Cap 31: Sorrisos

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— Recém-casados — Kaownah repreendeu-o, rindo de seu sorriso. — Parem de sonhar acordados e peçam seu café da manhã. Vocês estão me dando inveja.

   Gulf sentiu que enrubescia outra vez. Mas rapidamente sentou-se e uma das garçonetes instantaneamente apareceu com um menu.

   Finalmente pediu um copo de suco, um bolinho, uma omelete e uma xícara de chá. Podia comer uma refeição de um lenhador, mas não queria que ninguém pensasse que Mew casará com um guloso.  Precisava conduzir-se adequadamente, com dignidade, moderação e decoro desde que pudesse ser um libertino total na cama!

   Uma risada reprimida borbulhou.

  Kaownah e Kate olharam para ele, balançaram as cabeças, ainda sorrindo enquanto suspiravam. A Art olhou Gulf, Mew, e de volta para Gulf, depois se voltou para lançar olhares furiosos a Lhong, que mesmo assim não notou nada.

  Gulf ficou com pena dele e desejou poder ajudá-lo, especialmente porque devia a tentativa de Art de seduzir Mew sua atual felicidade. Pobre Art.

   — Ah, vejo que está alegre esta manhã. —O tailandês suave e preciosamente acentuado fez Gulf olhar para cima e ver a senhora Isogawa parada ao lado de sua mesa.

   — Estou muito feliz — Gulf lhe assegurou. — Acho que esse é o lugar mais maravilhoso do mundo!

  — Bom lugar — concordou a senhora Isogawa. — Lugar feliz. Conheci meu marido aqui.

  — É mesmo? Aqui?

  — Sim, sim. — Então ela olhou de solaio e disse algo ao marido em japonês.

   — É verdade — concordou ele. — Ela estava de férias com os amigos. Eu trabalhava aqui, projetando esses edifícios. Só que não podia tirar meus olhos dela. Consegui um modo de ser apresentado a ela. — Seu sorriso abriu-se. — E o resto é história, como vocês dizem.

  Gulf estava encantado. Era mesmo um lugar mágico.

  — Todos os anos nossa família também vem. Eles virão mais tarde, nesta semana. Nossos filhos e filha, e os netos. Talvez — ele disse — vocês virão futuramente e trarão sua família também.

  Gulf ficou com os olhos úmidos só de pensar nisso. Olhou para Mew, mas ele escutava algo que Lhong lhe dizia.

— Você não precisa ir às reuniões hoje — o senhor Isogawa lhe disse. — Se quiser aproveitar a ilha, meu assistente pode tomar notas e passa-las para você.

  — Eu gostaria de ir — respondeu Gulf. — É meu trabalho. Mas também queria muito ir. Normalmente não vejo Mew nessa parte de seu trabalho.

  O senhor Isogawa assentiu.

   — Muito bem. Desfrute seu café da manhã. Nós nos reuniremos em uma hora.

  Gulf desfrutou de seu café da manhã. E Mew, que estava sentado com Lhong e Thorn, pareceu desfrutar do dele.

   Mas de tempos em tempos ele olhava de relance para si. Seus olhares se conectavam e um canto da boca de Mew se elevava.

  E Gulf — lembrando-se da noite passada e pensando em todas as noites por vir sentiu que a alegria enchia seu coração outra vez.

   Os rapazes avançaram em Mew no instante em que entraram no bar, Lhong com massa de papéis, Esteve e Thorn com um monte de perguntas, demasiado absorvidos nas coisas que queriam falar sobre nanumi.

   Nanumi. Gulf dissera que significava recordar. E Mew sentia que tinha direito a fazer exatamente isso. No instante em que ele o levará de volta para a cama e o cobrirá com os braços, tivera a sensação de já haver estado ali antes. Todos os bips caleidoscópicos de memória sons, formas, toques, sentimentos que ele mesmo ocultará apareceram de volta. E quando fez amor com Gulf na noite anterior, sentiu como se tivesse juntado as peças de um quebra-cabeça que já montará antes. Ouviu ecos de palavras que havia escutado antes e teve sentimentos que já conhecia.

