CAPÍTULO 4 (GISELE)

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_ Obrigada por me atender fora do horário, doutora. _ falei com a psicóloga me despedindo.

O dia de hoje foi o pior em mais de 15 anos, e olha que já passamos por muito tiro, porrada e bomba, literalmente. Helena e eu discutimos logo de manha e assim que chegamos à empresa, seu pai estava sendo levado por uma ambulância para uma cirurgia de emergência. O coitado enfartou quando descobriu que foi roubado e está falido, logo, tivemos que segurar a bomba na empresa e encarar todos os cabeçudos. Agora, cá estou eu após uma sessão que consegui fora do horário de atendimento da minha psicóloga pra preparar as forças para o que está por vir.

Graças às sessões semanais de terapia eu ainda sobrevivo no meu emprego. As vezes me pergunto como eu agüento, mas logo me recordo da promessa que fiz ao senhor Carlos quando fui contratada.

A quase dezesseis anos atrás eu estava na pior. Meus pais eram funcionários de confiança da família Fernandes, minha mãe era secretária e meu pai segurança. O senhor Carlos havia prometido férias aos dois no mesmo período como em todos os anos e estávamos programando uma viajem para Cancun. Combinamos que dormiria na casa de uma amiga e eles iam me pegar de manha e ir direto para o aeroporto. Iríamos meus pais, meus avós paternos, minha avó materna e eu, ou seja, minha família completa, já que meus pais eram filhos únicos e meu avó paterno já não estava entre nós. Fiquei pronta e ansiosa no horário combinado, esperei trinta minutos... uma hora... duas horas... quatro horas... oito horas...mas eles nunca mais apareceram. Dez dias depois e senhor Carlos me encontrou na casa da minha amiga e se compadeceu da pobre órfã sem nenhum responsável mais próximo e resolveu me levar pra sua casa.

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_ Eu sei que deve ser difícil pra você perder toda a família em um acidente de carro, mas eu gostaria de te propor um abrigo. Eu só quero uma coisa em troca.

Meus olhos estavam assustados e o choque ainda era presente em minha face. Eu nunca mais poderia voltar pra casa. Dali eu só tinha duas opções, aceitar as condições do senhor Carlos ou ir para um reformatório, já que os pais da minha amiga souberam que todos os orfanatos estavam com superlotação e era pra lá que eu iria até conseguir uma vaga.

_ Qual é a condição? _ perguntei ao senhor todo de preto a minha frente. Mesmo com apenas 14 anos eu era capaz de perceber que aquele era um homem frio e sombrio.

_ Eu tenho uma filha da sua idade, e ela não tem um bom relacionamento com as pessoas e é tão soberba quanto eu. Vive muito sozinha e não tem nenhum amigo. Ela precisa de alguém doce e gentil como você ao lado dela. É a minha única esperança para que ela não se torne uma pessoa como eu _ disse sincero

_ O senhor não é um homem sem coração _ respondi.

_ Sua inocência me encanta, mocinha. Mas não sou nem de longe um homem bom.

_ O senhor só não percebeu ainda, mas eu percebo _ observo aquele homem olhar distante pela janela do carro preto que nos levava a caminho da sua casa por alguns segundos e resolvo continuar _ O senhor ama sua filha, se não amasse eu não estaria aqui.

Foi impossível não notar uma única lagrima rolar pelo seu rosto lentamente. Depois de aproximadamente 30 minutos eu tomei a iniciativa de quebrar o silencio.

_ Eu aceito a sua proposta. Serei a melhor amiga da sua filha.

_ Eu prometo que você será muito bem recompensada _ respondeu pegando em minha mão com o olhar esperançoso.

