Estranho

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Sirius Falls amanheceu com um nevoeiro espesso e eu o observava através da janela do SUV antigo de vovó. Uma freada brusca lança meu corpo para frente. Uma fila de carros emergiu a frente, por pouco, a SUV não colidiu com a traseira de um Sedã.

- Você esta bem, Victoria? – vovó analisa meu rosto.

Foi apenas um susto, eu estava bem. Disse isso a ela, o que a deixou aliviada. Carros e mais carros avançavam lentamente, os faróis avermelhados se perdiam de vista. Era raro ver a interestadual lotada de carros. As montanhas que cercavam Sirius Falls estavam encobertas pelas névoas. A Sirius School foi projetada para abrigar os moradores de grandes desastres naturais que aconteciam com mais frequências no século anterior. Ela fica situada aos pés da montanha Agost, a maior montanha da cidade e o único acesso a ela e por uma estrada estreita e acentuada. A escola é tão segura quanto uma prisão de segurança máxima.

À frente, no acostamento uma viatura da policia e uma ambulância foi revelada. As luzes de suas sirenes iluminavam nossos rostos, enquanto um policial sinalizava o transito. Meus olhos se fixaram no corpo coberto por um pano branco deitado no asfalto, os pés descalços estavam à mostra. Pela falta de médicos tentando reanimá-lo, deduzi que já estava morto, a sua pele ganhava um tom de cinza.

Uma silhueta debaixo de um salgueiro chamou a minha atenção. Um capuz escondia seu rosto. Eu não precisava ver seus olhos para saber que estava encarando-me. O tempo pareceu congelar enquanto ele ainda me encarava, mesmo que eu tentasse, não conseguia tirar meus olhos dele. Um frio intenso percorreu minha espinha. O atemporal foi quebrado pelo crocitar de um corvo sobre a sirene da ambulância. Voltei meus olhos ao salgueiro. Não havia nada, a pessoa se dissipará como um sonho.

Não contei isso à vovó. Não sabia se era real ou apenas uma ilusão.

- Ei Victória, você acabará reprovando em álgebra. - Lexia sussurrou.

Dei de ombros e continuei a ler um clássico de Edgar Allan Poe.

- E então, senhorita Heidemann? O que acha? - todos da sala se viram para mim, inclusive Lexia.

Ruídos começam a emergir do alto falante - todos os alunos se viram para encara-lo. A voz ficou nítida em alguns segundos.

- Comunicando importante - anuncia a voz, que soa familiar - O baile de Halloween será organizado pelos veteranos. Falaremos mais sobre o assunto na hora do almoço. Obrigado! - essa voz é de Adam.

O sinal soa mais alto que a voz do Mr. Johnson. Todos saem apressados, inclusive Lexia e eu.

Seguimos para o refeitório central. Ao chegar à porta, Lexia me para e encosta suas mãos em meus ombros.

- Como eu estou? - pergunta Lexia.

- Como você esta? – perguntei sem entender.

- Pedro...

Annabel para o lado de Lexia. Seus olhos furiosos encaram-nos. E em seguida, ela sibila:

- Saiam da frente! Vocês não são fantasmas, não ainda!

- Isso é um ameaça? – Lexia a encarou.

Annabel deu de ombro e entrou no refeitório.

- Qual é o problema dela? – eu perguntei.

- Annabel e Adam namoravam antes das férias de verão.

Eu descobriria também, que havia rumores sobre o término deles. Um deles era, que Annabel teria o traído, com um parente próximo dele. Não havia motivos para Annabel me odiar, Adam e eu não éramos nem próximos.

Enquanto uma leve chuva caia, os veteranos falavam sobre o baile de Halloween. O diferencial do baile seria que as garotas chamariam seus pares. Adam não participou. Um livro em sua mão parecia mais importante que o comunicado.

A noticia da morte que ocorrerá mais cedo chegou em forma de burburinho ao meus ouvidos. Era uma jovem, ela havia sido assassinada. Assassinatos era algo raro em Sirius Falls o que deixou todos apreensivos.

Ao sair da escola eu percebi como o dia havia passado rápido. Eu tinha algumas horas livre até que vovó me levasse para casa. Horas livres que usaria na Biblioteca Central em uma pesquisa da cidade para a aula de Historia Americana.

O vento frio balançava meus cabelos enquanto eu caminhava pelas ruas, que pareciam diferentes. O sol brilhava fraco, ainda era dia. A biblioteca me recebeu com uma rajada de ar quente, as suas luzes amareladas que iluminavam as grandes prateleiras de livros eram aconchegante. As poucas pessoas que habitava o local se encontravam nos computadores antigos.

Havia algo de estranho nos olhos da senhora por detrás do balcão de atendimento. Algo naqueles olhos negros deixava-me desconfortável.

- Com licença. – eu falei, mas ela já me olhava. – A sessão de livro sobre a história da cidade, onde fica?

Ela levou a xícara lentamente à boca e deu dois goles do liquido negro. Seus olhos se voltaram a mim e a senhora apenas levantou o dedo longo e torto em direção ao andar de cima da biblioteca.

- Obrigado! – eu a respondi. Ela não disse nada, abaixou seus olhos e continuou a ler uma velha revista.

A escada rangia em cada degrau que eu pisava, parecia tão velha quanto à cidade. Ao topo, havia uma grande janela de vidro. Caminhei em direção as ultimas fileiras de livros. Meus passos foram interrompidos por sussurros que ecoavam da escuridão.

-... Tempo, tempo, tempo. – a voz falou. – Eu preciso de mais tempo!

Era ele, a silhueta que me encarou mais cedo. Meu corpo estremeceu e tudo o que eu consegui fazer foi me esconder atrás de uma prateleira, meu braço direito se chocou contra ela e um livro despencou do alto. Um estrondo, agora ele sabia que eu estava aqui.

O piso de madeira rangeu e novamente um estrondo foi ouvido. Espreitei entre os livros empoeirados. O estranho bateu a porta com tanta força que a fez abrir-se novamente e apenas um vulto foi visto. Ele era rápido, se eu quisesse descobrir sua identidade, precisaria segui-lo.

Aproximei-me da porta, onde havia a mensagem: Não entre, apenas para funcionários. Adentrei, no final do corredor pouco iluminado, havia outra porta que se fechará com brutalidade. Abri a porta de ferro e um vento levantou meu cabelo. Era a saída.

Entre o crepúsculo azul escuro, ele corria. O estranho em um longo Sobretudo preto desapareceu em uma curva.


Seres das Sombras - O ValeOnde histórias criam vida. Descubra agora