A Cor do Outono

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- Parecia tão real, era como se eu os assistisse conversar. – dividi com Lexia resquícios do sonho, e de alguma forma eu esperava que ela tivesse respostas. Os olhos atentos de Lexia pareciam observar algo além da rodovia. – Quem são eles? Quem é o Triângulo?

- Quem não, mas sim, o que é o Triângulo!– quando essas palavras saíram de sua boca, ela se calou, como se não devesse ter dito aquilo.

- O que você quer dizer com isso? – indaguei.

- Eu não sei! – ela me olhou. – Eu apenas disse sem pensar, Victoria. – Lexia esticou o braço e procurou por algo no porta-luvas, sem êxito, voltou à mão ao volante. – Apenas esqueça isso, por favor!

Eu queria confronta-la, mas apenas assenti em sua direção e logo em seguida voltei meus olhos à paisagem que corria a nossa volta.

- Eu não acredito que Joseph Agostini irá se candidatar novamente. – ela bufou.

- Por quê? – perguntei observando o entardecer tomar as colinas.

- Por que, eles estão no poder a 100 anos. – a mansão estava se aproximando a cada segundo. – Não que eu não goste do Sr. Agostini e do Adam, mas, a Rose Agostini ela anda pela a cidade como se fosse dona de tudo. – Lexia parou por um segundo. – Não que tudo não seja deles nessa cidade, mas aquele nariz empinado me dá calafrios.

O grande portão com o "A" gigantesco entalhado se abriu lentamente e seu gramado era tão verde que parecia ser pintados à mão. Cada detalhe da mansão era tão harmonioso que se parecia com um castelo da antiguidade. Trepadeiras cobriam boa parte das paredes e um chafariz dourado jorrava água no centro do jardim.

- Essa mansão sempre me encantou. – ela disse estacionando em uma das poucas vagas que restavam. – Ela serviu como um Château para Benjamin Agostini.

- Você parece saber muito sobre os Agostini.

- Todos os moradores de Sirius Falls sabem! – ela respondeu saindo do carro.

Ludwig van Beethoven tomou meus ouvidos no exato momento em que a porta se abriu. No hall de entrada imensos lustres pareciam balançar no mesmo ritmo da música e um banner avisava sobre o Baile de Outono. Algumas pessoas seguravam taças com um liquido rosé enquanto conversavam alto.

Uma mulher alta e bonita desceu as escadas, eu pude ver seu nariz fino e empinado e de imediato soube que se tratava de Rose Agostini. Os fios de seu cabelo longo eram tão negros quanto à noite, vestida em um vestido vermelho ela se aproximava lentamente com seu xale de pele que caia sobre os ombros.

- Victoria Miller, é uma honra tê-la aqui! – ela pronunciou e em seguida levou seus olhos a Lexia. – Srta. Raeda é um prazer também, como estão seus pais?

Lexia agarrou um copo d'agua da bandeja de um mordomo e o tomou.

- O prazer é todo meu, Sra. Agostini! – Rose ainda a encarava. – Meus pais estão bem, obrigada.

- Diga a eles que eu mandei lembranças. – ela se aproximou de mim. – Aproveite o baile garotas. – ao final, Rose Agostini tocou levemente o meu ombro e se afastou.

- Ela parece simpática. – disse a Lexia enquanto caminhávamos para o jardim.

- Não se deixe levar pela as primeiras impressões. – Lexia parou a minha frente. – Nunca se deixe enganar!

O jardim estava tomado por luzes e por flores da cor do outono. Sobre um pequeno palanque Joseph Agostini ditava palavras politicas, enquanto Pedro Valentin afastava algumas pessoas de seu caminho. Ele caminhava puxando a gravata borboleta para longe do pescoço.

- Ei, estive a procurando por toda a festa... – ele falou se aproximando.

Pedro levou Lexia para uma dança, os observei dançarem por certo tempo e eu tive a certeza que eles se completavam como o Yin-Yang.

Quando as estrelas iluminavam o céu e um raio cintilou ao longe, Adam Agostini se sentou ao meu lado. Ele não vestia roupas formais e o seu cabelo estava desgrenhado.

- Ei, garota triste! – ele colocou seus pés sobre a mesa. – Como está sendo a festa?

- Entediante!

Adam se pôs em pé e esticou a mão em minha direção.

- Tenho algo para lhe mostrar!

Subimos as grandiosas escadas, nos longos corredores havia pinturas renascentistas e a música não era mais ouvida e o mais completo silêncio nos envolveu. A luz da lua projetava sombras através da janela.

- Para onde está me levando? – eu quis saber.

- Espere e você verá! – ele sorriu segurando meu pulso. – Esse costumava ser meu lugar preferido... – Adam abriu uma porta, e a espécie de um sótão foi revelada. Havia caixas em todo o chão, por uma janela redonda um feixe de luz entrava iluminando o lugar. – Até que o inevitável aconteceu.

- O que houve?

- Vou lhe contar uma história. - ele se levantou e se aproximou da janela. - Havia uma garota, ela era linda, ela teria a sua idade agora. Ela odiava a sua família e o jeito que a tratavam. Ela queria viajar o mundo, e não ser membro de uma família, onde ha uma maldição. Ela tinha deveres, tinha que honra-los, mas não era o que ela queria. No seu décimo sexto aniversário, tomou decisões que mudaria a vida de todos ao seu redor. Era o ultimo dia do ano letivo, ela frequentou todas as aulas, exceto a última. Caminhou até a janela do ultimo andar da escola, e lá foram seus últimos momentos, sem mais delongas, ela pulou. - suas mãos estavam tremulas e sua voz falhava. - Ao final, sua família proibiu todos da escola em falar sobre o assunto, matérias de jornais locais foram apagadas. E a garota foi esquecida e se tornou um assunto proibido na escola.

Aproxime-me de Adam e segurei sua mão, ele estremeceu ao inesperado toque, e em seguida ele segurou firme a minha mão.

- Não sei como eles conseguiram seguir em frente tão rápido. – falou observando Joseph e Rose Agostini. – Emma era minha irmã.

- Eu sinto muito...

A janela redonda do dobro do nosso tamanho foi aberta e um vento extremamente forte entrou soprando nossos cabelos. Estrelas e vagalumes tomavam os céus quando nos sentamos no telhado. A cidade inteira parecia pequena e insignificante. O som da festa que ainda acontecia no andar de baixo, nada mais era que um som abafado.

- Minha mãe, ela também fez escolhas. – Adam me olhava atentamente. – Eu não sei o porquê estamos dividindo coisas tristes das nossas vidas.

- Às vezes, precisamos dividir esse fardo com alguém!

Adam tocou levemente minha mão e quando nossos olhares se encontraram, ele aproximou seu rosto, o seu nariz encostou o meu e seus lábios macios tocaram os meus, e então uma chama e um calor efervescente invadiu meu corpo.

Logo após seus lábios deixarem os meus, um imenso silencio nos tomou, mas, Adam não soltou a minha mão por nenhum instante.


Seres das Sombras - O ValeOnde histórias criam vida. Descubra agora