Capítulo 9- Sobre nós....

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3443 palavras

"E Julieta disse a Romeu: De que vale um nome, se o que chamamos rosa, sob outra designação teria igual perfume?" William Shakespeare

Música do capítulo: Lua branca- Chiquinha Gonzaga ( coloquei uma música da época para vocês entrarem no clima)

⚠️ Alerta de gatilho! O capítulo a seguir possui discursos de ódio em que a autora repudia e não compactua, mas precisa considerar o momento histórico (1850)

— É tão bonito! Tem tempos que não escuto esta música em uma apresentação oficial. Eu e Mainá amamos a música desse concerto em especial, mas sempre gostei dessa música desde a primeira vez que a ouvi se apresentar aqui no teatro há um tempo... Conseguimos uma cópia da partitura na universidade de música para ouvirmos sempre! Devo confessar que foi meio difícil, mas... Desculpe. Acabei por me entusiasmar demais! — Dizia Serafim timidamente após falar horrores sobre o seu encantamento ao ouvir lua branca tocando. Era sua música favorita, sempre escutava a orquestra treinando quando ia à faculdade buscar livros.

— Eu e Mainá tocamos flauta, piano, violino e violão, mas só Mainá canta e só eu toco asalato. Minha voz é péssima. — Respondia Serafim desatento

— A babá de vocês era bem culta não? O que é asalato?

— Depois te mostro.Os ciganos são conhecidos por viajarem bastante e viverem de música. Não chega a ser estranho ela dominar vários idiomas e saber tocar alguns instrumentos...

— Por que ela decidiu desistir da vida nômade?

— Porque ela prometeu a nossa mãe que cuidaria de nós dois caso algo acontecesse. Quando mamãe desapareceu, ela veio alguns dias depois para cuidar de nós... Dizendo que foi avisada do desaparecimento dela e que, provavelmente, ela tinha partido para sempre, pois ela jamais abandonaria os filhos... — Disse o rapaz com um sorriso triste

— Não teria sido melhor ela ter levado vocês. Vejo as pessoas com os mesmos receios por algo que aconteceu há tempos atrás....

— Infelizmente ela não pode. Minha saúde era muito frágil, cresci com problemas cardíacos e respiratórios, o senhor viu naquele dia uma das minhas crises. Quando eu era menor era bem mais grave, mas melhorou com o tempo a ponto de me permitir seguir com minha vida com pequenas restrições. Passei a maior parte da infância trancado em casa com Mainá como minha única companhia. Apesar dela poder sair para brincar, ela escolhia ficar comigo, mesmo que isso significasse que sua diversão seria jogar xadrez, ler ou brincar de música. — Disse Serafim com um sorriso triste. — Eu sei que Mainá ficou pelo mesmo motivo, aceitando se mudar depois que ficou tempo suficiente para ter certeza que minha saúde melhorou, não por promessa alguma....

— Tenho certeza que nenhuma delas se arrependeram. Sua irmã parece amá-lo incondicionalmente. — Ele invejava Serafim pela família pequena e amorosa que cuidou dele mesmo após perder os pais. Mesmo com toda a consideração de Somchai, que era o único que considerava ser um membro da família, ele nunca se sentiu em casa de fato na mansão Sukassen...

— Deveria, pois o inferno que ela vive, a grande parte, foi para cuidar de mim. Mesmo que minha condição de saúde esteja melhor agora, ela ainda fica com a maior sobrecarga e presa a uma cidade que a odeia por ser parecida com minha mãe na beleza, causando a ira das mulheres e o desejo dos homens, o que também se transforma em ira quando ela não aceita ser amante de nenhum deles, já que, para a maioria das pessoas aqui, uma bruxa não merece ser uma esposa, mas não negariam ter uma em sua cama. A beleza, quando ela vem em uma mulher pobre, vira maldição, pois os ricos acreditam que tem o direito de fazer o que bem entendem... Acredite, o evento que o senhor viu não foi a primeira vez, por isso decidimos por partir assim que tivermos dinheiro para isso e encontrarmos uma situação favorável para evitar contratempos. — Continuava Serafim a falar distraidamente enquanto olhava encantado para a banda.

O canto do rouxinolOnde histórias criam vida. Descubra agora