Seres das Sombras - O Vale

Cigarro e Hortelã

O dia começou cedo, com dois períodos seguidos de matemática. Mr. Johnson entrou na sala de mau humor pedindo que abríssemos o livro no capitulo dois.

Na hora do almoço, encontrei Lexia no refeitório central, nos sentamos na mesma mesa - localizada no final do refeitório. Ela tagarelava sobre a aula de Francês que teve há pouco.

Uma algazarra nos interrompeu.

Pelas grandes portas de vidro, Adam entrou acompanhado de alguns amigos. Três garotos e uma garota. Os olhos de todos estavam voltados para eles. Inesperadamente, um garoto de cabelos enrolados saltou sobre a mesa. Seus olhos azuis cintilaram sobre os raios de sol.

- Babacas! – sussurrou Lexia.

Eles se sentaram à mesa do centro.

- Quem são eles? – indaguei.

Eu queria saber o porquê de serem tratados como Estrelas do Rock. Ela me respondeu mordendo seu lanche gorduroso:

- Aquela garota de cabelo rosa e piercing na cara se chama Hayley, que namora aquele também de piercing, que é o Scott. Aquele ali – disse ela gesticulando. - Sexy de cabelos longos, e levemente loiros, se chama Pedro. - ela suspirou. - Aquele que deu o salto é o Oliver, por baixo da jaqueta é todo tatuado. – ela para por um estante, e se aproxima de mim. - E aquele ali te olhando, é o Adam Agostini.

Olhei em direção a Adam e nossos olhos se encontraram, mas logo em seguida ele desviou o olhar e caminhou em direção à porta de saída. Tirou do bolso da calça, uma carteira de cigarros, retirou um e o ascendeu ali mesmo, não se preocupando com as regras da escola. Seus olhos me encararam e em seguida a porta se fechou com um leve estrondo.

- Cigarros não são proibidos aqui na escola? - perguntei.

- Quando se é rico em cidade pequena e descendente do fundador da cidade, você pode tudo.

O meu período seguinte foi vago, gastei esse tempo fazendo uma lição de casa. Alguns poucos alunos estavam na biblioteca. Encontrei Lexia no ultimo período: Educação Física.

A Sirius School exige que cada aluno tenha no mínimo uma aula de Educação Física por semana. Isso era completamente novo para mim.

O outono havia chegado e junto a ele, as arvores que perderam as suas folhas. Os dias passavam cada vez mais rápidos.

...

Na manhã seguinte, Mr. Johnson aplicaria o seu primeiro teste de matemática do ano, ele parecia me odiar. O sinal soou.

- Não terminei o teste por completo. – falei ao Mr. Johnson.

- Heidemann, quando você terminar algo, por favor, me avise e eu te darei um presente!

Meus olhos procuraram por Lexia na porta de entrada do refeitório.

- Como foi no teste? – perguntou ela.

- Horrível! – suspirei.

- Você precisa de umas aulas extras de matemática!

- Com o Mr. Johnson? Não, obrigado! Ele parece me odiar.

- Ele odeia a todos, exceto o Cameron Lafaiete, que ficou em primeiro lugar no concurso de geometria espacial. – Lexia respondeu enrolando uma mecha de cabelo no dedo. - Ele seria um ótimo professor para você!

A caixa de som da parede anunciava que as duas últimas aulas seriam de destinadas a palestras e que todos deveriam se encaminhar para auditório principal.

Lexia e eu nos misturamos à multidão de alunos que seguiam para o auditório. Havia apenas três lugares vagos, o auditório estava lotado. Nenhuma voz era ouvida, todos estavam em silêncio. Apenas o som de salto alto ecoava do corredor e a cada segundo se aproximava. Veronika entrou acompanhada de Adam e Oliver.

- Podem continuar, as estrelas chegaram. – cantarolou Oliver, e em seguida todos riram.

Há apenas dois lugares, um deles é ao meu lado e o outro é na primeira fileira. Não quero que Oliver sente-se aqui e muito menos, Adam.

Oliver correu para primeira fileira, não deixando escolha para Adam. Adam caminhou em passos lentos, e sentou ao meu lado, é claro, ou teria que ficar de pé ao lado de Veronika e então, ela o mandaria sentar ao meu lado.

Adam é uma mistura de cigarro, perfume francês e bala de hortelã.

- Desculpe-me. – sussurrou Adam, sem me olhar.

Eu não precisava olhar para Lexia para saber que ela prestava a atenção nas palavras de Adam. Olhei-o e ele continuava olhar fixamente ao longe.

- Por aquele dia. – ele olhou para mim. - Apesar de tudo, eu sou Adam Agostini!

Adam se levantou.

- Eu sou Victoria Miller.

- Prazer Victoria Miller!

Com um cigarro ainda apagado na mão, ele caminhou em direção as grandes portas, e saiu sem que outra pessoa, alem de mim, percebesse.

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