Uma Volta no Tempo

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Enquanto o meu corpo entrava em estado de letargia, visões e sonhos oscilavam em minha mente, mas uma se estabilizou e eu pude revivê-la novamente.

Era inicio de janeiro, o frio e a neve tomavam Sirius Falls. Adam me puxou para dentro do Smoothing Pub para fugirmos dos flocos de neve que inusitadamente caiam. O lugar estava completamente vazio, exceto pelo garçom de cabelos enrolados assistindo The Big Bang Theory por de trás do balcão, ele ria do episódio e demorou certo tempo para perceber que não estava mais sozinho. Na ultima mesa, uma pessoa solitária observava a neve cair. O letreiro neon iluminou seu rosto por um instante.

- É o Oliver? Oliver Eger. – Adam sussurrou e no segundo seguinte se aproximou. – O que houve com você?

Hematomas e sangue seco cobriam seu rosto e em seu olho esquerdo havia uma mancha de sangue, ele estava péssimo, parecia atordoado e distante.

- Aconteceu de novo. – começou ele, enquanto Adam se sentava a sua frente. – Dessa vez foi diferente, ainda pior! Ele chegou bêbado em casa, já era tarde, eles discutiam sem parar, ele passou dos limites quando lhe deu um tapa na cara e a ameaçou, eu não aguentei ver aquilo. Fui para cima dele, dei-o um empurrão, foi quando ele me acertou, revidei, ele enlouqueceu e proferiu socos sem parar. Ele apenas parou quando ouviu a sirene da polícia ecoar e iluminar o seu rosto coberto pelo o meu sangue. – os olhos de Oliver agora me observavam.

- Eu sinto muito. – foi tudo o que eu consegui dizer.

- Onde eles estão? – Adam socou a mesa.

- Em algum bar da cidade. – ele deitou a cabeça sobre a mesa. - Sabe o que mais dói? É que ela o seguiu como um animal domesticado.

- Eles são seus pais? – perguntei.

- Não! – ele me olhou novamente e a esperança em seus olhos pareceu se apagar. - Jenna Eger infelizmente foi obrigada a me adotar, quando descobriram que restava alguém vivo da minha família. Eu vivi até os oito anos no Orfanato Charlotte. Tudo piorou quando Sean Holden, um viciado em heroína entrou na vida de Jenna. Há dez anos sobrevivo com eles. – Oliver se levantou. – Quando uma criança é adotada, você não espera que ela cresça e revele ser homossexual, infelizmente, crianças crescem e se tornam tão imperfeitos quantos adultos.

- Deixe-me ajuda-lo, Oliver!

- Você não pode Victoria. – ele enxugou uma lagrima. – Ninguém pode me ajudar! Eu estou quebrado, vim com defeito ao mundo.

- Não Oliver, você precisa entender que nem todo defeito é necessariamente ruim e que sempre ha uma esperança por mais escuro que pareça estar, sempre haverá uma luz e uma mão amiga para puxa-lo da escuridão e traze-lo de volta a luz. – Adam segurou o seu ombro. – Eu estou com você, nós estamos com você.

Quando o relógio avisou que já era meia-noite e que o Smoothing fecharia, Oliver pareceu mais calmo enquanto tentava sorrir. Ele relutou, mas aceitou o convite de passar o resto da noite em minha casa.

Como previsto, a casa estava completamente silenciosa e escura. Leonardo provavelmente estava investigando casos e certamente não voltaria para casa tão cedo, ele estava comprometido com o trabalho.

- É estranho não saber o que realmente aconteceu com nossos pais ou o que se passava em suas cabeças quando nos deixaram.

Oliver Eger tinha algumas semanas de vida quando foi abandonado em frente ao Orfanato Charlotte, sobreviveu à noite de Natal mais fria que Sirius Falls teve naquele inverno.

- Milagre de Natal, elas me chamaram, as freiras. – Oliver se calou por um tempo. – Olho para alguns rostos envelhecidos e me pergunto, será ela a minha mãe?

- Eu costumava ver minha mãe em todos os rostos de mulheres que eu cruzava na rua, com o tempo isso simplesmente parou. Eu me sinto livre. Livre daquela angustia que me perseguiu por anos.

- Eu ainda espero pelo dia em que me livrarei da minha angustia.

Oliver parecia confortável no colchão inflável próximo a minha cama, o roxo em seu rosto era ainda mais visível e ele parecia mais frágil do que já mais pareceu. Ele parecia cansado quando se virou para o canto. O quarto foi tomado pela escuridão quando apaguei o abajur.

- Victoria? – ele sussurrou. – Adam tem sorte de tê-la a encontrado.

Adam Agostini a observava sorrir enquanto ainda se encontrava em estado de letargia. Quando aquela lembrança terminou, ela reabriu os olhos lentamente e apenas borrões eram visíveis. E do outro lado da cidade, Oliver Eger dizia adeus silenciosamente a Sirius Falls, a noite anterior foi demais para o garoto e o peso do mundo estava o esmagando, ele precisava enfrentar seus demônios sozinho. Apertou firme contra o peito o urso de pelúcia chamado Hope, que Victoria havia lhe dado.

- Eu sinto muito Victoria, eu me perdi novamente. – ele sussurrou deixando a cidade para trás.


Seres das Sombras - O ValeOnde histórias criam vida. Descubra agora