Capítulo 19- O que não passou...

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3156 palavras

" O passado é como um espírito conhecido que não se foi, sempre volta para nos assombrar uma hora ou outra.... " Cilla Fortuna

Música do capítulo: Flor-da-noite -Nana Caymmi

- Foi só um pesadelo... - sussurrou Somchai respirando fundo ao ver estar na penumbra do seu quarto, mas, diferente das inúmeras vezes dos meses anteriores, ele não estava só.

Um pequeno corpo arredondado encontrava-se dormindo ao seu lado, murmurando em protesto pelo movimento brusco na cama, o que o fez sorrir em contentamento por um momento. Seu rosto, que já exibia um formato arredondado, adquiriu um tom rosado nos últimos meses por conta da gravidez, deixando-a ainda mais adorável...

Com cuidado, beijou os cabelos de sua esposa que dormia pesadamente.

Levantou-se da cama com cuidado e foi lavar o rosto em uma tentativa inútil de lavar aquele pesadelo em seu coração.

Como não conseguia mais dormir, foi em direção ao quarto de Korn para ver se estava tudo bem.

Ao chegar no quarto infantil, pode ver Korn dormindo tranquilamente com os bracinhos ao lado da cabeça, completamente descoberto, provavelmente por se mexer muito a noite. Com um sorriso no rosto, Somchai cobriu o pequenino corpo e observando seu rosto sereno por um momento, com cuidado, beijou-lhe a testa e se retirou em silêncio para não acordar a criança.

Voltou para seu próprio quarto e aproximou-se da janela aberta por conta do calor dos últimos dias, olhando para o silencioso pátio da casa e o vislumbre noturno da rua vazia.

Isso bastou para acalmar um pouco seu coração.

Os pesadelos que tinham povoado sua mente quando Mainá se foi voltaram com tudo e muitas vezes ele não conseguia mais dormir. Como hoje.

Sua mente perdeu-se em pensamentos por um longo momento, voltando a realidade quando sentiu pequenas mãos enlaçando sua cintura e ouvir uma voz atrás de si.

- Teve pesadelo de novo? - Disse Mainá, enquanto abraçava Somchai por trás e beijava- lhe as costas nuas.

- Te acordei? Ou te acordaram? - disse Somchai virando com delicadeza, beijando o ventre avolumando - Você acordou a mamãe? - Disse ele cochichando para a barriga como se lhe contasse um grande segredo

- Ambos. Não consigo dormir por muito tempo. Ela sentiu sua falta e começou a chutar e não mude de assunto. Você sempre fica parado como uma estátua por horas a fio na janela quando tem um pesadelo - Disse Mainá sorrindo bagunçando os cabelos lisos e volumosos

- Não foi nada, só fui ver se Korn estava coberto e perdi o sono, acabei por ficar aqui pensando na vida. - Disse Somchai se levantando e beijando o topo da testa de Mainá.

Ficaram abraçados observando a noite por um momento, apreciando a paz.

Mainá podia ouvir coração de Somchai batendo em um ritmo compassado e tranquilo. Não sabia o porquê mas isso a acalmava. Essa sensação de paz a acalmava. Após anos de sua vida imersa em problemas que nunca foram seu de fato, ela e o marido finalmente pode viver um pouco da paz que tanto almejavam.

Mainá sabia que Somchai tinha pesadelos e eles se intensificavam a medida que a gravidez avançava e as notícias sobre os autores dos ataques sumiam como poeira. Ele não queria preocupá-la, mas ela notou a presença de homens que mais pareciam soldados do que meros copeiros fora da casa.

O canto do rouxinolOnde histórias criam vida. Descubra agora