28_ Que tal um sorvete?

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Naquela tarde, nós seis aproveitamos a praia por um bom tempo. A gente chegou um pouco cedo na praia com o sol rachando, mas saímos de lá bem depois do pôr do sol.

Depois da gente sair da praia, optamos por uma pizzaria que tinha ali e que estava aberto pela noite. Lá dentro a gente comeu para caramba e rimos como se não houvesse amanhã.

Eu havia gostado bastante daquele dia perto das pessoas que eu gostava.

Agora já era 19h da noite, eu e o Saulo estávamos de mão dadas andando de volta para o condomínio em completo silêncio. Eu não mencionei, mas depois que o Saulo me chamou de " minha loirinha " eu tive um pequeno surto.

Kath, durante o resto da tarde, encheu o meu saco dizendo que eu estava completamente boba pelo Saulo. Eu? Achei esquesito no começo, mas comecei a acreditar no que ela tinha dito.

ㅡ Gostou de hoje? ㅡ Saulo perguntou quebrando o silêncio que se instalou sobre nós depois de nos despedimos do pessoal.

ㅡ Uhum. ㅡ Assenti concordando com a cabeça, em seguida entramos pelo portão da saída do condomínio. Havíamos chegado. ㅡ Eu não sou muito boa em jogar bola, mas ainda sim foi divertido ver o Billy perder para a Dani.

ㅡ Eu shippo eles. ㅡ Saulo murmurou de repente me fazendo olha-lo confusa. ㅡ Foi mal, mas a Kath que me ensinou.

ㅡ Billy e Dani? ㅡ Fiz uma careta de... ranço. Para mim, eles dois não tinham nada haver um com o outro. ㅡ Eles são opostos um do outro. ㅡ Falei enquanto entrávamos no prédio.

ㅡ O que é que tem? ㅡ Saulo perguntou acenando para o porteiro, em seguida fomos até o elevador. ㅡ Assim é melhor. Até porque peças iguais no quebra cabeça não se encaixam.

Aquela frase me surpreendeu. Parei de andar me virando para o Saulo que sorriu simples levando a sua mão até o botão. Engoli em seco processando a sua frase e, simplesmente, senti uma sensação familiar. Nós dois éramos da mesma forma.

ㅡ Você falou sobre eles ou sobre nós? ㅡ Perguntei olhando para meus pés que ainda estavam com areia.

ㅡ Ambos. ㅡ Saulo sorriu dando de ombros, no segundo seguinte o som do elevador soou e a porta se abriu. Lá pudemos ver que tinha uma pessoa lá dentro que estava prestes a sair, e la saiu o Dr Silva.

ㅡ Dr Silva??? ㅡ Arregalei meus olhos me afastando um pouco do Saulo e soltei a sua mão.

ㅡ Ah... oi Elizah. ㅡ Ele me olhou sorrindo abertamente. ㅡ Eu não te vi no plantão ontem. Estava fugindo de mim?

ㅡ O que? Claro que não! Você é meu chefe! Como é que eu fugiria? ㅡ O nervosismo em minha voz era nítido. E sim, durante o plantão eu fugi dele por causa do olhar que ele tinha me lançado depois de quando a gente se viu. ㅡ É um grande prazer vê-lo aqui. Até amanhã? ㅡ Peguei na mão do Saulo e o puxei para dentro do elevador o mais rápido que consegui.

ㅡ O que? Mas a gente nem conversou direito. Que tal um sorvete? ㅡ Dr Silva me olhou sorrindo.

ㅡ Agora não vai dá. A minha mãe estar me esperando. ㅡ Apertei o botão do nosso andar. ㅡ Até amanhã, Dr Silva! ㅡ Acenei para ele ouvindo o som do elevador e porta se fechou em seguida. ㅡ Ufa.

ㅡ Quem era aquele? ㅡ Saulo perguntou assim que a porta se fechou. Me encostei na parede fria do elevador e dei um suspiro bastante aliviado. ㅡ Não vai me responder?

ㅡ Aquele era o meu chefe, Saulo. O Dr Gustavo Silva, ou melhor, Dr Silva. ㅡ Dei de ombros. ㅡ Por que a pergunta?

