Um Teto para Dois

43_ Vai dá tudo certo.

ㅡ Ai, Daniela, atende essa droga de telefone! ㅡ Reclamei irritada enquanto eu andava de um lado para o outro no quarto procurando a minha bolsa. Eu me sentia nervosa.

Depois que o Dr Silva falou que era a Berenice me deu mais nervosismo e me fez ter mais medo. Tá, com tanto tempo atendendo a Berenice eu meio que me apaguei a ela de um jeito estranho.

Ela poderia ser uma pessoa maluca, mas eu gostava bastante da presença dela e as nossas conversas eram ótimas. Sinceramente, comigo ela agia bem diferente do que com as outras pessoas.

ㅡ Arg, Daniela! ㅡ Resmunguei novamente parando de andar e colocando a não na testa. ㅡ Por favor...

Dani- Alô?

Assim que ela me atendeu um alívio imenso me atingiu, mas não pude deixar de reparar na sua voz rouca.

Elizah- Ah, Daniela, finalmente!

Dani- Elizah? O que foi? Eu estava dormindo.

Elizah- Isso explica a demora e essa sua voz de sono. Preciso da sua ajuda.

Dani- Minha ajuda? Pra quê?

Elizah- Acabaram de me ligar do hospital, e uma das minhas pacientes para precisando fazer uma cirurgia urgentemente.

Dani- Quem é enfermeira é você, Elizah. Não posso te ajudar com isso.

Elizah- Não é isso, Dani! Eu estou aqui em casa com o Samuel, o Saulo já foi trabalhar e eu não tenho com quem deixar o Sammy!

Dani- Hm... tô entendendo. Quer que eu leve ele para algum lugar ou que eu fique em casa?

Elizah- O que você preferir.

Respirei fundo aliviada, no entanto, eu ainda estava nervosa ao saber que iria fazer cirurgia na Berenice.

Dani- Tudo bem. Eu vou correr pra aí.

Elizah- Ai, obrigada, Dani! Te devo uma!

Desliguei a ligação jogando o celular na cama, abrindo o guarda-roupa, pegando a calça e uma blusa lilás antes de correr para o banheiro e me trancar lá dentro para trocar de roupa.

Prendi meu cabelo saindo do banheiro, entrei no quarto pegando o meu jaleco, a bolsa e logo sai do quarto percebendo que o Samuel ainda assistia o desenho.

ㅡ Sammy?

ㅡ Já vai trabalhar, titia?

ㅡ Uhum. ㅡ Concordei me sentando ao lado dele e me enclinando para pegar o meu tênis. ㅡ Na verdade, a titia Dani vai vim ficar com você.

ㅡ Dani?

ㅡ Sim, Sammy, eu tenho uma emergência agora e a Dani vai ficar com você. ㅡ Sorri para ele. ㅡ Tudo bem pra você?

ㅡ Sim! A tia Dani me deixa assistir filmes muito legais! ㅡ A animação dele me fez rir erguendo meu tronco após calçar meu tênis.

Minutos depois a Dani chegou e eu logo tive que sair correndo do condomínio. Peguei o ônibus e esperei " pacientemente " até que chegasse no ponto perto do hospital. Corri o mais rápido que consegui até entrar pela portas dos fundos e perceber que aquela parte de trás estava bastante movimentada.

Entrei no vestiário, guardei a minha bolsa, coloquei meu celular no silencioso e corri o mais rápido possível para a sala de cirurgia.

ㅡ Ainda bem que chegou, Elizah. ㅡ Dr Silva apareceu assim que eu entrei na sala de cirurgia. ㅡ Onde estava?

ㅡ Em casa ㅡ Respondi passando por ele, colocando aquela roupa todinha azul dos pés a cabeça, colocando uma máscara e logo as luvas. ㅡ Me explica o estado dela.

ㅡ A vesícula dela inflamou. ㅡ Ele respondeu me fazendo olha-lo rapidamente.

ㅡ Como?? Eu fiz tudo direitinho hoje! Nem sequer dei alimentos que não podem... ㅡ Encarei o chão procurando alguma resposta.

ㅡ Tudo bem, Elizah. Depois que você saiu eu pedi para uma enfermeira vê se estava tudo bem, mas quando a enfermeira foi lá ela estava reclamando de dor no lado direito do abdômen. ㅡ Dr Silva começou a explicar enquanto entrávamos na sala, percebendo que a equipe já estava lá. ㅡ Eu resolvi esperar para vê se melhorava, mas piorou quando ela começou a sentir náuseas e até vomitar. Os exames que eu fiz indicou a vesícula inflamada, precisamos urgentemente tirar a vesícula dela antes que dê câncer.

Encarei a Berenice deitada na cama em minha frente, um aperto no meu peito surgiu olhando-a. Para mim, demoraria muito para eu pensar em fazer uma cirurgia nela. Até porque eu estava dando todos os remédios que ela poderia tomar para tentar eliminar o cálculo.

ㅡ Elizah ㅡ Dr Silva pegou no meu ombro chamando a minha atenção. ㅡ Você tá bem? Tem certeza que quer fazer essa cirurgia? Sabemos que você é... ㅡ Interrompi ele.

ㅡ Sim, Dr Silva ㅡ Assenti balançando a minha cabeça. Era pela Berenice. ㅡ Vai dá tudo certo... ㅡ Sussurrei para mim mesma me aproximando da mesa e segurando as lágrimas que queriam descer.

Seja o que Deus quiser.

ㅡ Prontos? ㅡ Dr Silva parou em minha frente, fazendo toda equipe assentir. ㅡ Salvaremos a paciente.

Uma lágrima involuntária escorreu, no entanto, balancei minha cabeça ignorando completamente. Era pela paciente...

[...]

Joguei-me na cadeira assim que sai da sala de cirurgia. Respirei o mais fundo que consegui tirando as luvas das minha mão, antes de jogar na lata de lixo perto da minha. Encarei o chão fixamente me permitindo derramar as lágrimas que insistia a cair a cada segundo que eu olhava a Berenice completamente desacordada.

ㅡ Oi, Elizah ㅡ Dr Silva saiu da sala da cirurgia tirando as luvas, jogando-as no lixo e se aproximou da pia. ㅡ Tá melhor?

ㅡ Uhum. ㅡ Engoli em seco me levantando para lavar as mãos também. ㅡ E a Berenice?

ㅡ Anestesiada, mas vão levar ela para o quarto e ficar com ela até que melhore e acorde. ㅡ Ele respondeu. Liguei a torneira e lavei as minhas mãos ainda sentindo poucas lágrimas escorrerem. ㅡ Vai pra casa e descansa.

ㅡ Se eu conseguir ㅡ Desliguei a torneira, balancei minhas mãos, enxuguei elas e sai de perto da pia tirando a máscara.

Antes que eu a jogasse no lixo, senti meu celular vibrando e peguei ele vendo que era o Saulo. Franzi minha testa confusa atendendo a ligação e pondo perto da orelha.

Elizah- Saulo?

Saulo- Elizah? Aqui é a Lia!

Elizah- Lia??? Cadê o Saulo?

Lia- Elizah, corre pra cá no food-truk agora!

Elizah- Por que? Eu acabei de sair de cirurgia e...

Ela me interrompeu.

Lia- O Saulo começou a passar mal e agora está no chão dando... dando uma convulsão! Por favor, corre aqui!

•••