Seres das Sombras - O Vale

Luzes Artificiais

- Há rumores da ultima Caçadora de Sangue Negro. – Laura se virou e em seguida guardou sua espada em seu arsenal. – E o Conselho está prestes a acreditar nesses rumores, eles podem ser cruéis. O primeiro ano após ser Iniciada é o mais difícil, existe os Seres das Sombras, como você já sabe, eles acabam matando os jovens Iniciados. – ela agora segurava uma adaga em sua mão. – Essa adaga é feita de Turmalina Negra, ela é poderosa e mata boa parte dos Seres das Sombras, a partir de hoje, ela pertence a você.

- Por que o Conselho Soberano pode ser cruel?

- Porque eles são gananciosos e há séculos não veem Caçadores de Sangue Negro. – ela se aproximou. – Se a encontrarem você será o novo rato de laboratório. Todos os Caçadores desejam o poder do Sangue Negro e dariam suas vidas por ele.

- Mas por que eu? Por que depois de tanto tempo uma Caçadora de Sangue Negro surgiu novamente?

-Eu não sei!

Eu estava frustrada sentada na única poltrona do ambiente e novamente nada parecia fazer sentido. Ser a última Caçadora de Sangue Negro não parecia ser fácil, era um grande fardo em uma longa jornada.

– Tenho algo para você, é chamado de O Livro das Sombras. – observei Laura retirar um livro grande e escuro de uma prateleira empoeirada. - Há pouco deles ainda circulando e nas mãos erradas, pode ser um grande mal para a humanidade.

Agarrei o livro das mãos de Laura, era pesado e não parecia poder ser carregado em uma bolsa. Parecia haver algo de errado com ele, suas paginas estavam em branco e na capa não havia nada escrito.

- O livro tem proteção contra humanos. – ela finalmente anunciou – Você precisa ser mais que humano para vê-lo. Em voz alta fale, Manifeste-se.

Aos poucos as escritas foram pintando as páginas de um preto profundo, revelando um novo mundo. Figuras de Seres das Sombras pareciam amedrontar qualquer um que ousasse encara-las. Era tão surreal quanto segurar uma espada.

- Ao ser fechado, ele volta a ser um simples livro. Vamos! Tente, diga para que ele se revele.

- Manifeste-se! – eu disse e como o esperado, nada aconteceu. - Manifeste-se. - repeti. Nada.

- O Livro precisa sentir a verdade em seu tom de voz.

- Manifeste-se. – com mais clareza pronunciei.

Os segundos pareceram virar horas, mas ele se revelou. Nada mais que algumas páginas, aquele era um começo. Laura explicou que isso era normal, que o Livro levava certo tempo para confiar em você. Ele sabe quando esta sendo utilizado para o mau ou para o bem, ou até mesmo, pela primeira vez.

Sobre a luz de um abajur eu relia as primeiras páginas reveladas. Memorizando-as como uma fórmula de matemática.

CARO CAÇADOR,

ESSE LIVRO FOI DESENVOLVIDO NO SECULO XIX, E É PROTEGIDO POR MAGIA NEGRA, CONTRA A ÁGUA, O FOGO E A ESCRITA. ESTE LIVRO FOI PENSADO PARA APROFUNDAR SEUS CONHECIMENTOS DO MUNDO DAS SOMBRAS E A SUA FORÇA.

GUARDE-O COM O SEU SANGUE, ATÉ QUE SUA BATALHA SEJA CESSADA.

ESTE LIVRO PRECISA SER PRESERVADO, E DEVE SER PROTEGIDO DOS CRÉDULOS, E JAMAIS DEVE SER TOCADO PELAS MÃOS IMUNDAS DE UM SER DAS SOMBRAS.

LEMBRE-SE, QUE SE USA-LO PARA O MAU, ELE JÁ MAIS SE MANIFESTARÁ NOVAMENTE PELA SUA VOZ.

Algumas horas mais tarde, ele revelou mais algumas paginas.

Capítulo I, Hellhound.

Esse Ser é conhecido como Cão Infernal, essa besta pode ser domesticada por impuros e assim receber ordens. Suas pelagens são negras e os olhos vermelhos como o fogo, são ferozes e terríveis.

Como mata-lo: Decapite-o e queime-o até restarem apenas as suas cinzas.

Capítulo II, Bakhtak.

Mais conhecidos como os criadores dos pesadelos. São magros, de peles acinzentadas, olhos fundos e vermelhos. Suas vitimas ficam sem poder se mover ou respirar.

Como mata-lo: Apunhale-o no coração.

Capítulo III, Fetch.

Toma a aparência de alguém e se passa por ela sem que ninguém perceba. Alguns dizem que os Fetch nascem junto a nós e permanece conosco sempre à espreita para assumir o nosso lugar. Ele pode ser visto em sua aparência real por quem está sendo replicado. Sua aparência real é magra e seus olhos são vazios, sem vida.

Como mata-lo: Apunhale-o com a espada banhada em enxofre.

Capítulo IV, Espectro.

Espectro ou Fantasma é a figura de alguém que não está vivo ou que está à beira da morte. O ambiente a sua volta está sempre frio e melancólico, esses Seres não causam nenhuma ameaça, mas em alguns casos, a fúria e o sofrimento podem lhe tornar malignos.

Como Mata-lo: Queime seus ossos.

Eu não sabia quais eram os motivos que prendiam Charlie a essa dimensão, amor, ódio, promessas ou talvez algo mais complexo. Imagina-lo como um Ser das Sombras não era uma opção. Seus olhos eram ofuscantes como centenas de faróis em uma noite escura.

Meus olhos pesavam, e as escritas se confundiam. Fechei o livro e apaguei o abajur e através da janela, observei a lua em seu auge. Adormeci com o canto das cigarras e acordei com o estralar da madeira, com os olhos ainda semicerrados avistei uma silhueta.

Com rapidez e agilidade, agarrei a adaga de Turmalina Negra, e o acertei com um chute no abdômen. Com mais agilidade ele revidou e no segundo seguinte, meu corpo se chocou contra o chão, rapidamente puxei-o pelo pé, derrubando-o e apontando a adaga para o seu pescoço. Ele riu.

- Eu poderia ter te matado, Adam!

- Mas não matou Victoria.

- O que você faz aqui?

- Passei para ver como estava a sua agilidade, e para lhe contar algo. – ele estendeu a mão em minha direção. – Oliver, ele está de volta!

- E como ele está? – perguntei com entusiasmo. – Eu preciso vê-lo.

- Oliver me disse a mesma coisa.

Quando meus olhos avistaram Oliver Eger sobre uma luz neon, ele correu em minha direção e me envolveu em um abraço quente e demorado. Seu cabelo cheirava a canela e os seus olhos brilhavam novamente.

- Eu sinto muito, Victoria.

- Está tudo bem, Oliver!

Sobre a noite de poucas estrelas, mas de muitas luzes artificiais, seus corações batiam sincronizados. Três amigos caminhavam sobre a orla da praia e o mundo parecia pequeno para eles. Sentiam-se como super-heróis, como barcos que navegaram por meses e enfrentaram tempestades, e finalmente chegaram à calmaria do lar. Casa ou lar, não quer dizer necessariamente um lugar, mas sim, onde o seu coração está.