Ao Mar

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O dia pareceu estar em luto. O céu havia amanhecido em um tom de cinza quase preto.

O corpo estendido no asfalto na noite passada era de Alicia Foster, ela estudava na Sirius School e estava no ultimo ano, participava do jornal da escola e era amiga de Holanda Lopez. Hoje ao anoitecer acontecerá um memorial para Alicia. Grande parte de familiares, alunos e professores estarão lá. O jornal local apenas informou sobre a morte de uma garota, não disseram o seu nome e nem a idade, e logo em seguida a apresentadora âncora do jornal anunciou a previsão do tempo.

Lexia encarou Leonardo nos olhos hoje. Ele descia a escada quando ela o avistou. Seus olhos fúnebres a surpreenderam.

- Vocês nunca conversam? – quis saber ela.

- Eu parei de tentar! – respondi, fechando a porta atrás de mim. – Por anos ele me ignorou. Ele prefere enfrentar a escuridão sozinho.

Quando o crepúsculo tomava a cidade em um tom de um azul índico, Lexia caminhou em direção ao seu carro.

...

Victoria não sabia como caminhou até a Old Discs, não se lembrava de nada além do até logo de Lexia. Seus olhos se esbugalharam ao ver aquela velha loja, onde tudo parecia ter começado. Um frio soprou seus cabelos e um sussurro chamando seu nome foi ouvido. Algo a tocou, um toque gélido, ela poderia achar que era Charlie, mas ao ver seu rosto, ela soube que não era.

Aquele rosto não se parecia nada com o de Charlie, era envelhecido e feminino. Olhos redondos, maça do rosto caída e o cabelo lembrava a neve se derretendo. Agora ela segurava forte o seu braço, tão forte que ela tinha certeza que a marca de suas mãos ficariam ali na manhã seguinte.

- Não diga a eles... – a voz da mulher era aguda. – sobre o garoto fantasma, Charlie. Não diga nada a eles.

- Charlie? – a voz da garota soou cética.

- Você não sabe quem realmente é! – a senhora soltou o braço de Victoria. – Precisa descobrir logo... Antes que Ele chegue. Todos terão que escolher um lado, inclusive você Victoria Miller.

Victoria fechou os olhos por alguns segundos desejando que tudo aquilo acabasse, que fosse apenas mais um de seus sonhos obscuros. Ela poderia desejar o tanto que quisesse, mas aquilo era tão real quanto o pai que a ignorava todos os dias.

Seus olhos se reabrirem e a senhora de cabelo desgrenhado se dissipará como a silhueta do estranho debaixo do salgueiro. E por fim ela a ouviu sussurrar:

- O tempo esta acabando... Você foi predestinada.

...

No segundo seguinte minha mente tentou negar, mas no fundo eu sabia que aquilo realmente havia acontecido e também que o atemporal era real, a silhueta debaixo do salgueiro, Charlie e aquela mulher que pareceu saber mais sobre mim do que eu mesma.

O ar salgado tomou minhas narinas e um emaranhado de pessoas surgiu ao meu redor, estremeci ao toque quente de Lexia.

- O que houve com você? – Lexia me segurava pelo pulso agora.

- Perdi a noção do tempo na Old Discs. – omiti alguns fatos.

Um garoto de óculos escuro entregou-me uma vela e logo em seguida ele acendeu-a.

- A Alicia Foster! - ele levantou a sua vela.

No instante seguinte, a escuridão foi iluminada por velas. Todos juntos caminharam para perto do mar, e as velas foram soltas em um barco de madeira junto a fotos e cartas.

- Entregamos-lhe ao mar Alicia Foster! - gritou o garoto de óculos. - Libera eam in mari.– ele falou em outro idioma.

Sobre o céu da meia noite ele lançou seus óculos ao mar.


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Até logo! <3

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Seres das Sombras - O ValeOnde histórias criam vida. Descubra agora