Cap 36: Sentindo-se vazio

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— Não quero filhos — Mew repetiu as palavras outra vez. — Não vou ter nenhum.

— Bem, podemos não ter nenhum — disse Gulf, tomado de surpresa tanto pelo sentimento como pela ferocidade.

  — Não posso. Não serei responsável por dar a uma criança o tipo de Infância podre que eu tive.

  — É isso que o preocupa? Não será uma infância assim! Como você pode pensar uma coisa dessas?

  — Porque eu a vivi, demônios. É o inferno, e é o que conheço. Não posso fazer-lo. Não o farei! Sem filhos. Eu me decidi anos atrás.

  — Mew — começou ele, amaciando a voz, com gentileza, tentando passar pela muralha que ele construirá. Mas Mew balançou a cabeça.

   — É assim que vai ser, Gulf. Sem filhos.. Sei que você gosta de crianças e...

   — Você gosta de crianças. Não era você lá fora, hoje, brincando com elas? Pulando na água com elas? Deixando Justin montar em você?

  — Claro que eu gosto delas. Mas não significa que eu pretendo criá-las.

— Bem, eu não estou de acordo. E você nunca me disse isso.

  — Estou dizendo agora. — Seus olhares se encontraram, duelando.

  — Mew — ele tentou outra vez. — Você precisa ser lógico sobre isso. Precisa pensar claramente antes de fazer pronunciamentos duros e levianos como esse.

  — Eu pensei, com mil demônios. O que você acha que fiz a minha vida inteira? Você é que terá que ser lógico, pensar claramente e tomar uma decisão. Porque se você quiser filhos, Gulf, você não quer estar casado comigo. Você quer um divórcio.

   Gulf o olhou, de boca aberta, espantado. Divórcio? Ele estava falando de divórcio? Outra vez? Depois dá mais bonita semana da vida deles?

  — Divórcio — repetiu Mew, no caso de Gulf não ter ouvido da primeira vez que ele soltou a palavra como uma pedra de granito no silêncio do quarto. — Pense nisso.

   Depois Mew entrou no banheiro, fechou a porta e ligou o chuveiro. Então, a noite seria sem cascata, sem fazer amor avidamente, sem paixão fumegante.

   Bem, houve paixão. Mas não fora a fumegante. Tinha sido zangada. Cólera apaixonada, irracional. Pensamentos irracionais. Como podia não desejar ter filho? Era tão bom com as crianças. E elas amavam. Ela subiram em cima dele todo dia. E Mew instintivamente soube como tratar cada uma delas. Fizeram arruaça com Justin e Kefee, escutará atentamente as opiniões de Geoff, encantará Katie e sem dúvida fizera de Mai uma devota para toda vida, ao escolhê-la para seu time quando jogaram bola.

   Como poderia Mew não querer a chance de fazer isso por seus próprios filhos?

  Mew tinha sido claro no quesito sem filhos. Não era um grande segredo. Ele  havia dito a Tar. Não que isso importasse, já que ele nem aparecerá para o casamento. Ele fora claro com o San também.

  Ele ficará aliviado ao ouvir isso, pois era um consumado homem de carreira sem, como ele dizia, nem um único osso paternal em seu corpo.

   Mas então Gulf apareceu no cartório com a notícia de que ainda estavam casados e estragou todos os planos.

  Gulf também lhe dera a mais linda e alegre semana que ele jamais conhecerá.

  Não podia esquecer disso.Nem queria.

  Mew fechou o chuveiro e ficou parado no boxe, tremendo. Gulf o entenderia. Afinal de contas, era adulto.

  E se não pudessem ter filhos? Muitos casais não podem. Gulf o odiaria? Será que o amaria menos?

   Gulf só necessitava de tempo para adaptar-se. Para compreender. Ele precisava dar-lhe seu tempo. Espaço. Ele precisava mostrar-lhe que o amava e então Gulf o faria.

— Ponho o despertador? — A pergunta era muito educada, muito civilizada, muito remota.

  — Boa ideia — responder o Golf em um tom igual. — Não queremos perder o voo.

— Como somos os únicos passageiros, Imagino que esperaram.

    Ontem teriam rido disso. Hoje, Gulf apenas assentil.

  — Faça o que quiser.

  Mew ajustou o despertador e deitou-se na cama, o observando.

   Em outra noite, Gulf teria ido direto para ele. Teria se arrastado para a cama ao lado dele, que o agarraria em seus braços e eu levaria pela trilha do contentamento. Hoje, ele não podia fazer.

  — Vou tomar banho — disse Gulf e, entrou no banheiro e fechou a porta.

   Gulf teria adorado um último banho na cascata do lado de fora, teria adorado compartilha-lo com Mew. Mas não havia nenhuma sensação de estar juntos.

   Ele quis um banho com privacidade onde, se chorasse, ou quando chorasse, Mew nunca saberia.

   Os olhos dele estavam tão vermelhos quando saiu do banheiro que, se ele os pudesse ver, saberia.

   Mas quando ele voltou, a lâmpada do teto tinha sido apagada. Mew deixará acesa uma luz fraca do lado dele da cama. Ainda estava ali, mas deitado de lado de costa para ele.

  Gulf respirou fundo e pressionou a mão contra a boca para evitar fazer ruído. Mas ele ouviu e virou-se:

  — Não chore, pelo amor de deus!

  — Eu chorarei se quiser, seu tonto — respondeu o Gulf. E fez exatamente isso.

— Oh, inferno! — Mew o abraçou, beijando-o. — Vai dar tudo certo — prometeu ele. SHH. Eu sinto muito.

   Gulf soluçou e tratou de parar. Mas senti-lo perto dele o impediu. Era tão estúpido. Mew era tão estúpido!

  — Não faça isso — murmurou Mew. — Gulf, por favor, pare. — Ele o beijou, sem dúvida por desespero. Afinal de que outra forma podia fazê-lo parar de chorar? O beijo foi urgente, faminto.

   Gulf o beijou de volta, enrolou-se nele. Fizeram Amor silenciosamente, fora a respiração ofegante. Foi selvagem, exigente.

    Mas depois, em vez de sentir-se cheio e completo, Gulf sentia-se vazio e perdido.

  Na manhã seguinte Gulf sorriu para ele, falou com ele. Sim, com uma certa reserva, tensão. Mew não o cupou. Sabia que estava zangado. Mas era tudo muito novo.

   Gulf se acostumaria.

   Ele só precisava ser paciente.

   A viagem de volta a Bangkok foi cansativa. Gulf dormiu e ele o observou, como fizeram na ida.

   Mew o amava agora, não podia tirar os olhos dele. Gulf era maravilhoso. Ele fora abençoado.

Bodas de FelOnde histórias criam vida. Descubra agora