   Quando fizeram amor, Mew reconheceu um sentimento que nunca tinha experimentado antes daquela única noite há quatro anos — um sentimento que não experimentará desde então. Ele o perderá sem mesmo entender que o tivera — nos braços de Gulf teve outra vez um sentimento de ser bem-vindo, finalmente encontrando, depois de buscar a vida inteira, o lugar a que pertencia.

Com Gulf.

Gulf o amava.

  Ele havia dito isso ferventemente, ansiosamente, até mesmo desesperadamente ou pelo menos assim parecia.

  Muito parecido a como ele o amava.

  Mew até havia dito para ele. E isso o deixará espantado. Mew não podia lembrar-se de jamais ter dito essas palavras a ninguém em toda a sua vida. Mas com Gulf as palavras apareceram sem convite.

   Gulf as dissera primeiro, e talvez ele tivesse respondido.

   Mas Mew não pensava assim. Pensava que realmente o amava — e o amava há muito tempo.

  Isso o surpreendia, também. Claro que ele sempre gostará de Gulf, mesmo quando era um menino de 5 anos, banguela e de pernas tortas, que perseguia a ele e a Champ enquanto o observava crescer, Mew admirava sua determinação, sua inteligência, seus talentos.

  Certamente apreciou a ajuda dele quando veio trabalhar para ele pela primeira vez. Eles se divertiram muito. Mew sentiu a falta dele desesperadamente quando ele esteve na faculdade — porque tinha sido tão essencial para os negócios dele, pensará Mew na ocasião. E por essa razão, ele se assegurou, fizera de tudo para que Gulf voltasse depois da universidade.

  Era verdade. Mas não toda a verdade.

  Mew entendia isso agora. Por anos ele compreenderá que havia mais em seu relacionamento com o Gulf Kanawut do que queria admitir. Bem antes, quando ele estava no ensino médio, houve aquelas primeiras ferroadas da atração sexual, aquela percepção de suas curvas e pernas quilométricas, dos atributos masculinos que o transformaram de um garoto banguela de pernas tortas em um jovem homem atraente e delicioso.

  Um jovem homem demasiado bom para ele. Pelo menos até que o trauma da deserção de Tar o tivesse golpeado tanto que seus instintos assumiram o controle.

  Então ele ousou fazer a pergunta enterrada tão profundamente que nem usará pensar dela. Ele fizera o que seu coração desejava. Casara-se com Gulf.

   E arruinará tudo no dia seguinte.

  Mas não fora capaz de arruá-lo para sempre. Inteiramente por acidente, foi-lhe dado uma segunda chance. E ele estava feliz. Mas que feliz. Estava na lua.

   Na noite anterior Gulf fizera com que ele se sentisse vivo, inteiro. Como ninguém o havia feito sentir em toda sua vida. Outras pessoas, outras famílias amavam. Não a sua.

   Mas nada disso importava porque agora Gulf o amava. Ele mostrará esse amor na noite anterior. Durante toda a noite. E essa manhã, quando você suponha que ele deveria estar prestando atenção ele continuava olhando para Gulf durante o café da manhã. E Gulf olhava de volta, sorrindo.

    Mew também sorria porque nunca em sua vida ele se sentirá assim. Era o mesmo Mew Suppasit de sempre. O mesmo rapaz do lado pobre, filho de pais vencido, que passará a vida lutando para tentar tornar-se alguém — e o conseguirá.

   Mas ele se sentia renascido. Vivo. Nada do que ele ganhará ou conseguirá chegava perto de descrever o presente que Gulf lhe dera com seu amor.

  — ... Ouviu uma palavra do que eu disse? — A voz áspera de Lhong penetrou o nevoeiro que tapava o cérebrode Mew.

  Mew arrancou sua atenção brevemente de contemplações bem mais interessantes.

Bodas de FelOnde histórias criam vida. Descubra agora