12_ Quem sabe um dia.

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Não era para acontecer.

Foi a primeira coisa que veio na minha cabeça assim que eu murmurei com a pressão do que tinha acontecido. O Saulo me pegou no colo deixando que as sensações estranhas se chocasse com o meu corpo de uma forma inesperada.

De início eu não consegui formular nada, mas só de olhar fixamente para os olhos do Saulo eu consegui formular a frase dizendo que aquilo não poderia ter acontecido. E, de fato, não era! Aquilo não estava no roteiro, não mesmo. O Saulo não deveria ter me pegado no colo.

ㅡ Você está bem? ㅡ A voz do Saulo me fez parar de pensar besteiras e olha-lo com os olhos arregalados.

ㅡ Eu... eu estou. ㅡ Gaguejei juntando minhas mãos em seu pescoço tentando não cair. ㅡ Parece que eu só torci meu pé mesmo.

ㅡ Hm... deixa eu da uma olhada. ㅡ Saulo falou saindo da cozinha e me colocando sentada no sofá.

ㅡ Saulo, não é preciso tudo isso. ㅡ Resmunguei me aconchegado mais no sofá vendo que ele se abaixou na altura do meu pé e pegou o mesmo. ㅡ Eu sou enfermeira, lembra? ㅡ Arqueei minha sombracelha.

ㅡ É, eu sei. Mas você já trabalhou muito e eu tô afim de te ajudar. ㅡ Saulo falou num tom de brincadeira me encarando com um sorriso debochado. ㅡ Pode ser?

ㅡ Saulo, eu não... ㅡ Ele nem sequer me ouviu, simplesmente levantou indo até a cozinha e logo voltou com uma bolsa de gelo em mãos. ㅡ Arg... ㅡ Revirei meus olhos percebendo a sua teimosia.

ㅡ Eu tô tentando ser atencioso com você. ㅡ Ele colocou a bolsa de gelo em meu pé delicadamente. ㅡ Você é a enfermeira, mas agora você não está trabalhando. Só deixa eu te ajudar. ㅡ Saulo ergueu seu olhar para mim me olhando de uma forma intensa e, de repente, engoli em seco.

ㅡ Tudo bem. ㅡ Suspirei abaixando meus ombros.

ㅡ Você não vai poder fazer o jantar. ㅡ Saulo murmurou me ajudando a virar no sofá e colocando minha perna com a bolsa em cima.

ㅡ Descobriu isso sozinho? ㅡ Arqueei minha sombracelha vendo ele sentar na ponta do sofá e me olhar.

ㅡ Não debocha que as coisas estão sérias aqui, Elizah. Não planejava cuidar de você desse jeito. ㅡ Ele resmungou me fazendo encara-lo confusa.

ㅡ Espera, então você... ㅡ Ele me interrompeu.

ㅡ O que você quer para o jantar? Podemos pedir comida.

ㅡ Você trabalha em um food-truk, Saulo!! Você não sabe cozinhar???? ㅡ Encarei ele chocada.

ㅡ Não, o máximo que eu sei é fazer hambúrgueres e sanduíches. Quem cozinha no food é a Lia. ㅡ Ele coçou a cabeça com uma careta.

ㅡ Arg... fala sério. Inútil! ㅡ Resmunguei. Acabei sem perceber olhando diretamente para os olhos do Saulo que estava perto do meu, a segundos atrás o seu olhar demonstrava deboche ou algo assim, mas naquele momento demonstrava uma escuridão que me assustou.

ㅡ Não me chama de inútil. ㅡ O tom de voz do Saulo demonstrava tristeza e até mesmo raiva.

ㅡ Se você trabalha em um food-truk e não cozinha, do que mais eu te chamaria? ㅡ Perguntei num tom brincalhão, mas o seu olhar fez meu sorriso sumir. Ele, como de costume, levantou do sofá sem dizer uma palavra e começou a ir em direção a cozinha. ㅡ Espera, Saulo, me desculpa! ㅡ Tentei levantar do sofá, mas a dor no pé era tão forte que assim que eu pus no chão não consegui andar e perdi o equilíbrio.

