Capítulo 12 - O contra-golpe da razão

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2892 palavras

"Quando cercar o inimigo, deixe uma saída para ele, caso contrário, ele lutará até a morte." Sun Tzu

Música do capítulo: Me leve embora - Ivete Sangalo

— Acredito que não precisamos resolver as coisas dessa forma. — Disse Heitor Bragança entrando no recinto.

— Como o senhor entrou aqui? — Perguntou Serafim perplexo olhando para o homem na porta.

— O senhor esqueceu de trancar. Pois bem, resolvi acompanhar meu irmão para resolver essa situação de uma vez por todas da melhor maneira possível. Quando ouvi os gritos, achei melhor interferir. Me convida formalmente para entrar? — Perguntou Heitor Bragança

Com um gesto exasperado, mas educado, Serafim faz o convite a contragosto. Sabia que não podia perder o controle ou isso seria usado contra eles. Todos eles sabiam.

O homem entra na ampla sala e se senta em uma das poltronas perto da porta.

O cenário estava a beira da explosão de uma guerra e o local onde se sentou era bem estratégico para observar os ânimos.

A sua direita, disposto na poltrona ao seu lado, estava seu irmão, que se sentou de novo como um rei com sua presença com seus dois jagunços em pé ao lado dele.

Próximo à janela estava Sunan Phasuk que observava a situação como um verdadeiro cão do inferno, em silêncio, mas com a arma empunhada para atirar em quem ousasse se aproximar dos residentes daquela casa.

A moça sentava-se no sofá, quieta, o que não era seu comportamento temperamental habitual, mas parecia calma, quase etérea em sua expressão impassível. Não passou despercebido que suas mãos se uniam com as mãos de Somchai Sukassen em um gesto que indicava uma certa intimidade e apoio.

A postura de ambos indicava um relacionamento que o Sr. Sukassen não tinha vergonha alguma de esconder. Muito pelo contrário. Isso não era bom para os seus planos. Ele precisava fazer rapaz voltar a razão e tirar os irmãos do caminho. Tinha grandes ambições para Somchai Sukassen e qualquer relacionamento com a menina seria um estorvo.

Até mesmo o pequeno rapaz com rosto angelical, no momento, parecia um anjo caído, exibindo uma expressão grave e fria que também não era o seu habitual. O homem se sentava estrategicamente em um banco próximo à bancada da cozinha aberta. Sua postura indicava que ele seria capaz de morrer para proteger a menina Garcia.

Os três estavam em posição de ataque para defender a moça. Isso era óbvio. Uma briga daquelas poderia causar muitas confusões em relação aos seus negócios.

Os irmãos asiáticos eram um dos poucos da Ásia que faziam negócios com o Brasil e ainda facilitava o transporte de mercadorias vindos da Índia. Um negócio lucrativo e raro como esse não poderia ser perdido por conta dos hormônios juvenis.

Uma pequena rameira causadora de problemas não pode ser um empecilho para o seu tão almejado cargo de governador e suas transações comerciais com o oriente.

— Agora que terminou sua análise, sinta-se à vontade para começar. — Disse Sunan em tom frio.

— Agora entendo o porquê o imperador estima tanto suas habilidades*. Sr. Phasuk. — Respondeu Heitor sorrindo em tom conciliador. — Pois bem, podemos conversar calmamente e resolver a situação da melhor forma possível.

— E qual seria a melhor forma, senhor? — Indagou  Serafim arqueando as sobrancelhas

— Eu soube pelo meu irmão seu ato lamentável contra a moça e teve o Senhor Sukassen como testemunha. Sendo assim, o aconselhei a vir aqui consertar seu erro, mas parece que o meu temperamental irmão não soube resolver as coisas da maneira correta. Como todos sabem, meu irmão é viúvo, então, proponho reparar a situação com o casamento, no lugar de oferecer a moça uma posição menor do que a de esposa. Vamos convir, senhores, que toda a situação interfere diretamente na reputação de todos e essa seria a melhor solução. O boato de que a menina estava tarde da noite em situação suspeita com dois homens que não tem familiaridade alguma com ela vai manchar a reputação não só dela, mas o de todas as famílias envolvidas em um escândalo de prostituição. As consequências poderiam ser nefastas já que obrigaria a fechar a venda, além de manchar a reputação do Senhor Sukassen e Phasuk, que seriam acusados de se envolver em negócios escusos no Brasil. A senhorita não quer destruir três vidas próximas à senhorita não é mesmo? — Disse Heitor com um tom de voz educado, mas com uma ameaça velada à Mainá. — Tenho certeza que a Senhorita Garcia tomará a atitude correta. O que me diz, senhorita?

O canto do rouxinolOnde histórias criam vida. Descubra agora