Charlie

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- VOCÊ ESTRAGOU A MINHA VIDA E DA ELIZABETH, SEU NASCIMENTO FOI UM ERRO, UMA DESGRAÇA.

Lágrimas emergiram dos meus olhos.

Fazia muito tempo que não ouvia isso. Quando meu pai tem dias ruins ele me fala coisas ruins, que me fazem pensar em desistir. Eu fico imaginando como seria a minha vida se a minha mãe ainda estivesse aqui. Meu pai seria alguém melhor?

O peso das palavras me dominou.

Corri em direção ao meu quarto. Bati a porta atrás de mim. Tropecei antes mesmo de chegar à cama. Soco a madeira, fazendo machucar a minha mão. Fico ali mesmo no chão sentindo as lágrimas descerem como lavas de um vulcão.

– Victoria, eu estarei sempre aqui por você!

Ele me puxou para levantar do chão gélido. Abraçou-me com seu peito acolhedor. Charlie tem o dom de me colocar para cima nos dias ruins.

- EU QUERO ACABAR COM ISSO! - gritei, lágrimas emergiram de mim novamente. Charlie se aproximou e me puxou para ele, abraçando-me novamente.

- Eu sei que você não tem a melhor vida e muito menos o melhor pai, mas, ainda tem a sua avó, que a ama muito. - ele me observava com seus olhos azuis. - Dias ruins todo mundo tem, mas eles passam.

- Eu quero ir com você!

- Talvez não esteja pensando direito agora, irá se arrepender. Aqui não é um lugar bom para você, e para ninguém.

Eu o observei se afastar e em seguida, parar em frente à janela.

- E como é lá? - refiro-me ao lugar que Charlie fica, quando não esta aqui.

Charlie parecia fascinado com um feixe de luz que atravessa o quarto.

- É horrível... Sombrio, barulhento e frio. É um inferno pessoal.

Aproximei de Charlie e o observei colocar a sua mão sobre o feixe de luz que o atravessou como se ele não fosse nada.

Certa vez, Charlie me explicou que ele precisa se esforçar muito para se manter sólido, para ser sentido por outra pessoa, mas ele não sente nada.

- Sabe do que eu mais sinto falta?

Com movimentos, eu neguei. Os seus olhos agora me observavam atentamente.

- De sentir o sol aquecer a minha pele. – Charlie se afastou novamente, se sentou na poltrona e observou seus pés se moverem. – Eu não sinto nada! Não sentir nada é a pior sensação do mundo, deixar de existir seria melhor.

- Desculpe-me, eu querer morrer deve ser um insulto para você. – finalmente falei.

- As arvores que gritam, acaba fazendo todos enlouquecerem, cedo ou tarde.

Aproximei-me dele, que agora observava os últimos raios de sol do dia. A única coisa que conseguir fazer foi abraça-lo, e ele me abraçou de volta, o frio me abraçou.

- Você me deixa forte. – ele falou quase imperceptível.

- Charlie? – ele me olhou. – Prometa-me, que nunca irá me deixar?

- Eu prometo a você, Victoria! 

Seres das Sombras - O ValeOnde histórias criam vida. Descubra agora