Cap 20: Seu Gulf?

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O senhor Isogawa estava no cais quando o hidroplano chegou.

  Um homem garboso em seus 60 e tantos anos, com cabelos cinzas acerados e um pequeno e eriçado bigode, ele era exatamente como o Mew o havia imaginado — um marechal de campo estrito e de fala suave, um homem com padrões e expectativas.

  Ele se inclinou e apertou a mão de Mew, mas antes que este pudesse apresentar os outros, disse:

   — Venham. Iremos para o hotel. Eu os apresentarei a minha mulher. Ela está esperando para conhecê-los. É bom que todos estejam aqui. Nanumi é um lugar para famílias.

  Ele se virou e capturou o olhar de Gulf. Viu?

   Gulf sorriu levemente e acenou.

  A Cabana onde chegaram era um edifício baixo, esparramado, de madeira nativa, vidro e sapê que dava para uma baía em forma crescente. Mew tinha visto fotos dele, é claro. Mas pessoalmente era ainda mais impressionante que nos retratos — não apenas uma bonita estrutura mas uma harmoniosa extensão da Ilha do pacífico onde se construiu um paraíso de cartão-postal. Ao lado dele, Gulf estava sem fôlego, admirado.
 
  Sam mal o teria notado. Ele passará tanto tempo no Caribe seu pai tinha uma ilha lá que a beleza tropical não era novidade para ele.

  Mas Gulf ficou claramente encantado com a ilha, o resort e o hotel em que estavam entrando. Era uma sala espaçosa com teto alto, um lado todo de vidro e a céu aberto, frente a baia. Um bar de bambu se curvava sobre uma das extremidades, e grupos de poltronas e sofás, todos os estofados com desenhos polinésios coloridos, dispostos em volta de mesas baixas.

   — Aqui no sentaremos. — O senhore Isogawa gesticulou na direção deles. — E agora você vai nos apresentar, Mew-San?

  Mew o fez. O senhor Isogawa sorriu, inclinou-se E, aparentemente por boas maneiras, apertou a mão de todos os homens e suas respectivos maridos e esposas. Foi tudo muito cordial, muito adequado. E então Mew tomou Gulf pela mão e o apresentou.

  — Eu gostaria que conhecesse meu marido, senhore Isogawa. Este é Gulf.

— Gulf? —A distante polidez do senhor Isogawa desapareceu. Primeiro olhou para Mew e, abruptamente, girou seu olhar para Gulf. — Esse é Gulf? Você se casou com o meu Gulf?

  — Seu Gulf? — Foi a vez de Mew o olhar fixo enquanto o senhor Isogawa se adiantava e batia no braço de Gulf para que ele se virasse e o olhasse de frente.

    Gulf estava sorrindo. Um sorriso amplo, mas quase tímido, enquanto aprovava com a cabeça.

  — Sim. Ele se casou comigo, quero dizer. Perante o que o senhore Isogawa bateu palmas, deliciado, e lançou um amplo sorriso de boas vindas. Inclinou-se ante Gulf — uma referência muito mais profunda do que qualquer dos outros havia merecido e, agarrando as duas mãos dele nas suas, começou a falar rapidamente com ele.

   Em japonês.

  Mew olhava fixamente para tudo isso.

  — Ele não...

  Mas aparentemente elefalava, porque Gulf começou a falar, também. Em japonês.

  — Desde quando — perguntou ele — você fala japonês?

  Gulf terminou o que estava dizendo para o senhor Isogawa antes de voltar-se para ele e encolher-se levemente.

  — Lembra-se de Tommy Nakamura, meu colega de quarto na  UCLA?

— Não. — O máximo que se lembrava sobre Gulf na UCLA era como tinha sido endemoniadamente inconvenientes os quatro anos que ele passou lá. Voltar para casa nos Verões nunca tinha sido suficiente. O que ele se lembrava da UCLA era ir até lá para a formatura dele e arrastá-lo de volta para Bangkok!

— Tome era japonês americano. Mas seu pai certificou-se que todos os filhos falassem a língua materna. Fiz com que ele me ensinasse. Quando você começou a fazer negócios com o senhor Isogawa, eu experimentei com ele. — Ele sorriu. — O senhor Isogawa pensa que sou muito esperto.

  A cabeça do senhor Isogawa inclinou-se  concordando.

  — Gulf é muito esperto. Trabalha muito. É lindo, também — murmurou. E ele ainda não soltará as mãos de Gulf, observou  Mew.

  O que os homens tinham com as mãos de Gulf?

  Foi quando o senhor Isogawa disse algo mais em japonês para Gulf, e ele enrubesceu e mostrou sua mão esquerda para que o senhor Isogawa a inspecionar-se.

   Mew sentiu uma coceira entre as amoplatas quando o senhor Isogawa levantou o dedo dele para examinar os anéis em silêncio. Eram apenas simples anéis de Jade. Arte nativa. Nada de valor nem particularmente bonitos. E era óbvio que o senhor Isogawa pensava que Gulf era ambas as coisas.

  Mew subitamente desejou ter ficado com a pedra da Tiffany e insistido para que ele usasse. Sam sabia o que estava fazendo. Ele por outro lado, deixou seu sentido de negócio ser cegado por conhecer Gulf.

  Mas então o senhor Isogawa sorriu. E esse foi um sorriso diferente dos outros. Parecia vir de dentro. Ele segurou a mão de Gulf para que Mew a tomasse.

  Lentamente, Mew a pegou.

  Então o senhor Isogawa olhou para Gulf e disse:

   — Sono yubiwa, o 'suki desuka?

— Se eu gosto deles? — Traduziu Gulf. — Oh, sim! — Ele aquiesceu veementemente. — Quero dizer, hai. Certamente que sim.

  O sorriso no rosto dele se aprofundou enquanto o senhor Isogawa aprovava com a cabeça.

  — Eu também. — Ele voltou seu olhar para a Mew. — Vejo que você escolhe bem.

E Mew não pensou que ele falava dos Anéis.

   Seu rosto subitamente ficou quente.

  — Penso que sim. Estou feliz que o senhor concorde.

  Ainda sorrindo, o senhor Isogawa aquiesceu. Depois girou e acenou para uma mulher que pairava nas sombras da extremidade da cabana principal. Ela tinha quase a mesma idade dele, muito pequena e lindamente vestida com um sarong de seda que parecia refletir todas as cores do mar.

   — Minha esposa — disse o senhor Isogawa. — Toshiko.

   Um por um ele a apresentou a todos. E quando chegou a Gulf, os olhos da mulher se acenderam, e os de Gulf também. Se inclinaram um ao outro e sorriram muito adequadamente, e logo estavam de mãos dadas, conversando como velhos amigos.

— Suponho que você conheceu a senhora Isogawa também — murmurou o Mew.

  Gulf riu.

  — Quase isso. Nós nos conhecemos pelo telefone. Ela está aprendendo tailandês quando o senhor Isogawa me contou, eu me ofereci para ajudar. Nós praticamos juntos, não é? — Gulf disse lentamente em tailandês para que a mulher pudesse entender.

  — Gulf é um bom professor — a voz da senhora Isogawa era suave, mas sua pronúncia era clara e precisa. — Muito inteligente.

  — Estou vendo. — Mew via mais do que jamais houvesse imaginado.

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