Flores Brancas

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Havia uma marca vermelha em meu pulso que delatava o encontro da noite anterior, quando minha mão a tocava era como se eu pudesse reviver aquele momento, o sussurro chamando o meu nome e aquela mulher que sabia muito sobre mim.

Quando adentrei as grandes portas da Sirius School naquela manhã, uma atmosfera melancólica me envolveu. Em frente ao armário de Alicia havia um pequeno memorial montado. Observei por alguns segundos sua foto exposta, sobre as flores brancas Hollanda Lopez soluçava.

- Que pena! – alguém falou logo atrás de mim. – Ela costumava escrever coisas boas sobre mim no jornal da escola.

Jackson White agora estava a poucos centímetros de mim, o garoto parecia ter o olhar capaz de hipnotizar as garotas ao seu redor.

Kaya Portman consolava Hollanda.

- Alicia Foster? – perguntei, sem olha-lo.

- Então, esse era o nome dela?

Eu tinha pena do tamanho do seu egocentrismo. Afastei-me no exato momento em que vi Annabel fuzilar-me com seus olhos. Uma multidão de alunos caminhava em direção oposta a de Annabel. Senti uma mão tocar o meu ombro.

-... Você esta sendo insensata! - Lexia disse a Monalisa.

- Victoria, em uma semana eu estarei dando uma festa e gostaria que vocês comparecessem...

- Mesmo com o que aconteceu? - indaguei.

- Mesmo com a morte da Alicia. - afirma ela irritadamente. - Somos adolescentes e precisamos viver ou acabaremos como ela!

Uma voz robótica vinda do alto falante repetia sem parar que todos deviam se em caminhar para o ginásio principal. Havia muitas cadeiras enfileiradas. Cameron pousou na cadeira ao lado da minha.

- Por que estamos aqui? – sussurrei a ele.

- Algo relacionado à Alicia Foster.

A diretora tomou o palco e ao seu lado, estavam dois professores.

- Bom dia; estamos aqui para homenagear e fazer um minuto de silêncio a Alicia Foster, que foi brutalmente assassinada por um covarde. - ela eleva o tom da voz. - Peço o respeito e apoio para o um minuto de silêncio.

A falação se dissipou. Alguns alunos ficaram cabisbaixos e outros apenas fizeram silêncio.

- Muito obrigado. - terminou a diretora, levemente abalada. – Quero chamar ao palco, Tom Foster. Um garoto se levantou da primeira fileira de cadeiras e subiu ao palco. É o garoto do memorial, o que usava óculos escuros, e que continua a usar.

- Olá a todos. - começou ele. - A dor da perda não pode ser reconfortada, talvez vocês não a conhecessem, mas, eu a conhecia muito bem, e nada poderá mudar...

Ao final Tom Foster citou Glommy Sunday de Billie Holiday.

"Pequenas flores brancas nunca irão acorda-lo".

Na sexta-feira, um dia antes da festa de Halloween de Monalisa, aconteceu a avaliação física anual.

Lexia me ajudou a abrir a porta do ginásio de treinos; que era um tanto enorme. Piscinas tomavam a maior parte do espaço, no lado direito havia três cordas e alguns alunos subindo-a, e uma sala de musculação do lado esquerdo.

- Vocês ainda não são transparentes! - rosnou Annabel empurrando-nos para o lado e a partir daí tudo ficou ainda mais estranho.

Segundos depois que entrei na piscina senti algo puxar minha perna, me puxar para o fundo, às vozes ficaram cada vez mais distante. Em um piscar de olhos as aguas se tornaram escuras e frias. Não era possível gritar e nem se mover. Tudo parecia estar em câmera lenta.

Fechei meus olhos e reabri-os, eu não estava mais na piscina e sim no oceano. Eu estava sobre um céu azul que ganhava cores escuras, uma tormenta parecia se aproximar enxotando gaivotas que agora sobrevoavam minha cabeça.

Me vi em pânico, me faltava ar nos pulmões, olhei para o meu pulso e vi uma tatuagem de lua e sobre os meus ombros, um cabelo longo cor de cappuccino. Aquela não era eu.

- Salve-me...

A pessoa repetia sem parar quase sem folego. Pelos seus olhos eu assistia sua inevitável morte sem poder fazer nada.

Senti alguém me puxar de volta para o meu corpo.

- Um, dois, três. - alguém pressiona a mão sobre o meu peito.

Joguei toda a água que estava em meus pulmões e comecei a tossir desesperadamente. A primeira coisa que vi foi os olhos azuis de Oliver Eger.

- Que bom que não morreu! – ele falou quase aliviado. – Eu me sentiria culpado pelo o resto da minha vida.

Naquela tarde o noticiário anunciou a morte daquela garota e se eu quisesse saber o que estava acontecendo comigo, precisaria reencontrar aquela mulher da noite passada.



Seres das Sombras - O ValeOnde histórias criam vida. Descubra agora