Seres das Sombras - O Vale

O último Adeus

- Acorde Victoria! Você terá um longo dia pela frente. – senti os dedos de Adam tocar meu rosto.

Abri lentamente meus olhos enquanto o alvorecer iluminava o quarto e Adam parecia mais cansado do que a noite anterior, seus olhos pareciam incomodados com a claridade.

- Espere! Eu tenho algo para...

- Eu não vejo um desses há anos. – Adam sorriu para o livro em minhas mãos. – O Livro das Sombras. Como o conseguiu?

- Ganhei de Laura Allen.

- Ah, claro, Laura! – Adam ainda o observava, com certa curiosidade. – Ele jamais se revelou para mim.

Adam contou que sua primeira experiência com o Livro não foi muito boa. Ele sentia medo do livro, de suas figuras. O que fazia com que sua mãe perdesse a paciência. Ela o dizia que o livro não iria o morder e que não tinha dentes. Certa vez ela o perguntou se ele era um homem ou um Goblin. Adam a respondeu que era um Goblin, o que a deixou muito furiosa.

- Se eu não me engano, os Goblin estão no sexto capitulo. – ele falou e em seguida, folheou o livro.

Capítulo VI, Goblin.

Os Goblin são criaturas horrendas, de pele verde com orelhas e narizes pontiagudos. Fazem brincadeiras de mau gosto. Eles são servos das conhecidas e malignas, Black Annis.

Como mata-lo: Apunhale-o no coração.

Adam me ensinou mais técnicas de como lidar com os Seres das Sombras e de como colocar tudo isso em prática.

- Um. Encare seu inimigo nos olhos, intimide-o, bom a menos que ele seja um Ser das Sombras. – começou. – Dois. Fique sempre atenta ao ambiente a sua volta, e em seguida, estude-o. Três. Relaxe, nunca entre em pânico, não demonstre medo ao seu inimigo. Quatro. Tenha equilíbrio do seu corpo.

Adam se aproximou.

- Mantenha seus pés afastados. Nunca os deixem próximos. – ele falou enquanto circulava ao meu redor. – Segure sua espada com sabedoria. Observe os movimentos de seu oponente, eles costumam repeti seus próprios movimentos.

Adam levantou sua espada, e em um golpe inesperado, derrubou-me no chão enquanto a ponta da lâmina encostava-se a meu pescoço.

- Você estaria morta! – ele afastou a espada. - Vamos! Levante!

Ataco-o com um golpe fraco. Ele contra-ataca, retirando minha espada, que cai para longe.

- Vamos Victoria Miller, você pode fazer melhor que isso!

Corro em direção a minha espada, deslizo e pego-a. Palmas se iniciam e ecoam na Sala de Treinamento.

- Era disso que eu estava falando!

Golpes e mais golpes eram proferidos enquanto o crepitar das espadas se chocavam no ar. Contra-ataco. Adam levantou a espada fazendo o sol refletir sobre a lâmina, cegando-me.

- Isso foi golpe baixo! – reclamei.

- Não, se você estiver aprendendo! Você poderá usar esse truque para se aproximar e matar seu inimigo.

Lutamos por horas que não percebemos o dia passar. O sol já se escondia por de trás das montanhas. A lua já era quase visível.

...

Em quinze dias de treinamento não encarei nenhum Ser das Sombras, Laura pediu que eu não me preocupasse, pois logo eles apareciam, e em qualquer lugar, com isso eu precisaria ser mais cuidadosa com os humanos.

- Quando aparece um, eles logo apareceram como um enxame de abelhas. – falou ela. – Sirius Falls já foi mais habitado por eles, no passado.

Como prometido a tia de Lexia chegou à cidade. Allison Raeda é tão animada quanto Lexia. Jovem e cheia de vida. O cabelo longo, cacheado e ruivo, lembra a personagem Mérida.

Cheguei as cinco no cemitério, e Tom chegou às cinco e quinze. Eu o esperava encostada em um pinheiro gigantesco.

- Quantas pessoas já se foram, e quantas já foram esquecidas?

Ao longe, avistamos o tumulo rosa de Monalisa, um pouco desbotado pela neve e chuva que caíram nos últimos meses.

- Eu a visitei no Natal. – Tom sussurrou. – Nevou naquela noite, e eu não me importava. Foi à única visita que ela recebeu naquele dia. Os pais estão prestes a deixar a cidade, e abandona-la para sempre, ela será esquecida... Ela já foi esquecida, mas não por mim. Ela sempre estará em meu coração.

Enquanto caminhávamos para mais próximo do túmulo, uma leve névoa caía sobre nós.

- Hoje pela manha recebi uma visita, eram os pais de Monalisa, Sr. e Sra. Ulric. Eles me disseram que acharam algo enquanto colocavam as coisas para doação. Encontraram uma carta que continha o meu nome e sobrenome e o seu.

- O meu nome?

- Sim! – ele respondeu. – Sra. Ulric me disse. Eles despediram-se de mim e pediram que eu ficasse bem. "Deixaremos Sirius Falls para trás" foi o que ela me disse, antes de partir.

Tom remexeu os bolsos da calça e retirou um envelope e em seguida entregou-me.

- Gostaria que lesse para mim e também para você.

"Querido Tom Foster,

E posteriormente, Victoria Miller.

Isso não é nada fácil para mim, escrever sobre sentimentos.

A única certeza na vida é que, não viverei para sempre, mas sei que preciso de você para o resto de vida que ainda tenho. Só assim saberei que vivi o grande amor que todos devem viver pelos menos uma vez na vida.

A vida é como uma jornada, umas mais longas que as outras, mais nenhuma insignificante. Com a bússola certa podemos chegar a qualquer lugar. Podemos navegar por mares agitados ou caminhar por labirintos infinitos até encontrarmos a nossa casa, ou o coração de quem amamos.

Tom, todos deveriam ter o prazer de ter você na vida delas. Eu tive essa sorte, entre sete bilhões de pessoas no mundo, eu encontrei você, a pessoa que jamais ofenderia alguém, que jamais faria mal a alguém.

Victoria Miller, quando a vi pela primeira vez, eu senti inveja de você, de seu coração puro como de um animal. Inveja de como Adam a olhava, o olhar que jamais o vi olhar para outra garota. O olhar de quem encontrou o seu grande e único amor.

Eu peço desculpas a você, Tom. Desculpas por não demonstrar o que sinto. Seus corações sãos tão puros quanto algo intocável pela humanidade.

Eu sinto muito, por ser quem sou.

- Monalisa, o seu grande amor."