamentos conflitantes.

Percebia que, em todos os momentos da sua vida, ele sempre viveu momentos de calmaria e momentos de tempestade. Geralmente as tempestades eram compostas por diversos eventos seguidos que fugiam totalmente do seu controle, nunca aconteciam em tempos espaçados. Sempre era tudo de uma vez, começando por pequenos sinais de avalanche. Ele podia jurar que a visita da senhorita era um desses pequenos sinais. Pensando bem, seu encontro com Serafim no dia anterior foi o primeiro sinal.

Durante o último mês ele havia se aproximado bastante do rapaz, a ponto de considera- lo um amigo aqui no Brasil. Sempre se sentia confortável e leve ao conversar com ele, como não tinha muitos amigos, quis vê-lo sempre que podia para conversar um pouco mais. Ficava triste quando não o via.

Ele encarava aquilo tudo como amizade, até o dia anterior.

Ele percebeu sentir algo diferente quando viu o pequeno rapaz recolhendo os livros de ombros caídos enquanto aquelas criaturas faziam disso como artifício para humilhá-lo.

A verdade é que uma fúria descontrolada o abateu e ele só não fez nada pior, pois a situação entre os irmãos e o rapaz louro já era bem complicado com a sociedade que eles moravam, mas pela primeira vez ele sentiu um enorme ímpeto de proteger alguém.

Como ele não podia fazer nada a longo prazo, às vezes era melhor deixar lá para, nas suas boas intenções, não piorar mais a situação.

Era o que ele pensava até ver a situação de ontem.

Ele não conseguiu simplesmente deixar para lá, ele queria tirar Serafim dali e acabar com os outros quatro. O que, para ele, tal emoção era uma novidade...

Ele sempre foi um pouco indiferente as confusões que não eram suas, pois tinha medo das coisas saírem do controle e ele se envolver em problemas.

Sua adorável criadoura, se é que podia chamá-la assim, sempre o dizia para tomar cuidado com tudo e com todos, pois seu tamanho anormal poderia machucar alguém. Sua estrutura sempre diferira da maior parte dos homens do seu país por ser extremamente alto e extremamente largo. O que para sua criadoura e suas amigas, ele era quase como um Quasímodo* de melhor aspecto, mas em sua visão geral tão assustador quanto.

Sendo assim, como um monstro social, ele trancou-se em sua própria torre, sendo um pouco indiferente aos demais.

Até o dia anterior, quando ele, além de se meter em uma situação que poderia sair do controle e, pela primeira vez, segurou alguém em seus braços daquela forma. Pela primeira vez ele gostou daquele contato e se sentiu confortável com ele. Seu coração sentiu coisas que ele achava ser incapaz de sentir.

Ele sempre fora uma pessoa pragmática, mas sempre tendia a sair do controle quando se tratava do pequeno rapaz com aparência angelical...

Quando aquela amizade se tornou algo mais? Para ele era um pouco estranho para ele sentir isso. Apesar do terceiro sexo* não ser tão incomum em seu país, eles eram pessoas que viviam suas vidas discretamente, principalmente com as mudanças do governo, então não se falavam muito sobre eles. Só conhecia, pois seu advogado vivia com seu companheiro há anos e nos navios existiam mais do que se podia imaginar... Ele nunca havia pensado muito a respeito dos seus sentimentos em relação a ninguém.

O canto do rouxinolOnde histórias criam vida. Descubra agora