Temporal

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Lexia me levava à escola agora, pois vovó se encontrava ocupada nos últimos dias. Todos os dias uma música diferente do Justin Timberlake tocavam no radio de seu Mini Cooper vermelho.

Abri a janela e rapidamente avistei o carro de Lexia em meio a uma neblina espessa, parecia noite, mas já se passavam das sete da manhã. Larguei o pincel que estava em minha mão. Na tela sobre o cavalete, um campo de flores amarelas ao pôr do sol se encontrava inacabado.

Desci a escada e observei Leonardo em sua velha poltrona, com a mão direta segurava uma caneca de café fumegante e com a mão esquerda, segurava um jornal do ano de 1999. É o jornal com a matéria que saiu sobre o falecimento de Elizabeth. Talvez, ele procure por algo que deixou passar ou tente solucionar o caso, já que a polícia nem se quer tentou investigar na época. Ele nunca acreditou que Elizabeth cometeria suicídio, ele nunca se deixou levar por essa história.

Fechei a porta atrás de mim e corri e direção ao carro de Lexia.

- Bom dia. – eu disse fechando a porta do carro.

- Bom dia. - respondeu ela. - Que dia de merda para se dirigir. – Lexia bufou. - Olha essa névoa! Eu odeio dirigir com cautela.

A pista estava molhada, não era possível ver nada a não serem as placas sinalizadoras e os poucos faróis dos carros que passavam na pista contrária. A rodovia estava caótica, um congestionamento emergiu logo à frente.

- Ontem Pedro e eu saímos para tomar café e estudamos juntos. – Lexia começou a falar.

- Um encontro? – eu quis saber.

- Não, eu não chamaria de um Encontro. – ela me olha agora. – Pedro tagarelou a tarde toda sobre as aulas de Economia e como o Mr. Huron é ranzinza...

O Blues que tocava na rádio local parecia soar mais alto que Lexia, mesmo se eu me concentrasse em sua a voz, ela parecia distante.

- CUIDADO. – eu gritei e longo em seguida senti o sangue escorrer da minha testa.

- Ai meus deuses. - Lexia falou desesperada. – Sua testa está sangrando e sua pupila esta dilatada.

Lexia parou no acostamento e procurou por algo em sua mochila.

- Lenços de papeis. - ela me entregou. – Como você sabia que um cervo atravessaria a rodovia?

- Eu não sei. – sussurrei. – Eu apenas senti!

Lexia não proferiu mais nada durante o caminho. Foi aliviante avistar a escola entre as névoas. O primeiro período de Lexia era Economia, ela se despediu com os livros de cálculos nos braços e correu em direção à sala de número três. Encarei o minúsculo armário cinza metálico por certo tempo.

- O que aconteceu com sua testa? - perguntou Adam encostado em seu armário.

- Houve apenas um pequeno incidente. - olhei-o. – Não foi nada de mais!

O primeiro sinal soou e todos os alunos desapareceram em um piscar de olhos, exceto por Adam que ainda se encontrava aqui.

- Você andou faltando as aulas – falei, guardando minha jaqueta jeans.

- Então quer dizer... Que você sentiu a minha falta? - respondeu ele, abrindo a porta do seu armário e guardando alguns livros. Uns adesivos de bandas e uma foto com os amigos sorridentes toma a maior parte do armário.

- Talvez! – eu disse observando a foto.

- Ei!!! – disse uma voz.

Eu e Adam nos viramos no exato momento que uma luz ofuscante nos atinge e logo em seguida um click.

- É para o jornal da escola. - disse a garota de óculos e cabelo curto, se afastando.

- Tudo bem! - respondeu Adam sorrindo. - Foi ela quem tirou essa foto. - Adam falou e apontou para a foto em seu armário.

-E o baile de Halloween? Você tem uma acompanhante? - perguntou Monalisa, entrando em minha frente.

...

No almoço eu escutava Monalisa e Cameron discutirem sobre o impacto da indústria da moda sobre o planeta.

- Qual é a necessidade de usar a pele de um animal se hoje em dia há sintéticas?

- Sintéticas não são nada parecidas com as de animais! – rebateu Monalisa.

- O Adam pediu que eu lhe entregasse. - interrompeu a garota do jornal. Monalisa agarrou o exemplar de jornal da mão da garota. - E-Ele pediu para entregar a Victoria Miller. - completa a garota, Monalisa largou o exemplar sobre a mesa.

A garota me entregou. Monalisa puxou novamente o jornal, leu e me encarou com desdém, se levantou e lançou o jornal em uma lixeira.

-O que foi isso? - perguntei. - O que tinha nele?

- Você pode ficar com meu exemplar, se quiser! – Cameron falou, lançando o jornal sobre a mesa.

Meus olhos pousaram sobre o jornal, na capa estava à foto que a garota havia tirado mais cedo, com a seguinte manchete: Conheça os alunos que fariam belos casais.

- Eu me chamo Hollanda Lopez. - disse a garota do jornal, com um sorriso amigável.

Mais tarde naquele mesmo dia, o céu estava escuro como se houvesse uma batalha entre os Deuses do Olimpo acontecendo.

Quando a primeira gota de chuva tocou o chão pareceu o fim. Trovões mediam forças contra relâmpagos cintilantes. Que jorravam claridade contra a cortina que permanecia fechada, mas que parecia estar escancarada. Os raios dançavam no céu, uma exibição com pouca plateia, mas ele parecia não se importar. A chuva batia no telhado que parecia ser feito de papel e qualquer momento iriam se rasgar e jogar todo aquele caos para dentro. Inundando-me, levando-me a morte, a paz.

Queria que Charlie estivesse aqui para assistir a esse temporal junto a mim.

E por fim, tudo ficou no mais completo silêncio e amanheceu. Os pássaros cantaram, as pessoas acordaram e a vida continuou. 

Seres das Sombras - O ValeOnde histórias criam vida. Descubra agora