Cap 27: Por que?

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— Bom, foi tudo bem — Mew disse bruscamente enquanto abria a porta da bure depois de um excelente jantar e de uma noite de conversas para conhecer-se melhor.

  — Você acha? — Gulf disse ironicamente, porque, apesar de ter dado o melhor de si, ele não pensava que bem descrevesse a situação. Hipócrita seria mais exato.

   Gulf passou na frente dele e logo se arrependeu.

  A cama, que parecia ser do tamanho Kansas-size algumas horas atrás, agora parecia apenas um pouco maior que um selo de correio. Uma coisa é ir para cama com o homem que se ama se você pensar que ele pode achá-lo atraente, e outra é ir para cama com um homem que se virou e fugiu quando o surpreendeu nu.

    E agora não havia praia para fugir, nem lugares para passear. Estava tudo escuro preto aveludado, com assombrosas estrelas e constelações sobre as quais Thorn lhe ensinará. Mas Gulf não podia ficar lá fora a noite toda.

  — Você não achou? — Mew pareceu surpreso. Fechou a porta e lançou longe o sapatos. — Todos estavam passando bem, o lugar é maravilhoso, muito melhor do que eu esperava. O serviço parece muito bom, a comida fantástica.

   — Sim.

  — Art não me incomodou — disse Mew com suprema satisfação. — E quando você se acostuma com o formalismo,  Isogawa é um cara legal. Assim como a esposa. E eles obviamente pensam que você é maravilhoso. Eu também — Mew disse alegremente.

  — Porque? Porque assustei Art? Porque seu brilhante plano está funcionando? Isso não é maravilhoso?

   A testa de Mew se enrugou.

  — O que há com você ?

— Não há nada comigo! Nada mesmo.

  — Claro que há. Você estava tão cheio de suavidade e Luz esta noite. — Mew revirou os olhos.

  — Você não sabe nada sobre mim!

  — Diga-me você, então. Porque está zangado?

  A pergunta simples dele causou-lhe mais fúria.

  — Quem disse que eu estou zangado? — Gulf afastou-se, colocando a cama entre eles, quando Mew tentou se aproximar.

  — Adivinhei — disse ele arrastadamente.

   Os olhos deles se encontraram por cima da cama, os de Mew pétreos e furiosos, os de Gulf igualmente loucos. Mew passou a mão pelos cabelos e franziu as sobrancelhas.

  — Bem, deixe-me adivinhar.

   — Faça o que quiser.

  — É sobre hoje à tarde.

  Quando o Gulf não respondeu logo, Mew o aguilhoou. — Não é?

  — O que você pensa?

— Penso que estou fazendo o melhor que posso, com mil demônios — disse asperamente. — Muito bem, ótimo, eu peço desculpas! Mas não sou cego, Gulf! Se você não puxar as cortinas sobre a janelas, eu terei uma vista completa. Não posso evitar! Mas eu saí, não é?

  O queixo de Gulf caiu:

— O que?

   Mew ainda estava corado, os olhos flamejantes.

  — Se você não queria que eu o visse nu, porque demônios deixou as cortinas abertas quando tomou banho?

   Era por isso que ele pensava que Gulf estava zangado? Porque Mew tinha o visto nu? Não porque ficará tão repugnado pela imagem a ponto de sair do quarto?

  — Bem? — Exigiu  Mew quando ele não respondeu.

   Entorpecido, Gulf balançou a cabeça, ainda tentando entender. Finalmente, apenas pôde perguntar:

  — Por isso é que você saiu?

  —Você queria que eu ficasse lá olhando para você? Nossa Gulf agora é um exibicionista? — Seu tom era zombaria.

   — É claro que não. Eu precisava de uma chuveirada. Vinha de um banho de mar. A cascata era linda, convidativa, não como a banheira que posso usar todos os dias. E você estava dormindo! Eu não tentei seduzi-lo!

  — Foi exatamente o que imaginei. E que você estaria mais sedutor quando voltasse ao quarto. — Duros olhos negros encontraram os dele. — Assim sai.

  Mas Gulf estava preso a uma frase anterior.

  — Sedutor? — Ele repetiu a palavra como se jamais a tivesse ouvido antes. — Você pensou que eu estava...?

  Gulf olhou para ele, assombrado.

  — Você é sedutor como o inferno, Gulf kanawut — rosnou ele. — E apesar de eu ter adorado ficar ali vendo você cabriolar debaixo do chuveiro...

— Eu não estava cabriolando!— Protestou Gulf.

  — Não? Bem, dançando, então. Pulando. Você pulou. — Mew fez que isso soasse como uma acusação.

   Deus, quanto tempo Mew ficará o observando? Gulf sentiu que enrubescia.

— Você instigou — Mew disse de novo, com firmeza. —E eu não ia ficar satisfeito só com olhar. Ia querer mais. E isso não era parte do nosso acordo. Portanto eu saí.

  Oh.

  — Assim pedi desculpas — ele disse. — Foi tudo que consegui pensar em fazer naquele instante.

  — Tudo? — Disse Gulf antes que pudesse se conter.

   Seus olhares se encontraram outra vez, e ficaram presos. Eletricidade corria entre eles. Desejo, desejo ardente, frustração, necessidade. Gulf certamente sentia tudo isso e não tinha ideia do que Mew sentia do outro lado.

   Mew apertou os dentes.

— Não me tente, Gulf. Meninos que brincam com fogo acabam se queimando.

   Foi como se Gulf tivesse sido libertado, os medos banidos, o coração martelando.

  — Isso é uma promessa?

  — Pare com isso — disse Mew com voz brusca.  — Prepare-se para dormir. Já pedi desculpas pela cama, e não o farei outra vez.

   — Não me importa — disse Gulf.

  Mew o ignorou.

  —Vou sair e caminhar pela praia enquanto você troca de roupa. Pisque a luz quando estiver decente e debaixo do cobertor.  — Então, sem deixar que Gulf respondesse, ele abriu a porta e saiu.

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