Caos e Tranquilidade

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Abro meus olhos, e uma luz branca ofusca a minha visão, fazendo com que meus olhos se semicerrem.

O teto branco feito à neve é a primeira coisa que vejo. Procuro por algo familiar e meus olhos param quando encontram Adam, sentado em uma poltrona branca no canto direito da sala, ao seu lado, em outra poltrona também branca, está Lexia adormecida, com o cabelo ruivo e desgrenhado.

- Ei?! –viro-me na cama, noto que estou vestindo uma camisola branca. Adam levanta a cabeça que até então estava voltada para seus pés - Onde estou?

- Ei?! Como está se sentindo? – ele olha em direção a Lexia e em seguida, retorna seus olhos a mim. – Ao que tudo indica você teve um desmaio.

- Quanto tempo eu fiquei desacordada? - passo a mão na testa e sinto dor e o que parece ser um curativo.

- Cerca de duas horas? Você bateu com a cabeça... - a porta rangeu, e uma enfermeira loira entrou na sala.

A enfermeira virou-se em minha direção com um sorriso cansado, como se estivesse fazendo plantão desde a madrugada anterior.

- Senhorita Miller, como você está se sentindo?

Tento me sentar na cama, mas meus braços estão fracos, e com uma agulha enfiada no esquerdo – que traz algo para dentro do meu corpo. Uma tentativa em vão.

- Fraca! – respondo-a. – Só estou sentindo-me um pouco dolorida. - sorrio.

- Sra. Miller, terei que lhe pedir para não se levantar novamente durante as próximas horas... - a caixa de som a interrompe.

Todos os enfermeiros compareçam ao quarto 76. É uma emergência...

Essa foi à mensagem que a voz robotizada anunciou.

- O dever me chama! – a enfermeira fala e em seguida, sai pela porta.

A porta se fechou logo atrás da enfermeira de cabelos loiros. Passos apressados ecoavam pelo corredor. Senti um par de mãos sobre as minhas. É Lexia, ela parece passar-me forças.

- Você nos deu um enorme susto! O professor Tom, de musica, passou mal ao ver seu sangue, quando bateu com a cabeça. Ele estava aqui, mas disse que a sua fobia de sangue já havia aguentado o bastante e acabou se retirando. - ela sorri e continuou a tagarelar - As aulas de teatro e musica foram canceladas, fazendo os alunos comemorarem. - ela está bocejando. - Preciso pegar um café! Meus olhos estão se fechando. - notei que Lexia ainda segura a minha mão.

Meus olhos procuram por Adam e o encontram, olhando através da janela. Lexia então solta minha mão, parece fazer com que minhas forças acabem novamente. A porta se fecha novamente. Agora apenas Adam e eu na sala. E o vazio.

- Por que está aqui?... – pergunto. - Não que eu não quisesse... Mas... É que...

- Pode não parecer, mas eu me preocupo com você - ele não se vira, continua a encarar o horizonte ao longe.

Adam se importava? Ele acabará de dizer isso em voz alta. Tudo ficou em silencio. Suas palavras pareciam ecoar em direção ao um abismo sem fim, para onde vão as palavras expressadas sem respostas.

Vejo a luz do pôr do sol refletido na parede e as silhuetas de alguns objetos.

- Será que você poderia me ajudar aqui? - tento consolidar meus braços na cama, e dessa vez consigo.

Adam vira-se em minha direção. Seus olhos difusos me encaram.

- Você não deveria... – ele para de falar por um instante. - O que você vai fazer? – ele se aproxima.

- Quero ver esse por do sol! - ele sorri enquanto pega a minha mão.

A pele de Adam é tão macia quanto às nuvens, não que eu tenha tocado-as, mas elas parecem macias. Apoio-me em seu ombro e ele passa seu braço sobre a minha cintura. Nossos corpos se encontram pela primeira vez. Puxo o suporte de soro junto a mim. Caminhamos até a janela. A janela alta e que ocupa grande parte da parede, com a vista para a cidade toda.

O céu está em tons de laranja e vermelho, como se estivesse em chamas. Adam parece maravilhado. Só percebi agora com esse pôr do sol, que os olhos dele são de um preto tão intenso que parece com a Escuridão.

- O caos e a tranquilidade. – sussurrei e encostei a minha mão no vidro.

O silencio novamente nos consome. Pela janela, eu via a escuridão reinar. O laranja e o vermelho haviam dado lugar a azul escuro, quase preto, na noite que logo chegarás.

- Eu preciso ir. – ele se levanta da poltrona. – Até breve!

Ele se vira e caminha em direção à porta, coloca sua mão na maçaneta, mas alguém do lado de fora a abre primeiro.

É vovó.

Ela o encara, fica olhando-o até ele sumir de sua vista.

- Quem é ele? - vovó parece zangada.

- É um amigo...

- Ele não é uma boa pessoa. Precisa se afastar dele, urgente.

Seres das Sombras - O ValeOnde histórias criam vida. Descubra agora