O Que Eu Sou?

228 16 1
                                    

O alvorecer do dia começou chuvoso. Minha jaqueta pingava quando adentrei a porta da escola, alguns outros alunos também molhados abriam seus armários. Encontrei Lexia também abrindo seu armário, ela estava intacta.

- Ei! – falei, me aproximando.

- Ei! – um sorriso abriu em seu rosto. – Eu odeio chuva.

Lexia odiava chuva e o frio. Os dias de verão eram os seus preferidos, éramos diferentes, eu gostava da chuva.

- O meu primeiro período é teatro, e o seu? – ela perguntou, guardando uma das jaquetas no armário.

- Matemática! – respondi, retirando meu livro do armário e levantando-o no ar.

- Boa sorte! – ela falou se afastando. – Eu a vejo no almoço? – gritou ela, soando mais alto que as outras pessoas.

- Claro! – falei, e a observei sumir entre os outros alunos.

Guardei a minha jaqueta molhada no armário e em seguida fechei-o. Dois pares de olhos caleidoscópicos me observavam. Seus cabelos negros respingavam no chão. Adam.

- Você é a dona do armário ao lado! - afirmou ele.

Fiquei observando Adam retirar do armário alguns livros. Ele sorriu e caminhou em direção oposta a que eu seguiria.

...

Os meus períodos antes do almoço passaram-se arrastando. Eu caminhava entre os armários quando percebi os olhos de uma garota sobre mim. Uma garota que parecia ser nova na escola. Loira e com algumas mechas azuis, seus olhos penetrantes ainda me encaravam, enquanto eu continuava a andar.

Escutei passos apressados e pesados e em seguida, sou empurrada com força para a parede, ela me imobiliza, como se fosse uma lutadora desde que nascerá.

É a garota de mechas azuis, ela apertava o braço sobre a minha garganta enquanto me olhava com raiva. O corredor estava vazio, havia apenas a garota e eu.

- O que você é? - perguntou ela, furiosa e com a voz firme. Franzi o cenho.

Olhou-me nos olhos. Seus olhos penetrantes parecem penetrar até a alma, a procura dos mais obscuros segredos. Apertou ainda mais minha garganta, quase não me deixando respirar.

- Nada que seja da sua conta! - respondi, empurrando-a o mais forte que posso. A garota cai no chão. A sua gargalhada ecoa no corredor ainda vazio.

- VOU DESCOBRIR O QUE VOCÊ É! - gritou ela em um tom ameaçador. – Cedo ou tarde.

Adentrei o refeitório ofegante. Procurei por Lexia, não a encontrando. O almoço parecia durar séculos sem a companhia dela. Meus olhos pairavam sobre as escritas do livro de matemática. O sinal soou e eu segui em direção à sala de biologia.

As palavras daquela garota ecoam em minha cabeça, tirando toda a minha atenção da aula. O som estridente do sinal me tirou do transe, em meu caderno havia escritas em outra língua que eu não conseguia entender. Fechei o caderno e sai rapidamente da sala.

O dia ficaria ainda mais estranho.

O professor de pintura de cabelos longo e preso em um rabo de cavalo se apresentou enquanto a chuva ainda caia forte lá fora, ele se chamava Daniel. Quando novamente o sinal soou, eu não me lembrava de ter feito aquilo. Era uma pintura.

Havia um vale com arvores secas e todos os elementos se juntavam a uma pessoa. Tudo em tom de preto e cinza.

Analisei todos da sala, ninguém parecia me observar. Meus olhos se fixaram em uma pessoa, Adam. Ele pintava graciosamente. Seus cabelos presos atrás da orelha, para não cair sobre o rosto enquanto pintava. Sua camiseta branca estará suja de tinta, um azul ciano.

Seres das Sombras - O ValeOnde histórias criam vida. Descubra agora