ㅡ Por que fugiu dele? ㅡ A sua pergunta me fez virar-me para ele percebendo que a sua expressão não estava uma das melhores.

ㅡ Eu já mencionei o que eu sinto sobre respostas com outras perguntas, Saulo. ㅡ Cruzei meus braços encarando-o. ㅡ Por que a pergunta?

ㅡ Curiosidade. ㅡ O tom cínico da sua voz era nítido, que me fez revirar os olhos me desencostando da parede sem tirar meus olhos dele. ㅡ Agora responde você. Por que fugiu dele?

ㅡ Porque... ㅡ Abaixei meus ombros com aquela pergunta. Eu não queria falar sobre o olhar que o Dr Silva tinha me lançado, e eu que eu tinha ficado meio incomodada com isso, mas ainda sim não queria mentir. Então optei pela opção de dizer a verdade. ㅡ Estou evitando ele porque rolou algo que não me deixou numa situação... legal. ㅡ Gesticulei.

ㅡ Que situação?

E, naquele momento, a porta se abriu e quando abriu foi como um peso tirado das costas para mim.

ㅡ Saulo, eu... eu não quero falar disso. ㅡ Sai do elevador o mais rápido que consegui enfiando a mão na bolsa e, por sorte, a chave estava na parte de cima. ㅡ Podemos entrar?

ㅡ Você não vai responder? ㅡ Saulo saiu do elevador também, porém, ele parou no meio do caminho.

ㅡ Saulo, pelo amor de Deus! ㅡ Exclamei balançando as minhas mãos e ouvindo o som irritante das chaves se batendo uma nas outras. ㅡ Olha só, aquele lá é o MEU CHEFE, entendeu??? E mesmo que essa maldita situação tenha sido estranha e super constrangedora eu tenho que engoli-la porque ele é o meu chefe!

Respirei fundo após soltar tudo de uma vez, levei a chave até a maçaneta e abri a porta numa rapidez. Me abaixei tirando os meus chinelos sujos e entrei no apartamento deixando o Saulo lá do lado de fora que não dizia nada.

Joguei os meus chinelos no banheiro para limpa-los depois, entrei no meu quarto jogando a minha bolsa lá dentro, pegando o carregador que estava em cima da escrivaninha que tinha ali e me abaixei para coloca-lo na tomada.

Até que senti passos vindo na minha direção, suspiros seguidos em seguida. Saulo sentou no chão ao meu lado encostando a suas costas na minha cama e me olhou.

ㅡ O que foi? ㅡ Conectei o carregador na tomada, colocando meu celular na cama logo em seguida.

ㅡ Desculpa. ㅡ A sua voz soou como um calmante para todo o nervosismo que tinha dentro de mim a poucos segundos. ㅡ Não queria te deixar desconfortável.

Suspirei abaixando meus ombros me sentando do lado dele.

ㅡ Tudo bem, Saulo. Só quero esquecer isso. ㅡ Me virei para ele sorrindo fraco, ele abriu a boca para falar algo mas o som do celular soou. ㅡ É o meu ou o seu?

ㅡ O meu. ㅡ Saulo suspirou colocando a mão no bolso, atendeu a chama e pós em viva-voz logo em seguida.

Saulo- Oi, Sammy! Tudo bem?

Sammy- Saulo...

A voz chorosa e embargada do garoto, que era o irmão do Saulo, soou pelo telefone me fez arregalar os olhos já sentindo que vinha merda.

Saulo- Samuel? O que aconteceu?

Sammy- O papai... o papai chegou.

Saulo- Ah, infelizmente. Tá tudo bem por aí? Como ele chegou?

Sammy- Mal, Saulo! Mal! Ele... ele já chegou bêbado. Ele está com uma garrafa na mão e assustou a mamãe quando estava na cozinha.

Saulo- Por enquanto tá tudo bem. E a mamãe?

Sammy- Não... não. Saulo, não tá tudo bem, ele arrastou a mamãe pro quarto mesmo dizendo que ela não queria. Saulo, a mamãe... a mamãe tá chorando e gritando muito. O papai tá assustando o Sammy, Saulo! Tá batendo na mamãe!

Naquele momento, o choro do Samuel aumentou quando um estrondo alto de vidros se quebrando soou pelo viva voz.

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Um Teto para DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora