Cap 6: Delegar

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  — O que? — Mew o fulminou com o olhar.

O queixo do juiz caiu, os olhos de Max se esbugalharam, a boca de Sam se abriu, e Gulf entendeu perfeitamente. Já tinha passado por tudo aquilo.

  Ele molhou os lábios e fez uma tênue e mal sucedida tentativa de sorrir.

— Temos que seja verdade — disse, pedindo desculpas ao juiz, a Max e a Sam. Mas quando seu olhar alcançou o de Mew, ele desejou que não houvesse mais nenhuma desculpa neles.

— Do que você está falando? Isso foi há anos. Os papéis do divórcio...

— Precisamos falar — disso argumentou o Gulf. E ele desejou que tivessem alcançado o ponto, no relacionamento de anos deles, em que a comunicação não verbal funcionasse.

— É claro que precisamos — disse Mew. Lançou um breve olhar a Sam, também se desculpando, e um ao juiz e a Max, que parecia dizer não se consegue bons empregados no dia de hoje. E então ele avançou e pegou-o pelo braço, não muito gentilmente.

— Vamos.

— Não demorem muito. Tenho que tomar um avião Max —gritou para eles.

  — Mew não respondeu. Empurrou-o para fora da sala, olhou em volta, viu várias pessoas no corredor e abriu a porta de uma sala do outro lado.

— Entre aqui. — Fechou a porta atrás deles, depois o girou sobre si mesmo para encara-lo. — O que, com os diabos, você pensa que está fazendo?

— Tentando impedir que você cometa bigamia — sugeriu Gulf.

— Não seja ridículo. Aquilo que tivemos dificilmente foi um casamento e...

  — Foi bastante legal no estado de Nevada.

— E eu pediu o divórcio no dia seguinte.

— Correção. Você ligou para um advogado de divórcio e pediu a ele que resolvesse o assunto.

— O que ele fez! Tenho os papéis!

— Você recebeu um envelope — corrigiu-o Gulf. — Você não o abriu.

O que era a cara de Mew. Delegar e presumir que seria feito. Pena que ele não delegará o pedido de divórcio a ele!

  As mandíbulas de Mew se apertaram.

— Eu não queria olhar aquilo — resmungou ele. — Você queria?

— Não. — Gulf teve que admitir que também não quis ver a loucura deles em preto e branco. Era demasiado doloroso naqueles dias. — Mas eu teria me assegurado que tivesse sido feito.

  Mew balançou a cabeça.

— Então o que foi aquilo?

  Ele franziu a sobrancelhas enquanto Gulf tirava o envelope de sua pasta. Ele tirou os papéis do envelope e mostrou-os para Mew.

  O primeiro era a folha inicial, agradecendo a ele pelo contato e dizendo-lhe que ficariam felizes de resolver o caso se ele preenchesse os formulários anexos e criasse uma residência em Nevada, que precisaria manter por 6 semanas, antes de dar começo ao processo. Mais seis semanas, e o divórcio não fosse contestado, seria legal.

— Sem nenhum problema — concluía a carta. — Somos especialistas em corrigir tais erros e registraremos seus papéis tão logo o senhor confirme seu endereço em Nevada e preencha os formulários necessários.

  Mew olhou para os papéis, passou a vista por eles, uma vez... E outra. Então levantou os olhos. Parecia furioso.

— Maldito inferno. — Atirou os papéis na mesa e afastou-se, andando a esmo pela sala. — Eles podiam ter ligado! Pensaram que eu mudei de ideia?

— Aparentemente isso foi exatamente o que aconteceu — Gulf disse a ele. — Liguei para eles hoje de manhã.

  Já era bastante tarde quando Gulf conseguiu ir ao banco e procurar pelos papéis que ele queria. Gulf achou logo a certidão de nascimento. Mas os papéis de divórcio não estavam lá. Desesperado, abriu a única coisa em que poderiam estar — um envelope fechado de uma firma de advocacia de Las Vegas. E quando leu a carta, ele ficou ali, atordoado, ao dar-se conta de que Mew nunca o havia lido, ou não se incomodara em abrir o envelope.

  E então Gulf pensou que certamente ele deveria ter feito outros contatos com eles.

  — Liguei para o cartório para verificar, quando não achei os papéis. Disseram que não havia registro de nenhum divórcio. Mas então já era muito tarde para chamar o advogado. Fiz isso hoje de manhã, durante a minha escala. — Ele foi capaz de confirmar sua pior suspeita.

  — Eles verificaram os registros. Não tinham nada além de uma nota sobre sua mensagem telefônica inicial. Disseram que ocorre  mais frequentemente do que pensamos — agregou Gulf; — pessoas mudando de ideia.

Mew apenas olhou para ele. Gulf deu de ombros.

— Parece que ainda estamos casados.

A ideia manteve o cérebro de Gulf zumbindo a noite inteira. Casado? Ele ainda estava casado? Com Mew?

— Maldito inferno — Mew exclamou outra vez, e passou a mão pelos cabelos.

— Lamento — disse Gulf com alguma aspereza. — Compreendo que isso afeta seus planos.

  — Certamente, maldição. — Mew apertou os dentes e depois suspirou. — Não foi falha sua — murmurou de má vontade. — Você teria visto que não havia sido feito.

— Sim — concordou o Gulf.

— Mas eu não quis lhe dar mais trabalho — Mew murmurou.

  — Eu diria que nós dois cometemos um erro — replicou o Gulf.

  A porta abriu e Max apareceu perguntando: 

—Tudo solucionado?

Mew balançou a cabeça.

— Temos um pequeno... Problema.

Os olhos de Max se esbugalharam. Olhou para Gulf.

— Você ainda está casado com ele? —Sua surpresa e desaprovação eram óbvias.

  — Assim parece. Vá para sua reunião, Max. Eu falarei com o Sam. Daremos um jeito nas coisas.

— Mas o casamento...

— Está cancelado. Pelo menos por agora.

— Mas e o projeto do resort na ilha? — Pergunta Max. — E Art? O que dirá e Isogawa?

Gulf franzil a sobrancelhas ao ouvir essas referências às pessoas a quem unirá para que comparecessem a reunião em nanumi. O que tinham a ver com o seu casamento?

— O que há com o projeto da Ilha? — Gulf perguntou. — E sobre o senhor  Isogawa, e Art?

—Porque? O que você sabe sobre Art? — Perguntou Mew, como se pensasse que Gulf estivera espreitando.

— Nada — disse Gulf. — Bem, pouca coisa — ele se corrigiu.

Os dois homens olhavam fixamente para ele.

— Ele fica ligando para mim — disse Gulf, muito preocupado, temendo que Lhong vá a reunião sem ele. Eu assegurei-lhe que isso não aconteceria, que o senhor Isogawa quer os casais, que ele seria muito bem vindo.

  As mandíbulas de Mew se apertaram. Max lançou-lhe um olhar malicioso que Gulf não compreendeu.

Por isso Mew queria levar Sam? Mas ele não poderia perguntar. Não diante do pai de Sam.

Bodas de FelOnde histórias criam vida. Descubra agora