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Quando cheguei naquela enorme mansão de estilo imperial, fria e escura e dei de cara com a Wandinha da família Addams eu quase saí correndo. Mas eu tinha feito uma promessa e iria cumprir. Tenho que confessar que os dois primeiros anos foram terríveis. Durante 6 meses ela não me dirigiu uma palavra sequer, depois de tanto insistir ela começou a me dar ordens, aos poucos eu consegui ganhar sua confiança e ela passou a se abrir comigo, hoje com certeza eu sou a pessoa que sabe mais da vida dela do que ela mesma. Claro que ela nunca dá o braço a torcer e nunca assumiu que somos amigas, mas eu sei que no fundo ela me ama tanto quanto a amo e só faz essa pose de durona para me proteger.

O senhor Carlos nunca me deixou faltar nada. Tinha boas roupas, boa alimentação, nós estudávamos em uma excelente escola e depois fomos juntas para a melhor universidade do país.

Quando eu completei 18 anos ele me entregou um cartão com uma conta bem gorda que segundo ele era um pagamento pelos meus serviços nesses anos de companhia a sua filha. Justificou que como eu era menor de idade não poderia me contratar de acordo com as formalidades e assim fez depósitos regulares desde então. Aí me tornei oficialmente a assessora pessoal de Helena, com um ótimo salário mensal de 5 dígitos que me atende muito bem já que quando a própria se tornou maior nos mudamos para uma cobertura luxuosa e não preciso me preocupar com despesas.

O trabalho é bem cansativo. Suas responsabilidades como vice presidente de uma multinacional tão renomada é muito estressante e eu sou seu braço direito em tudo, desde quando acorda até a hora de dormir. Cuido de sua agenda e tudo relacionado à sua vida pessoal e profissional.

Além disso tem sua vida dupla cheia de aventuras pelo mundo, a última lhe rendeu um estado de coma por mais de um mês. Eu quase fiquei louca, praticamente tive que substituí-la na empresa e Carlos nem ao menos deu trégua.

Assim que juntar uma boa grana pretendo comprar ações em alguma empresa e continuar vivendo uma boa vida de madame. Não que isso já não aconteça, pois vivo uma vida luxuosa com minha amiga, roupas de grife, jóias, melhores boates do mundo, viagens quinzenal e as vezes somos citadas nas mídias como as solteiras mais cobiçadas do país. Normalmente nossas diversões são sempre em países diferentes e ela sempre se disfarça bem dos cliques de paparazzis, por isso não somos muito expostas. É claro que eu curto muito e sempre saio com os mais gatos e ricos pois não sou boba, Né.

Ela já é um pouco mais complicada nesse quesito. Nunca fica com ninguém e tem um jeito muito peculiar de escolher suas presas para satisfazê-la. Se não fosse por mim ela ainda seria virgem. E olha que tive que insistir por quase um ano até ela aceitar e normalmente é muito criteriosa, mas quando ela está no nível mais critico de mau humor eu sempre tenho que intervir. Mas se contar nos dedos das mãos quantos foram ainda sobram. As vezes eu acho que ela gostou mesmo foi do primeiro, os outros foram só passa tempo carnal.

Ela é um mulherão de deixar qualquer marmanjo aos seus pés, tem a pele morena e olhos negros. O cabelo é preto liso e comprido como um véu até o meio do bumbum, corpão definido e seios fartos sem exageros que ela faz questão de mostrar nos decotes profundos que tanto ama, tudo bem proporcional, inclusive com a parte de trás.

Uma vez uma revista de fofoca ofereceu recompensa para o cara que já tivesse transado com ela.

Coitados... nem eles mesmos sabem...

Apesar de ser tão geniosa e quase nunca sorrir, ela tem um bom coração. Sei que aquilo tudo é só uma máscara de proteção e só precisa encontrar a pessoa certa pra quebrar aquele gelado.

_ Senhorita? _ Éliot, o motorista, me desperta dos meus pensamentos _ Chegamos.

_ Ah, me desculpa. Toda essa situação está me deixando atordoada. Obrigada!

_ É perfeitamente compreensível.

Desci do carro e entrei no prédio apressada, peguei o elevador que não demorou muito e logo estou no nosso andar. Tudo que eu quero nesse momento é tomar um bom banho e cair na cama.

 Tudo que eu quero nesse momento é tomar um bom banho e cair na cama

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