- Vamos Victoria! Se não corremos, o portal se fechará, e será para sempre. Iremos ficar presos aqui, e se tornaremos parte disso tudo.
O barulho de um relâmpago seguido de um trovão ensurdecedor, me desperta. Abro meus olhos. O sonho parecia real, eu sentia meu coração pulsar. Quem seria a figura masculina falando isso para mim?
Havia uma conexão forte entre nós
Meus olhos procuram por vovó; que deveria estar sentada na poltrona branca, mas no lugar, está apenas a sua bolsa. Percebo que alguém retirou a agulha que estava inserida em meu braço, nada mais me prendia a cama. Levanto-me e caminho em direção à janela, onde mais cedo, Adam e eu observamos o sol se despedir. Com as cortinas abertas, os clarões dos relâmpagos iluminam o quarto como se fosse dia.
Com a mão direita toco o vidro da janela e um trovão me assusta, fazendo-me sobressaltar. Os primeiros pingos desabam no chão; as folhas parecem dançar com o vento que sopra vigorosamente. Com a tempestade lá fora, tudo parece ficar mais caótico.
Adam é o caos.
Sai pela porta em busca de vovó. As luzes do corredor piscam levemente. Não há nenhum médico ou paciente perambulando. O corredor parece sem fim. É como em um filme apocalíptico, onde todos saíram às pressas e me deixaram para morrer em uma cama hospitalar.
Noto que ainda não sai do lugar; começo a andar. Passo pela ala de internação, todas as portas estão fechadas. Com essa tempestade todos devem estar dormindo; o que eu também deveria estar fazendo. Choros de bebes tomam meus ouvidos - devo está próxima à ala infantil ou berçário?
Havia algo de sublime em ver a maternidade e logo depois, a UTI. A vida e a morte estão tão próximas, como se caminhassem de mãos dadas ou dançassem passos desarticulados de tango.
De volto ao corredor, vejo vovó saindo do quarto de número 76 – o quarto ao lado do meu.
Seus olhos parecem assustados.
- Querida?! – ela fala com a voz entremeada. - O que está fazendo fora do seu quarto?
- Um sonho estranho, ele me acordou.
– Sonho estranho?
Contei a ela sobre o sonho. Vovó me disse que também teve sonhos estranho na adolescência. Ela sempre costumou a ouvir os meus bizarros sonhos. Certa vez, eu sonhei que estava me afogando no mar, ele me engolia, durante semanas tive esse mesmo sonho. Aquilo me amedrontava e ouvi-lo ao longe me amedrontava ainda mais. Eu superei esse sonho, mas nunca aprendi a nadar.
Em frente à janela, vovó e eu observávamos a chuva desabar sobre o hospital, sobre a cidade. Ela parecia intrigada com algo; parecia querer contar alguma coisa. Mas não contou nada.
Ao reabrir meus olhos, a luz do dia quase me cegou, amanheceu, mas a chuva lá fora continuava. Vovó ainda encontrava-se adormecida.
O hospital está muito barulhento agora. A madrugada de tempestade e caos parece ter chegado aqui. Há barulhos de macas sendo arrastadas para todos os lados; médicos e enfermeiros passam apressados.
Era inicio de tarde quando recebi alta medica e dei adeus para aquele ambiente hospitalar, que não era nada agradável. Vovó me levou para a sua casa, ela estacionou o carro na garagem e os latidos de Max eram ouvidos. Vovó abriu a porta e ele correu em minha direção. – Max ganhou peso e tamanho nos últimos dias, ele está enorme. Seus pelos dourados são encontrados por toda a casa.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Seres das Sombras - O Vale
FantasyAlgo de obscuro parece pairar sobre Sirius Falls, onde as Sombras espreitam cada passo de Victória Miller. Tudo pareceu ter inicio no seu décimo sexto aniversario, naquela velha e misteriosa loja de discos. Seus flashbacks e apagões aparecem antes d...