Porém, pela segunda vez, o Saulo veio até a mim correndo e me segurou antes mesmo que eu caísse no chão. Ergui meu olhar olhando em seus olhos sentindo as suas mãos nas minhas costas.

ㅡ Me salvou pela segunda vez. ㅡ Murmurei rindo, percebendo que ele abriu um pequeno sorriso no canto dos lábios. Mas o seu olhar sombrio ainda estava presente e isso me deixava assustada. ㅡ Por que sempre que eu faço perguntas sobre a sua vida você simplesmente sai me ignorando completamente?

ㅡ É meio que... complicado. ㅡ Saulo respondeu enquanto me ajudava a sentar no chão.

ㅡ Complicado do tipo que dói em apenas falar? ㅡ Encarei atentamente suas expressões.

ㅡ Isso. A minha vida não é uma daquelas histórias que são boas para ouvir, então não quero que você perca seu tempo ouvindo o quanto a vida do Saulo Borges é... complexa. ㅡ Ele respondeu num tom cabisbaixo juntando as pernas e abraçando as mesmas. ㅡ Não gosto de falar da minha vida pessoal para ninguém.

ㅡ Nem para mim, poxa? Eu sou uma curiosa de plantão! ㅡ Exclamei batendo com os meus punhos fechados no chão vendo que o Saulo riu em seguida.

ㅡ Quem sabe um dia. ㅡ Ele abriu um sorriso e, automaticamente, um sorriso involuntário se abriu em meus lábios também. ㅡ Quer qual tipo de comida? Japonesa? Mexicana? Kimbap?

ㅡ Odeio comidas cruas. ㅡ Resmunguei com uma careta. ㅡ Hm... ㅡ Coloquei meu dedo indicador no meu queixo com uma expressão pensativa. ㅡ Eu quero aqueles pratos bem grandes que me deixem satisfeita.

ㅡ Yakisoba? ㅡ Saulo ergueu uma das sombracelhas me fazendo revirar os olhos. ㅡ Ok, ok, eu vou deixar você ir pensando enquanto eu vou lá dentro tomar banho. ㅡ Ele falou se levantando do chão e indo até o banheiro.

ㅡ Espera, mas eu ainda tô... ㅡ Era tarde, ele já tinha entrado no banheiro. Resmunguei revirando os olhos pegando no sofá e tentando me levantar para sentar ali. ㅡ Inferno, Saulo! ㅡ Resmunguei de novo tentando o maior trabalho para subir. Ergui o pé que estava doendo até o sofá, consegui por ele, joguei meu corpo para cima, porém, ouvi uma risada atrás de mim me assustando. Isso me fez cair no chão novamente. ㅡ SAULO!!! ㅡ Gritei vendo ele rir mais em seguida.

Saulo estava em pé me olhando com os braços cruzados e um sorriso convencido.

ㅡ Por que você tá aí parado??? Eu estava tentando subir seu... seu idiota! ㅡ Resmunguei erguendo meu tronco e encarando ele seria. ㅡ Me ajuda!! ㅡ Estendi minha mão.

Ele riu mais uma vez antes de pegar na minha mão para me ajudar, porém, eu fui mais rápida e o puxei para o chão. Só que ele foi tão rápido que puxou meu braço junto e nos dois, novamente, caímos no chão. Só que dessa vez não caímos um do lado do outro com quase meio metro nos separando.

O Saulo tinha me puxado com tanta força que eu me bati contra seu corpo e os nossos rostos ficaram tão próximos que eu pude sentir sua respiração na minha pele. Meus olhos pararam automaticamente nos dele, minha boca secou, minhas pernas bambearam e o meu coração... palpitou.

Naquele momento, eu pensei em empurra-lo dizendo que ele não deveria estar tão próximo assim de mim. No entanto eu parei de raciocinar quando nossos rostos começaram a se aproximar mais.

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Um Teto para DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora