CAPÍTULO 62 (NICHOLAS)

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"Doutor Nicholas Vasconcelos, favor comparecer a emergência"

Pedi licença as familiares de Helena e corri até a sala de emergência do hospital. Certamente trata-se de um caso grave.

Definitivamente, vou pedir férias nos próximos dias. Já estou atingindo meus limites extremos de cansaço dessa rotina louca. 

_ Acidente de trânsito, caminhão desgovernado colidiu com carro de passeio _  a enfermeira informou assim que cheguei na sala, observando a chegada da ambulância 

_ Paciente taquicardica, sem identificação, duas perfurações no tórax, uma no abdômen e membro inferior esquerdo amputado _ a paramédica já chegou com uma enxurrada de informações arrastando a maca em minha direção. 

A moça apresentava um quadro gravíssimo, consciente, mas delirando. Me aproximei analisando a situação, ela tinha uma parte das ferragens do carro ainda atravessando provavelmente entre o coração e o pulmão. Aparentemente não havia muito o que fazer a não ser tentar aliviar a dor e o sofrimento. Seria impossível realizar uma cirurgia de remoção e se tirássem os objetos ela certamente não resistiria. Ordenei a enfermeira administrar morfina e afastei os cabelos longos para tentar entender suas palavras quase inaldíveis.

_ Meu filho… salva meu filho… _ murmurou 

Paralizei imediatamente encarando a mulher naquela maca dizendo coisas desconexas enquanto um flash de memórias invadia minha mente 

Dois anos atrás….

_ Bom dia! Fiz misto quente _ fui recebido com um beijo e um enorme sorriso assim que entrei na cozinha. 

Amanda parecia empolgada. Havia um brilho diferente em seus olhos.

Nos conhecemos no início do ensino médio e dividimos o sonho de cursar medicina na melhor universidade do país. Ela tinha acabado de perder os pais e foi morar com a única familiar viva, uma tia avó. Passamos três anos literalmente com a cara nos livros e depois de muito esforço, conseguimos. 

Foi aí que atravessamos três mil quilômetros pra dividir um apartamento próximo a universidade. Estudávamos durante o dia e trabalhávamos a noite em um restaurante pra bancar as despesas básicas. Por seis anos conseguimos manter essa rotina e conquistar o tão sonhado diploma. 

Logo eu consegui uma residência em cirurgia cardiovascular e Amanda preferiu a neurocirurgia, ambos no mesmo hospital que trabalho hoje.

Éramos melhores amigos inseparáveis e não tínhamos muito tempo para sair, conhecer outras pessoas, namorar ou coisa assim. Por isso, um belo dia, Amanda me apareceu com uma proposta bem tentadora e eu acabei aceitando sem pensar duas vezes.

Ela sempre foi muito bonita. Tinha olhos verdes e cabelos negros longos superlisos, um corpo esbelto com as curvas certas. 

O combinado era pegar sem se apegar, uma amizade colorida como ela preferia definir. Eu tinha minhas necessidades e ela também, era só unir o útil ao agradável.

Deu muito certo por um tempo, até que percebi que eu havia me apaixonado. Sempre dormíamos juntos, mas essa noite nossos plantões não coincidiram e acabei passando a madrugada inteira em claro, pensando em uma forma de me declarar e propor algo sério.

Tínhamos um bom salário, uma condição estável, podíamos comprar um apartamento maior e quem sabe até dois filhos e um cachorro.

_ Bom dia _ retribui o sorriso e o beijo e sentei em um dos acentos da bancada _ Chegando de plantão assim tão animada? Noite tranquila?

_ Que nada. Cirurgia de doze horas e um monte de residentes curiosos _ disse colocando o prato com dois mistos caprichados a minha frente 

_ Há dois anos você também era uma, não se esqueça _ provoquei servindo um copo de suco.

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