Corri em direção a Old Discs ao terminar de ler aquele bilhete. A Old Discs havia sido o inicio de tudo, ele teria que estar lá, não poderia ter desaparecido. Quando meus olhos percorreram o lugar e não encontraram nada, eu caí na realidade. Charlie havia ido embora e eu não poderia fazer nada para mudar aquilo, não era apenas um oceano que nos separava, era algo muito maior. Os dias eram longos e tristes sem a sua presença, Lexia e Monalisa tentavam quase incansavelmente trazer-me de volta a vida, era como se elas desconfiassem sobre a sua partida.
Meus dias oscilavam entre ver meu pai comer macarrão com queijo no café da manha e jogar tintas em telas de pintura.
- Suas pinturas são um tanto... Melancólicas. – Monalisa estava em pé à frente de uma tela em especifico, era uma árvore seca com galhos enormes. – É uma sensação estranha encara-la, é como se a pintura tivesse o poder de lançar toda a sua tristeza sobre mim.
- Isso é algo ruim? – me aproximei dela.
- Não necessariamente.
Jogávamos Monopoly enquanto ouvíamos algumas musicas antigas, Lexia ganhava todo o dinheiro do jogo enquanto Monalisa e eu íamos à falência.
- Eu desisto! – Monalisa finalmente falou. – Levem todo o meu dinheiro.
- Não Monalisa! – exclamou Lexia se levantando. – Você não pode desistir na metade de uma partida.
- Eu sinto muito Lexia, mas eu também não quero terminar o jogo. – me pronunciei. Lexia nos observou com certa reprovação enquanto guardava o tabuleiro.
Monalisa dançava a uma musica do Coldplay enquanto contava sobre a sua vida, sobre Tom Foster. Eles haviam se conhecido ainda na infância, Tom havia acabado de perder a visão e estava devastado, nada e nem ninguém conseguiu tira-lo de casa até que Monalisa apareceu.
- Eu salvei aquele garoto e tive a certeza que nunca o deixaria ir!
...
Eu não sabia como eu havia aceitado o convite, mas eu estava sentada a frente de Jackson White, cerca de poucos centímetros nos separava. Fazia uma hora que ele não parava de falar, uma hora que eu havia sentado a sua frente e o ouvia sugar seu Frappuccino.
-... Victoria? Você esta me ouvindo? – ele me observava.
Eu rabiscava um guardanapo com a caneta que o atendente havia esquecido quando notou que Jackson, o capitão do time da Sirius School estava em sua cafeteria.
- Eu estou te ouvindo! – eu falei, tomando o meu café sem açúcar.
Jackson havia voltado a tagarelar e enaltecer o seu ego. Eu tentava prestar atenção nele, mas qualquer coisa ao seu redor parecia ser mais interessante que ele. Do outro lado da rua, o letreiro cintilante do Smoothing Pub acendia e apagava e logo abaixo dele um garoto fumava um cigarro, meus olhos o percorreram, mas era apenas um desconhecido.
- Desculpe... – alguém disse.
Uma garota de cabelos longos se desculpava repetidamente por derrubar bebida em Jackson. Ele sorriu ao olhar para a camiseta ensopada por um liquido escuro e em seguida se pôs em pé.
- Não levará mais que cinco minutos! – ele apontou em direção ao banheiro no final do corredor.
O sino soou e alguns garotos do time de beisebol entraram. Essa era a minha chance de desaparecer. Um guardanapo com algumas palavras foi o que eu deixei sobre a mesa. Jackson e eu éramos de um mundo totalmente diferente, eu não pertencia ao seu mundo e ele jamais pertenceria ao meu.
Caminhei sobre o céu soturno de volta para casa. Alguns minutos antes do dia virar noite, o sol abriu por algum instante, na varanda de casa eu tropecei no tapete de entrada e minhas chaves caíram no chão.
- Victoria? – eu observei Adam sair das sombras.
- Adam? O que você esta fazendo aqui?
- Monalisa me contou que você estava em um encontro com o White.
- Eu não chamaria aquilo de um encontro!
Adam sorriu e se aproximou com as mãos no bolso da calça.
- Você quer entrar? – perguntei abrindo a porta.
- E o seu pai?
- Ele provavelmente não está em casa.
Adam me seguiu em direção a cozinha. Ele me observava encostado na geladeira enquanto eu preparava o café.
- Eu sinto muito por aquele dia. – ele levou a xicara a boca. – Pode parecer estranho, mas eu não consigo dormir a noite quando algo me incomoda.
- Eu já esqueci aquele dia, Adam.
Adam tocou a minha mão, seu toque quente me estremeceu e por alguns segundos eu o observei nos olhos. Algo dentro de mim desejava novamente seu toque.
- Eu preciso ir! – ele disse se levantando.
Da varanda eu observei o cabelo de Adam brilhar com a luz do luar, observei-o ir embora.
Naquela mesma noite eu sonhei com ele: Estávamos em uma ponte, Adam se virou e foi embora sem olhar para traz. Eu sentia como se o meu coração tivesse sido arrancado e lançado naquela agua fria e escura, eu sentia que ele tinha quebrado uma promessa e o meu coração.
Acordei e eu senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto sem a minha permissão.
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Seres das Sombras - O Vale
FantasyAlgo de obscuro parece pairar sobre Sirius Falls, onde as Sombras espreitam cada passo de Victória Miller. Tudo pareceu ter inicio no seu décimo sexto aniversario, naquela velha e misteriosa loja de discos. Seus flashbacks e apagões aparecem antes d...