O dia começou com gosto de café gelado. Chovia lá fora e o vento soprava forte. A minha rotina nos finais de semana eram de passar o dia inteiro na cama e evitar encontros com o meu pai. Evitar, essa é a palavra que Leonardo domina de olhos fechados todos os dias.
Todos os livros que havia em meu quarto – e não eram poucos – eu já havia lido e relido milhares de vezes. Os CDs não eram muito diferente, seguido dos filmes. A Old Discs costuma esconder relíquias em meio a sua bagunça, e com isso quase sempre encontro algo para completar as minhas coleções de coisas antigas.
As ruas estavam molhadas pela recém-chuva que cairá pela manhã. Em dias como esse, uma lembrança sempre regressa:
Eu não tinha mais de dez anos na época. Sra. Rachel liderava um passeio escolar ao Museu Central. Descemos do ônibus e andamos por algumas quadras, algo no topo de um prédio chamou a minha atenção, era um pássaro, mas não um pássaro qualquer. Eu não sabia que espécie ele era, suas penas eram de um turquesa magnífico. Registrei aquele pássaro com uma velha câmera fotográfica que eu havia comprado por cinco dólares no inicio das férias de verão. Depois de algumas fotos, eu estava sozinha. Havia apenas rostos desconhecidos. O pânico me consumiu e por alguns segundos, eu senti paz ao ver um rosto. Era ela, Elizabeth, minha mãe. Ela me olhou com seus olhos grandes e azuis, feito o oceano. Em seguida, entrou em um taxi.
Quando me encontraram, eu estava em pânico. Desde então, dias chuvosos me lembram de Elizabeth. E lá no fundo, eu sabia que aquela mulher de olhos azuis não era ela.
Como previsto a Old Discs me recebeu com o cheiro de café e a mesma musica de sempre. Sr. Mitchell acenou em minha direção e em seguida retornou seus olhos a um livro que lia.
Enquanto eu remexia alguns discos de Rock uma voz soou baixa atrás de mim.
- Há dois tipos de pessoas no mundo. – Charlie fala se aproximando. – As que acordam cedo no final de semana e as que dormem até tarde.
Eu queria abraça-lo e nunca mais o soltar. Queria fazer que ele me prometesse nunca mais partir. Mas não fiz nada disso.
- Eu não tinha o habito de dormir muito. – ele para por um momento e me observa. – Eu a esperei a manhã toda, mas você não apareceu.
- Eu sinto muito. – aproximo-me dele. – Posso sentir a sua mão? – eu precisava muito toca-lo.
- Claro!
Charlie estende a mão em minha direção e em seguida, seus dedos longos tocam o meus. Toca-lo era como tocar a neve. Seus olhos azuis observavam cada movimento que minha mão fazia. Em um movimento inesperado, Charlie solta a minha mão.
- Deve ser desagradável tocar alguém tão gelado quanto o inverno. – ele fala enquanto observa seus punhos cerrados.
- O inverno sempre foi a minha estação favorita!
- Eu queria poder senti-la. – ele sussurra observando a porta.
Charlie e eu caminhamos para casa, lado a lado, mas só eu podia vê-lo. Contei a ele sobre Elizabeth e que dias chuvosos lembravam ela. Mas tarde, procurei pela foto do pássaro no sótão, o encontrei em uma velha caixa empoeirada. Charlie observava a foto enquanto meus olhos pesavam. Charlie foi o ultimo rosto e o primeiro que vi pela manhã. Ele sorriu quando eu reabri meus olhos e o procurei desesperada. Ele não havia partido durante a noite, ainda estava aqui.
Pela janela, eu observei o sol fraco da manhã brilhar.
- I could stay lost in this moment forever. – Charlie citou olhando-me nos olhos.
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Seres das Sombras - O Vale
FantasyAlgo de obscuro parece pairar sobre Sirius Falls, onde as Sombras espreitam cada passo de Victória Miller. Tudo pareceu ter inicio no seu décimo sexto aniversario, naquela velha e misteriosa loja de discos. Seus flashbacks e apagões aparecem antes d...