Feliz

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Hoje, é um daqueles dias que me fazem lembrar que moro na Costa Oeste do Oregon, mas precisamente em Sirius Falls.

Sirius Falls é uma cidade pequena no estado do Oregon, com uma praia pouco visitada, não recebemos muitos turistas. Pinheiros e montanhas tomam a maior parte da cidade. Madeireiros e Ativistas brigam constantemente, sempre há noticias sobre eles no jornal local. Os verões não são muito quentes, são chuvosos, e o inverno frio, mas com pouca neve. Sirius Falls foi fundada em 1900 pela família Agostini, que na atualidade, restam poucos. Muitas das construções são de cem anos atrás.

Meus olhos pesavam depois de certo tempo lendo uma ficção que April Ross havia me deixado. Acordei com a visão turva, e deparei-me com aqueles olhos azul lago. Algo em mim ficava feliz em revê-lo.

- O que você esta fazendo aqui? – perguntei, colocando-me em pé.

Charlie soltou um leve sorriso, deixando a mostra seus lindos dentes brancos e alinhados, como se fosse filho de um dentista, que o proibirá de comer doces em toda sua vida.

Ele me observava da poltrona. Eu tinha muitas perguntas, mas não sabia como formula-las sem ofendê-lo. Nada parecia fazer sentido.

- Eu fico pensando sobre o que você acha que eu sou...

- Há uma confusão em minha cabeça sobre o que você é.

Charlie caminhou em direção à janela, parou e a observou. Encarei a sua silhueta.

- Você realmente quer saber o que eu sou? – ele sentou-se próximo a mim. - Eu estou morto!

- Não! – eu ri. – Não, não pode ser.

- Eu estou morto! Eu não sei como eu continuo aqui. – ele me olhou. – Sua mão atravessou o meu corpo, como você explicaria isso?

As palavras de Charlie eram pesadas. Ele realmente estava morto?

- Você é um fantasma? – proferi.

- De certa forma, sim!

O crepúsculo exibia os últimos raios de sol do dia. Dei-me conta que passei a maior parte da tarde dormindo. A noite logo chegará e sua escuridão cobrirá todo o céu.

Charlie ainda estava aqui, em silêncio. Era verão, mas a sua presença era gélida. Eu conseguia sentir a sua soturnidade e introspectividade. Charlie me acompanharia na madrugada de insônia.

- Quanto tempo se passou desde o dia na loja de disco?

- Pouco mais de um mês. – respondi olhando-o.

- Para mim, foi como se fosse ontem. O tempo parecer não passar.

A chuva se iniciará novamente, a única coisa que é ouvida é seu barulho sobre o telhado e o cantar dos ventos.

Os dias passavam voando, as férias de verão estavam chegando ao fim. Em menos de um mês eu precisaria retornar para a escola novamente, isso não era nada animador para quem precisaria ir para uma escola nova, onde não conhece ninguém. Mas eu não me importava, aquele seria o meu penúltimo ano do ensino médio. Em três anos tudo seria diferente, eu estaria estudando Belas Artes em New York. Sirius Falls e papai ficariam para trás.

Nesses dias atípicos, Charlie me visitava; se é que é essa a palavra que eu posso usar. Ele era a pessoa mais próxima – alem de vovó – que eu poderia chamar de amigo. Conversávamos sobre livro e canções. Charlie tinha um gosto peculiar sobre músicas melancólicas. Ele costumava citar trechos de musicas antes de desaparecer por mais dois dias.

Charlie e eu parecíamos mais próximos. Todas as madrugadas, eu esperava que ele me visitasse, a ansiedade me acompanhava nos dias que ele não aparecia. Charlie me deixava feliz.

Seres das Sombras - O ValeOnde histórias criam vida. Descubra agora